A tradição começou em 1841, com a publicação do conto Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, em um periódico da Filadélfia, o Graham's Magazine. O autor é considerado o precursor da literatura policial, para a qual muitos torcem o nariz, alegando que se trata de literatura de segunda categoria. Eu adoro!
Penso que há boa e má literatura, isso sim; um romance policial bem escrito é fonte de grande prazer para mim. E não tenho dúvida de que há bons romances policiais na literatura brasileira.
Luiz Alfredo Garcia-Roza é um bom exemplo, prolífico autor de títulos como O silêncio da chuva, Achados e perdidos, Vento sudoeste, Uma janela em Copacabana, Perseguido, Berenice procura, Espinosa sem saída, Na multidão, Céu de origamis, Fantasma, Um lugar perigoso, A última mulher.
Garcia-Roza foi professor de Psicologia e Psicanálise, tendo deixado importantíssima literatura sobre estas especialidades. Intelectual, humanista, aos 60 anos de idade resolveu escrever ficção, gesto de coragem, liberdade e independência de pensamento – a certa altura ele afirmou que se cansou da Academia –, fazendo enorme sucesso. O Silêncio da chuva, seu primeiro romance, ganhou o Jabuti.
Seus livros desencadearam grande popularidade do protagonista Espinosa, detetive culto, leitor compulsivo, metódico ao extremo – quem não se lembra dos livros empilhados na parede da sala? – sempre perambulando pelas ruas de Copacabana. Garcia-Roza morreu aos 84 anos, em abril de 2020, e deixou saudade.
Mais recentemente li e gostei muito de autores como Guillermo Martínez (Crimes imperceptíveis), Alberto Mussa (O senhor do lado esquerdo e A hipótese humana), Kucinski (Os visitantes); agora acabo de me deliciar com Baixo esplendor, de Marçal Aquino (Companhia das Letras, 2021).
Assim tem início a história:
“Numa das operações que atuou como infiltrado, o alvo era uma quadrilha de ladrões de carga que agia em diversos lugares do país. ... Ele levou quase três meses para conseguir entrar. Começou frequentando um salão de bilhar na parte velha da cidade, onde, de acordo com a dica de seu informante, integrantes do bando costumavam aparecer. Demorou, ele teve paciência, bebeu litros de rabo de galo, pagou inúmera rodadas de cerveja e houve tempo ainda para recuperar a velha forma no jogo de sinuca, paixão de juventude. Até a noite em que se viu compartilhando o feltro verde de uma mesa com dois desses homens, Ingo e Moraes. Usava nessa operação o codinome Miguel, homenagem a um amigo que ladrões tinham matado ao descobrir que assaltavam um policial.”
Marçal Aquino, paulista de Amparo, é jornalista, roteirista, com livros publicados na Alemanha, Espanha, França, México, Portugal, Suíça; após 16 anos retorna ao romance policial, em grande estilo. Baixo Esplendor é sensacional, para quem aprecia o gênero.