Três
aspectos se destacam em Julieta, o novo filme de Almodóvar: a complexidade da
trama, inspirada (ou adaptada) em três contos de Alice Munro; a beleza plástica
das cenas; e o esmero com que o filme foi produzido.
A história, que não poderia deixar
de ser dramática, sendo de Almodóvar, prende o expectador do início até o
último segundo. Os acontecimentos se sucedem vertiginosamente, mal há tempo
para respirar. Os temas centrais do filme são o sofrimento e a culpa. (Até
mesmo o suicídio pode ser fonte de culpa.) As relações sempre conflituosas
entre pais e filhos constituem outro polo importante da história. Ao final há
uma mensagem que classifico de “religiosa”: só o sofrimento redime. Embora
dramático, o filme é contido. Nada daquele Almodóvar espalhafatoso dos
primeiros filmes. Há sofrimento, mas o expectador não precisa chorar.
Poucas vezes vi um filme de tanta
beleza plástica! Cada cena combina com perfeição os objetos e as cores, mais
uma vez nada exagerado, tudo em seu lugar, de extremo bom gosto. A corrida de
um alce sobre a neve, acompanhando um trem em movimento, compõe cena
antológica, a entrar para a história do cinema. Arte pura!
A trilha sonora, embora de boa
qualidade, não consegue acompanhar a beleza das imagens (o diretor bem que
podia ter pedido ajuda ao Tarantino).
O cuidado com a produção e edição é
notável, e pode ser visto em cada cena (Julieta é para ser visto várias vezes).
Cada ator foi escolhido a dedo para o respectivo papel. O destaque vai para as
duas Julietas; a mais nova, Adriana Ugarte, é de uma beleza inebriante, tão
linda que dá raiva, costuma dizer um amigo psicanalista, e quando ela sai de
cena, o expectador tem vontade de ir com ela; a Julieta mais velha, Emma
Suárez, também lindíssima, tem atuação brilhante,
decisiva para o bom desenvolvimento da trama.
Filme maravilhoso, em minha opinião
o melhor que já criou o grande Pedro Almodóvar!