Morreram recentemente, em curto espaço de
tempo, alguns de forma trágica ou violenta, Eduardo Coutinho, Philip Seymour
Hoffman, José Wilker, Gabriel García Márquez, Jair Rodrigues, Alan Resnais,
Paco de Lucia, Shirley Temple, Luciano do Valle, Nadine Gordimer, Paulo
Goulart, Bellini, James Garner, Rose Marie Muraro, Max Nunes, Plínio de Arruda
Sampaio, Lauren Bacall, Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna,
Robin Williams, Eduardo Campos. Perdoem-me os mortos não citados; não que os desmereça,
mas são tantos.
Algumas
mortes causam perplexidade antes de tudo. Chocam pelo inesperado, como se, por
uma razão ou outra, o morto estivesse acima do bem e do mal, e fosse imortal. A
culpa não é do morto, nós é que nos iludimos. Quando ouvimos a frase Ninguém
esperava que ele morresse, estamos falando da nossa própria fantasia de
imortalidade.
É preciso a
morte inesperada, abrupta e violenta de uma personalidade de projeção nacional
para que as pessoas se deem conta do imponderável da vida. Mas este mesmo
imponderável está presente cotidianamente na vida de todos nós, e não nos damos
conta disso, ou não queremos nos dar conta; às vezes, apenas não podemos. É
muito forte, porque trata-se de uma defesa, a ilusão de que temos o controle
sobre nossa própria vida.
Faz parte desta ilusão a busca e a crença
em um determinado sentido para a vida. Creio que o sentido da vida é a falta de
sentido da vida. E reconheço que esta não é uma ideia fácil de ser aceita pelo
ser humano, que perde assim o apoio da ilusão de um deus-pai que tudo e a todos
provê. Não há mais o consolo da religião, e ninguém gosta de ouvir A vida é
assim mesmo!, pois isso não consola nos momentos de dor.
De qualquer modo, certas mortes servem
para nossa reflexão, cada um com suas convicções, é verdade, mas sempre com a
possibilidade de pensar sobre elas, com liberdade e sem dogmatismos.