Primeira imagem do buraco negro supermassivo
Sagitário A*, no centro da nossa galáxia - EHT
“Pela primeira vez, astrônomos conseguiram registrar a região de sombra do buraco negro gigante que mora no coração da nossa galáxia, a Via Láctea. O resultado, obtido pelo consórcio internacional EHT (sigla inglesa para Telescópio do Horizonte dos Eventos), foi apresentado em evento organizado em Washington pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA. (12 mai 2022)
O nome do projeto, que tem a liderança de pesquisadores do Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian, faz alusão à fronteira matemática que separa o ponto de não retorno de um buraco negro. Cruzado o horizonte dos eventos, a gravidade do objeto é tão grande que nada pode escapar dele, inclusive a luz. Daí vem o nome dessa classe de astros, bem como sua aparência esperada: uma sombra escura, correspondente à região de onde a luz não pode mais escapar.
A previsão da aparência visual de um buraco negro se tornou realidade observada em 2019, quando a equipe do EHT apresentou a primeira imagem direta da sombra de um buraco negro –no caso, do objeto gigante que mora no coração da galáxia M87, a 53,5 milhões de anos-luz de distância, com massa equivalente à de 6,5 bilhões de sóis.
Foi o ponto culminante de um trabalho de décadas, explorando uma técnica conhecida como interferometria de base muito longa, cujo objetivo é combinar observações feitas por vários telescópios avulsos separados por longa distância em uma única imagem. Isso equivale, grosso modo, a ter um telescópio cuja área é do tamanho da maior distância entre os diferentes elementos.
A primeira observação da equipe do EHT foi realizada em 2006, e os dados que geraram a imagem do buraco negro gigante de M87 foram colhidos a partir de oito conjuntos de radiotelescópios, espalhados por Europa, Estados Unidos, Chile e até mesmo o polo Sul. Na prática, foi como ter um telescópio do tamanho da própria Terra. E só assim foi possível detectar a sombra do objeto.
O plano original sempre foi mirar dois objetos: além do buraco negro de M87, o alvo mais óbvio –o buraco negro do centro da nossa própria galáxia, objeto conhecido como Sagitário A* (pronuncia-se "a-estrela" e, claro, está na constelação de Sagitário). Só que ele se mostrou mais desafiador. Apesar de muito mais perto, a cerca de 30 mil anos-luz da Terra, ele também é bem menor, com massa de 4 milhões de sóis.
Isso, por sua vez, faz com que o gás cercando o buraco negro, prestes a cair nele em velocidades próximas à da luz, completasse uma volta ao redor de Sagitário A* em questão de minutos. Isso criava complicações para enxergar a sombra do buraco negro, em comparação com o que foi feito com M87, onde o gás, embora viajando à mesma velocidade, levava muito mais tempo para circular o horizonte dos eventos.
Em 2019, o grupo do EHT disse ter resultados de Sagitário A*, mas mais difíceis de processar. E ninguém sabia àquela altura o quanto seria possível extrair dos dados, apresentados agora. "O resultado foi uma imagem que, até terminarmos a análise, não tínhamos certeza de que poderíamos obter", disse Vincent Fish, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Agora, temos pela primeira vez uma visão próxima do monstrengo que mora no coração da nossa galáxia.
"São agora dois laboratórios para testar nossas predições", disse Feryal Özel, da Universidade do Arizona, ao apresentar a nova imagem, ao lado da imagem do buraco negro de M87. De acordo com ela, a imagem segue muito de perto o que previa a relatividade geral de Albert Einstein, nossa melhor compreensão da gravidade.
A análise completa dos resultados foi publicada em uma edição especial do periódico The Astrophysical Journal Letters.”