Pesquisa realizada
por cirurgião da Universidade Federal
de Pernambuco constatou
bactérias em 44 celulares
de profissionais que
atuam em sala de cirurgia
Foto: Michaela Rehle /
Reuters
O colunista
passa um pito nos cirurgiões! Não é de hoje que se fala no assunto dentro e
fora dos hospitais, e em particular entre os cirurgiões, os que estão mais
diretamente afetados pelo problema, pelo risco de infecção em seus pacientes.
O título do artigo de Hélio Schwartsman
é Por favor, lavem as mãos (Folha de
S.Paulo, 24 mar 2018). O estudo é de Cristiano Berardo, da UFPE, e revela que
88% dos aparelhos celulares que entraram em salas cirúrgicas (hospital do
Recife) estavam contaminados com bactérias potencialmente patogênicas.
O articulista chama a atenção
ainda para outros objetos “perigosos”, como o estetoscópio, jalecos, canetas,
óculos, teclados, mouses, gravatas. (“Um estudo inglês de 2007 recomendou que
médicos deixassem de usá-las. Ao contrário de jalecos, elas quase nunca são
lavadas.”)
Schwartsman destaca então a
importância da lavagem das mãos, com o objetivo de evitar as infecções. Porém,
mesmo em hospitais de países desenvolvidos as regras de boa higiene não passam
de 50%. E ele conclui: “É impressionante que, 150 anos depois de o húngaro
Ignaz Semmelweis (1818-65) ter demonstrado a importância de os médicos
desinfetarem as mãos, grande parte dos profissionais da área não tenha
incorporado a prática a suas rotinas. É a prova de que nossos vieses são mais
fortes que a informação — e essa certamente não é uma boa notícia.”
Durante
muitos anos, ao exercer atividade docente na Universidade de Brasília,
costumava dizer aos alunos que bactérias não têm asas nem pernas, e colocadas
num determinado lugar, dalí não saem, a menos que algo ou alguém as remova para
outro canto. Para se deslocarem, elas precisam de um fômite. A palavra, originária do plural latino fomites, pavio, é
estranha, pouco conhecida, e precisa ser divulgada.
Fômite é qualquer objeto inanimado
capaz de absorver, reter e transportar organismos contagiantes de um indivíduo
a outro. Como o celular, do qual ninguém desgruda, nem mesmo no banheiro!
O ato de lavar
as mãos requer técnica adequada. (Observo que minha netinha Gabriela, 7, ao
abrir a torneira da pia, passa a brincar com a água que escorre e nem mesmo
esfrega a mão direita na esquerda, sabonete nem pensar, apenas mais uma
brincadeira.) Há uma técnica para tudo e é bom lembrar que as mãos têm 2 faces,
os dedos 4, há muita sujeira debaixo das unhas, tudo precisa ser limpo.
Mesmo
assim, depois de seguidas lavagens, haverá um número ainda maior de bactérias
na superfície das mãos, daí a sugestão de que seja empregada solução de gel e
álcool para desinfecção.
O pito do
colunista da Folha é portanto exemplar! Uma curiosidade: em crônica anterior
ele confessa que traz diversos temas ligados à medicina porque é casado com uma
médica. Obrigado, Doutora!