À hora matinal de sempre, saiu para a caminhada diária.
Percorridos os primeiros passos notou algo de muito estranho, o ar
parado, pesado, as folhas das árvores imóveis. Havia mais alguma coisa, e ele
não sabia o que era.
Ao chegar no final da rua onde morava, pouco antes de dobrar a esquina,
ele descobriu. Os cães não haviam latido, como de costume. Ao contrário,
permaneceram imóveis e em absoluto silêncio durante sua passagem, coisa nunca
vista até então.
Pouco mais adiante notou que os periquitos, maritacas, papagaios,
joões-de-barro, bem-te-vis, toda sorte de aves que normalmente enchiam as
manhãs com seus cantos, naquele dia permaneciam completamente mudos. Ao longo
do trajeto percorrido, sempre o mesmo, três ou quatro galos cantavam
invariavelmente a sua passagem, enfeitando ainda mais as manhãs. Pois naquele
dia também os galos emudeceram.
O ar ficava cada vez mais pesado. Transcorridos os primeiros vinte minutos
de caminhada a falta de ar aumentou, as pernas pareciam de chumbo e mal
obedeciam o caminhante, o corpo todo dolorido, uma náusea insuportável fez com
que ele parasse por alguns minutos. Um suor gelado escorria-lhe pelas têmporas,
a cabeça latejava, e ele pensou que não chegaria ao fim daquela caminhada.
O céu tomado por nuvens carregadas ameaçava tempestade. Bom que
chovesse, ele pensou, o ar ficaria mais limpo, mais respirável. Mas nem uma
gota caía do céu, a atmosfera cada vez mais opressiva.
Mesmo assim, caminhou, caminhou, caminhou.
Perto de retornar à casa atinou com a razão de tantos e tamanhos e
fantásticos estranhamentos. Era Primeiro de Abril! Então lembrou-se que, há
muitos anos, não recordava quantos, ele havia morrido num Primeiro de Abril.
Mas pouco antes de abrir o portão de
casa os cães de sua rua voltaram a latir.