O título da reportagem de Paula
Sperb para a Folha de S. Paulo desta sexta-feira (4/9) diz tudo: Universal
é condenada a indenizar fiel no RS por prometer cura do HIV.
Lucas
(nome fictício), gaúcho de 36 anos, foi convencido pela Igreja de que se
livraria do HIV só com a fé em Deus – e doações à Igreja, naturalmente.
Em 2005 ele descobriu que tinha o vírus
e iniciou o tratamento médico. Fragilizado pela doença, Lucas passou a
frequentar a Universal e quatro anos depois parou de tomar os remédios e passou
a fazer sexo sem camisinha com sua mulher. Relata ainda que "Os pastores
diziam que a medicina estava desatualizada, levavam testemunhos de gente que se
curou de câncer, Aids. Quando as pessoas não aceitam doar seus bens, dizem que
tem um espírito ruim que não está permitindo".
“Dois meses depois de interromper o
tratamento, Lucas foi internado com pneumonia grave. Ficou em coma induzido por
40 dias e saiu do hospital após quatro meses, com metade do peso normal.” É o
que afirma a repórter Paula Sperb.
Por decisão judicial a
Universal terá de pagar uma indenização de R$ 300
mil a Lucas, mas ainda pode recorrer ao STJ. Para a Justiça, "Não há nada
contra a fé, mas contra a forma abusiva de induzir as pessoas a abandonar o
tratamento em nome da fé", disse à Folha o desembargador Eugênio Facchin
Neto. No acórdão, o juiz escreveu que a responsabilidade da Universal
"reside no fato de ter se aproveitado da extrema fragilidade e
vulnerabilidade em que se encontrava o autor, para não só obter dele vantagens
materiais, mas também abusar da confiança que ele, em tal estado, depositava
nos 'mensageiros'".
A Igreja Universal do Reino de Deus
declarou que os pastores "apenas pregam a possibilidade de cura das
enfermidades, de acordo com as orientações bíblicas, mas não prometem
cura".
O juiz baseou sua decisão em um
"conjunto de evidências, testemunhas, vídeos de cultos com depoimentos de
cura e pedidos de doações, reportagens sobre extorsões de bens por pastores e
até uma "aula" em que o bispo Edir Macedo ensina outros pastores a
arrecadar dinheiro dos fiéis.”
Não há
dúvida de que a Universal irá recorrer da sentença. Com bons advogados,
regiamente pagos com o dinheiro dos próprios fieis, é bem provável que a Igreja ganhe
a causa, para desespero de Lucas e sua família.
Este, certamente, não é um caso
isolado. A ignorância, a boa fé das pessoas, a fragilidade emocional ocasionada
pela doença, o cenário “milagroso” muito bem urdido pela Igreja Universal do
Reino de Deus são os principais fatores que levam a essas tragédias familiares.
Só mesmo
perguntando como o Papa Bento XVI, em visita ao campo de concentração de Auschwitz:
“E Deus, onde estava?”