A Origem do Mundo
Gustave
Courbet (1819 - 1877) foi um pintor francês
da escola realista, especialista em retratar a vida camponesa.
A Origem do Mundo foi pintado por ele em 1866, a pedido do diplomata turco
Khalil-Bey, colecionador de arte erótica. O diplomata, arruinado pelo jogo, vendeu
sua coleção, e A origem do mundo foi comprado por um antiquário e escondido atrás
de outro quadro de Courbet.
No
início do século XX foi adquirido por Émile Vial, cientista e colecionador de
arte japonesa.
Por
volta de 1910, o barão François de Hatvany, aristocrata e colecionador húngaro,
adquiriu-o e levou-o para Budapeste. Parte de sua coleção foi roubada pelo exército
russo durante a II Guerra Mundial, mas o quadro foi recuperado pelo proprietário.
A
pintura acabou na casa de campo do psicanalista francês Jacques Lacan, e
permanecia escondido por trás de uma pintura de madeira. Parece que,
ocasionalmente, Lacan o mostrava a amigos.
Após
a morte da viúva de Lacan em 1994, o quadro foi doado ao Estado francês, para solucionar
problemas judiciais. Em 1995 a tela foi exposta publicamente pela primeira vez
no Museu d’Orsay, onde se encontra até hoje.
Em
junho de 2014, a artista plástica Deborah de Robertis expôs seu sexo diante do
quadro, à maneira retratada por Courbet, numa
performance intitulada “O espelho da origem”. O que pode ser visto aqui pelos interessados,
testemunhando o reboliço causado na sala do museu: https://www.youtube.com/watch?v=Z0Gt_31vUmY
A
representação explícita da genitália feminina, como mostrada na pintura de
Courbet, parece despertar um certo efeito perturbador sobre as pessoas, algo
que não se pode evitar. Ao menos em público.
Ao
visitar a sala que hoje recebe o nome de A origem do mundo, no Museu d ‘Orsay,
onde o quadro reina majestoso, pudemos observar por vários minutos, a reação
dos visitantes. As pessoas entravam na sala, olhavam para a direita, onde há
dois quadros expostos, e em seguida, quando se deparavam com a obra de Courbet,
desviavam o olhar imediatamente, dando meia volta e deixando a sala
rapidamente. A cena repetiu-se incontáveis vezes diante de nós, não restando
qualquer dúvida sobre o desconforto experimentado pelos expectadores.
As
causas deste comportamento não estão bem esclarecidas. Freud fala da chamada
“cena primária”, assim definida por Laplanche e Pontalis:
“Cena de relação sexual entre os
pais, observada ou suposta segundo determinados índices e fantasiada pela
criança, que é geralmente interpretada por ela como um ato de violência por
parte do pai.”
Laplanche
e Pontalis, em Vocabulário da Psicanálise (Martins Fontes, 2001) complementam
esta ideia:
“Além da discussão sobre as partes
relativas do real e do fantasístico na cena originária [ou primária], o que
Freud parece ter em vista e querer sustentar..., é a ideia de que esta cena
pertence ao passado – ontogênico ou filogenético – do indivíduo e constitui um
acontecimento que pode ser da ordem do mito, mas que já está presente, antes de
qualquer significação introduzida a posteriori.”
(O
excelente filme Anticristo, do diretor dinamarquês Lars von Trier, tem início
com uma cena de sexo explícito entre o casal (Willem Dafoe e Charlotte
Gainsbourg) e observada pelo filho pequeno, que se suicida em seguida. Não há
quem permaneça indiferente à cena.)
É
preciso ir a Paris para conhecer A origem do mundo.
Foto: A.Vianna, maio 2015.