Ao meu amigo Leopoldo,
admirador Oliver Sacks
O livrinho tem menos de 60 páginas e traz 4 pequenos ensaios sobre a
vida e a morte – o que vem a ser a mesma coisa.
Gratidão, de Oliver Sacks,
acaba de ser lançado pela Companhia das Letras (novembro de 1015), em pequeno
formato (18x13), capa dura (falta-lhe o cabeceado), sobrecapa colorida de azul,
e tradução de Laura Teixeira Motta. Um primor!
Os ensaios recebem os sugestivos títulos de Mercúrio, My own life, Minha tabela periódica e Shabat.
Sacks, nascido em Londres em 1933, fala de temas difíceis como a
velhice, doença, religião – nascido judeu, tornou-se ateu –, o sentido da vida,
quando presta homenagem a Sigmund Freud, ao manifestar gratidão por ter
conseguido as duas coisas mais importantes da vida, amar e trabalhar.
Fala de sua sexualidade com franqueza e naturalidade, ao relatar episódio
marcante em sua juventude, exatamente aos 18 anos de idade:
“Foi quando meu pai, ao indagar sobre
meus sentimentos sexuais, me impeliu a admitir que eu gostava de rapazes.
“É só uma sensação, nunca ‘fiz nada’,
eu disse e acrescentei: ‘não conte para mamãe: ela não aceitaria”.
Ele contou, e na manhã seguinte ela
desceu com uma expressão horrorizada e gritou para mim: “Você é uma abominação.
Quisera que você nunca tivesse nascido.” [Sem dúvida ela estava pensando no
versículo do Levítico que diz: “O homem que se deita com outro homem como se
fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e o seu
sangue cairá sobre eles.”
(Que horror!)
Apaixonado pela Ciência, ele mesmo
um homem de ciência, praticou a neurologia clínica por quase 50 anos.
Destacou-se ainda como grande contador de histórias, coisa rara entre os
cientistas.
Ao descobrir a presença de um câncer
agressivo, de difícil tratamento, Sacks reconhece uma reviravolta em sua vida,
mas não perde o entusiasmo por viver. Parece que, ao contrário, passa a
valorizar cada segundo como um bem precioso.
Encerro essas notas com o texto que
compõe a contracapa do livro, o autor já próximo da morte:
“Não consigo fingir que não estou com
medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado, recebi
muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi. Tive meu intercurso com
o mundo, o intercurso especial dos escritores e leitores.”
Os leitores é que devemos ser gratos
à existência de um homem tão especial como Oliver Sacks.