Talvez
Truman pudesse ser visto como um filme comum, já que o tema de que trata é frequente
no cinema, não fora a interpretação magistral, inesquecível, digna de todos os
prêmios, do argentino Ricardo Darin, com roteiro e direção do espanhol Cesc Gay.
Julian (Darin) é um ator de teatro
que vai morrer em breve. Um câncer disseminado o leva a recusar qualquer outro
tipo de tratamento, o que o condena à morte num período de tempo relativamente
curto.
Julian tem um cachorro chamado
Truman e um grande amigo, Tomás (Javier Cámara), que o visita por quatro dias, vindo
de um país distante. O animal e o amigo criam o fio condutor da narrativa.
Serão quatro dias vividos com grande
intensidade, com toques de humor, muita sensibilidade, sem descambar para a
pieguice ou mau gosto, em torno da perda gerada pela morte.
A relação de Julian com seu cão
presta-se perfeitamente para o tratamento do tema perda. Aqueles que convivem com seus cães por muitos anos sofrem
terrivelmente na hora da morte do animal. Diante desta perda, alguns adquirem
outro cachorro, seguros de que um dia voltarão a sofrer com a morte dele.
Outros afirmam que jamais terão outro animal de estimação, pois não suportariam
vivenciar a perda novamente.
Mas não é assim a vida, uma sucessão
de perdas desde que nascemos? Aí entra outro aspecto decisivo do filme de Cesc
Gay: Tomás, o amigo, aceita a opção
feita por Julian, a de recusar outras formas de tratamento, e permanece a seu
lado, amorosamente, sem criticá-lo, sem tentar fazê-lo mudar de atitude, uma
verdadeira e rara amizade.
Porém é a interpretação de Ricardo Darin,
volto a enaltecer, que emociona o expectador. Sua expressão corporal, os silêncios,
a expressão ora de raiva, ora de revolta, a resignação, o amor pelo cão, a
confiança que deposita no amigo, são manifestações que emprestam tremenda
credibilidade à trama, fazendo com que o expectador se identifique e se
entristeça profundamente por Julian.
Filme bom é aquele sobre o qual
podemos conversar ao sair do cinema. No primeiro momento o expectador fica
paralisado pelo sofrimento expresso pela trama de Truman, ele precisa de um
tempo para colocar os próprios sentimentos em ordem, para só depois falar do
assunto.
Não há dúvida, o filme é tristíssimo, mas vale a pena chorar por ele.