Recomendei o filme a um amigo, cinéfilo respeitável,
– melhor dizendo, não recomendei, pedi que fosse vê-lo, sem qualquer comentário
adicional – e a resposta que ele me deu define bem o que pensar de Boi Neon:
– Que porra de filme é
esse?
Pois é exatamente a
pergunta que muitos hão de fazer ao final do filme. E isso me parece tão
verdadeiro que, numa entrevista a Renato Hermsdorff (no site Adoro cinema,
15/1/2016), Juliano Cazarré, o protagonista de Boi Neon, em tom provocativo,
afirmou:
– Se estiver achando
ruim, levanta e sai.
Premiado em Veneza (prêmio especial do júri para o
diretor), Toronto (menção honrosa) e no Festival do Rio (filme, roteiro,
fotografia e atriz coadjuvante para Alyne Santana), o longa dirigido por
Gabriel Mascaro chega agora ao Brasil.
Cazarré assim define o
filme:
– O fundamental, para o Gabriel e para mim, é contar
essa história doida, contar essa história torta, questionadora. E as pessoas
vão ter que dormir com esse barulho. Lida com isso! Se tiver achando ruim,
levanta e sai.
Subvertendo as noções
de gênero em pleno agreste, o homem costura e a mulher dirige o caminhão; o
rapaz passa roupa e ela conserta o motor; o vaqueiro alisa o próprio cabelo
e ela gosta do seu pixaim.
Cenas de nudez masculina
(uma ótima tomada dos vaqueiros tomando banho de cuia) e a longa cena sexo com
uma mulher grávida (que apesar de bela, pareceu-me deslocada e sem propósito)
chamam a atenção do público.
A história é bem
contada, às vezes lenta demais, outras vezes doida demais como afirma o próprio
Cazarré (com ótimo desempenho, aliás), e até surpreendente em muitas ocasiões,
o que justifica a pergunta do meu amigo, “Que porra de filme é esse?”
Difícil qualificar Boi
Neon, mas vale a pena assistir.