Alta ajuda é o título do livro
de Francisco Bosco (Foz Editora, 2012), que traz na capa negra apenas uma
escada branca, mais nada, e consegue chamar a atenção de quem passa os olhos
pelas estantes de uma livraria qualquer.
À primeira vista (o potencial leitor ainda passeia pela
livraria em busca de algo interessante e ainda não tomou o livro nas mãos),
trata-se de um trocadilho meio sem graça, mesmo porque autoajuda (refiro-me aos
livros) não tem graça nenhuma. Mas a escada, dessas que se sustentam de pé,
branca, um desenho simples em fundo negro-aveludado, pegou-me pelo pé.
O autor
convida o leitor a subir os degraus por conta própria? Ele sugere que ao subir
a escada é possível ter uma visão mais abrangente da vida? Que desafio nos está
sendo proposto? Autoajuda não é, com toda certeza. Estas foram algumas das
minhas divagações diante do livro ainda fechado. Não o comprei, nem o abri, não
sei por quê.
Meses
depois, em outra cidade, em outra livraria, eis o livro novamente diante de
mim, com o mesmo título sem graça e sua escada provocadora. Desta vez, abri-o,
vi do que se tratava, comprei, e aqui o recomendo.
Na apresentação o autor explica que a expressão “alta
ajuda” foi cunhada por José Miguel Wisnik, e que Bosco apenas assinou embaixo.
Como gostei muito do livro, e aprecio o Wisnik, agora passo a considerar o
título como um jogo de palavras, em vez de reles trocadilho. (Assim funciona a
cabeça da gente, guiada por nossas próprias conveniências.) E o autor, carioca,
nascido em 1976, doutor em teoria da literatura, deseja tão somente reunir
“tentativas de iluminação de questões psíquicas, comportamentais, sexuais,
afetivas, em suma, éticas.”
Bosco inicia o primeiro capítulo com título à Montaigne:
Da Amizade, e diz “Meu regime ideal é ficar só – na companhia dos livros –
durante todo o dia. Gosto de gente depois das oito da noite e três cervejas”.
Pronto, a partir daí foi um devorar de páginas.
Os capítulos se sucedem com temas os mais variados: A
fadiga e o casamento, O que é contemporâneo?, Complexo de dálmata, Amar e amor,
Sexo e liberdade, A TV no século XXI, Melancolia, Proust e a música, para citar
alguns deles.
Chamou-me particularmente a atenção A força do pensamento negativo, onde o autor relata: “Nunca li um
livro de autoajuda. Certa vez tentei ler O segredo, porque queria entender como
funcionam esses textos. Achei o livro absolutamente tedioso, ...e ofensivo: não
só à inteligência, mas à experiência humana em geral. A autoajuda prega
basicamente o famigerado pensamento positivo”.
Concordo inteiramente
com o autor: em situações muito difíceis na vida, “o pensamento positivo não é
apenas ineficaz, mas nocivo: ele impedirá, com seus mantras de otimismo escapista, que o sujeito possa ativar os
mecanismos dialéticos da existência, capazes de fazer com que, aprofundando-se,
uma coisa reverta-se em seu oposto.” (O grifo é meu.)
E Bosco
conclui o tema: “Pode ser que em determinadas situações da vida o pensamento
positivo seja recomendado (diante, por exemplo, de doenças graves). Mas, naquelas
situações em que rodamos em círculos dentro de labirintos psíquicos, pensar que
eles não existem não ajuda. O pensamento negativo é a melhor, se não a única
saída: é preciso concentrar as forças para quebrar o muro.”
Isso é alta
ajuda!