terça-feira, 24 de junho de 2014

Arenas: 1001 utilidades


O que fazer com as arenas do Pantanal e da Amazônia após o término da Copa do Mundo? Futebol, lá não haverá jamais. O governo está preocupado com as possíveis críticas. Afinal, de quem foi a ideia de construir estádios milionários que, doravante, servirão para nada?
Por isso, estão pedindo sugestões de aproveitamento destas arenas, e aqui vai minha contribuição.

1. Trocar a grama por capim e botar gado para engordar.

2. Construir ocas e demarcar o terreno como reserva indígena.

3. Plantar trigo para baratear o pãozinho francês.

4. Transformar os campos em sambódromos. As campeãs do Rio e São Paulo desfilarão por lá duas semanas depois do Carnaval.

5. Doar a área para os sem-terra e sem-teto.

6. Preencher o campo com escritórios de advocacia, após certificar-se de que os dignos profissionais vão defender o governo nos possíveis processos.

7. Trocar a grama por um piscinão, como o de Ramos, no Rio de Janeiro.

8. Doar a área para construção de templos evangélicos.

9. Transformar os gramados em campos de golfe (basta cavar os buraquinhos!) para fazendeiros abastados.

10. Deixar tudo como está, para jogos entre casados e solteiros ao fim de cada ano.

11. Esperar pela próxima Copa do Mundo no Brasil, em 2070.

12. Utilizar para shows do Roberto Carlos no Natal.

13. Aproveitar as áreas para construir grandes escolas, do maternal ao curso superior, com ensino padrão FIFA. Esta última sugestão, faço-a sem qualquer expectativa de que seja aceita, pois é de grande risco. Se o povo for educado, ele não aceitará mais tanto desperdício de dinheiro, na construção de tais arenas.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Zero a zero ou Conflito e capacidade de pensar


              A propósito do sofrido empate sem gols contra o México, ocorreram-me várias associações de ideias, a partir da identificação de determinados sentimentos em um acalorado torcedor, eu mesmo.
            Terminado o jogo, a sensação era de vazio, incompreensão, pasmo, perplexidade, frustração, alívio, tristeza, raiva. (A raiva mais primitiva – o pleonasmo é intencional – é a responsável pelo insano quebra-quebra tão frequente após o término de certos jogos, especialmente aqueles entre torcidas organizadas rivais. Os trens e ônibus pagam o pato, quando não algum torcedor do time adversário, confundido com um real inimigo.)
O torcedor estava confuso, tantos e tão díspares os sentimentos a ocuparem-lhe a mente. A expressão pode parecer forte, mas tomada nas devidas proporções, me parece adequada: havia um estado de confusão mental, não completamente percebido pelo torcedor. Vamos dar a esta confusão o nome de conflito e tentar compreendê-lo melhor.
            Mais tarde, decompostas tantas emoções, o torcedor percebe que dois sentimentos prevaleciam. Por um lado, a frustração, pela ausência da tão almejada vitória. O torcedor sente na própria pele, como se fosse ele o derrotado, e isso dói. Não se conforma com o resultado, Não é possível, Como isso foi acontecer?, Se o goleiro não tivesse defendido aquela cabeçada, Se o Brasil tivesse chutado mais a gol, Se o juiz... Intermináveis ses, numa sucessão de delírios, próprios de quem momentaneamente não é capaz de pensar.
            Por outro lado, houve sensação de alívio quando o jogo terminou – graças a deus!, diriam alguns –, porque o escrete não perdeu. O Brasil só não podia perder, e um empate não foi um resultado tão ruim. Ainda nos resta uma terceira partida, etc etc etc.
           
            Mudemos de cenário completamente. O casal amoroso deixa a filhinha de 3 anos com os avós, pois deseja um merecido fim de semana de descanso e intimidade. Durante 3 dias, recebedora de mimos e agrados, a criança comporta-se maravilhosamente bem, sempre alegre, comunicativa, cooperando em tudo para a felicidade dos avós e a sua própria. De tempos em tempos ela pergunta pela mãe, cheia de saudade. Quando a mãe chega ao final do domingo para reaver a filha, esta recebe os pais de forma agressiva, faz manha, birra, malcriação, às vezes chega a agredi-los fisicamente, em meio à convulsa crise de choro, esperneios e ranger de dentes. No dia seguinte, nada mais resta de tal comportamento e a vida volta ao normal.
            O conflito vivido pela criança é de fácil percepção pelos avós, e nem tanto pelos pais, que podem sentir-se culpados por terem se ausentado, ainda mais para benefício próprio. Ao mesmo tempo que está feliz com o regresso dos pais, a criança tem muito medo que eles voltem a se ausentar (o que significa, para ela, perdê-los para sempre). Em suma, o eterno conflito entre Amor e Ódio. A diferença entre o adulto e a criança reside no fato de que esta não é capaz de pensar, decompor seus próprios sentimentos, identificando-os, para poder lidar com eles. Alguns adultos podem.

            Um terceiro cenário, ainda mais dramático, pode ser identificado quando um membro da família, portador de doença incurável, depois de longo e doloroso sofrimento, vem a falecer. Mais uma vez podem estar presentes a Perda e o Alívio, fontes determinantes de conflito para os parentes próximos, muitas vezes incapazes de lidar com o luto sem algum tipo de ajuda psicológica.
            A solução do conflito passa pela capacidade de pensar. É preciso levar em conta as circunstâncias, sempre. No primeiro exemplo, há que se considerar que o time adversário jogou muitíssimo bem, movido pelo mito de que endurece todos os jogos contra o Brasil. No segundo, para uma criança pequena, o medo do abandono significa ameaça de morte, pois ela ainda não é capaz de sobreviver sem os cuidadores. No terceiro caso, há que se considerar que a Morte é algo muito difícil de ser pensado pelo ser humano, que se deseja imortal.
            Se num determinado momento não é possível pensar, melhor permanecer em silêncio, na expectativa de que passe a turbulência.
            Quando as circunstâncias podem ser consideradas, e isso é próprio das mentes abertas a novas ideias, aquele que pensa pode encontrar alternativas para seu próprio desconforto psíquico e assim livrar-se dele. Em oposição, as pessoas de mente fechada, dogmáticas, religiosas (nesse sentido), fundamentalistas, permanecem presas numa mistura de emoções indecifráveis, capazes de tecer uma perversa teia que as mantém prisioneiras de si mesmas, presas fáceis da depressão.
           
(Para este torcedor e pobre cronista do cotidiano, escrever é de grande valia nesse processo de organizar o pensamento. Eu recomendo.)

            Bem, esperemos que o Brasil vença o próximo jogo.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Alemanha atropela Cristiano Ronaldo


           1. A Alemanha atropelou Portugal.
Logo no início, um pênalti no mínimo discutível, inexistente no meu ponto de vista (esta é a Copa dos pênaltis), talvez por imprudência do zagueiro português: 1 a 0. Depois do segundo gol alemão, Portugal desabou. A expulsão de um defensor luso, Cristiano Ronaldo fazendo beicinho o tempo todo, reclamando dos companheiros, duas substituições por contusão, os portugueses correndo feito baratas tontas diante do sólido time alemão, de ótimo toque de bola, esquema tático bem definido e jogadores de muita categoria, tudo isso desmoralizou Portugal. Müller, com três gols, é candidato a artilheiro da Copa.  
No segundo tempo os dois times combinaram: os patrícios garantiam o placar de 3 a 0, para não piorar muito o saldo negativo de gols, e os germânicos descansariam, guardando-se para o vatapá com cerveja à noite, porque a Bahia, meu rei, é bom demais! Mesmo assim, saiu mais um gol para a Alemanha, fortíssima candidata ao título, juntamente com França, Itália e Holanda. Portugal ainda tem boa chance de classificação, jogando contra Gana e Estados Unidos.
O Brasil? Vamos ver.

       2. Do latim pila surgiu a palavra péla, bola de couro. Daí a pelada, jogo de futebol ruim, com jogadores de baixa qualidade, num campinho qualquer. Pois a partida entre Irã e Nigéria não merece nem mesmo a denominação de pelada. Foi o primeiro 0 a 0 da Copa (este placar não é o problema: o 0 a 0 contra a Inglaterra em 58 foi um jogo sensacional), mas ocorreu por absoluta incompetência para o gol de todos os jogadores em campo. Uma vergonha. A torcida vaiou, e a Presidenta não estava lá.

       3. Gol aos 28 segundos de jogo é uma anomalia que desmonta qualquer time. Foi assim com Gana, contra os Estados Unidos. O restante – todo ele – do primeiro tempo foi dominado pelos africanos, péssimos nas finalizações. No segundo tempo Gana continuou mandando no jogo, desperdiçando chances de gol, até que marcou já nos minutos finais. Pois não é que os gringos desempataram com um gol de cabeça de um beque grandalhão! Injustiça? Não, futebol é assim mesmo. Mas foi um bom jogo desse ver.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Domingo de Copa


             1.  Para quem esperava o ferrolho suíço (os mais jovens provavelmente não conhecem a expressão), os europeus surpreenderam com um futebol ofensivo, aberto, veloz, virando o jogo e vencendo o Equador por 2 a 1, o último gol já na prorrogação.
Continuo usando a palavra “prorrogação”, gosto dela, trago-a comigo desde a infância, e não vou abandoná-la só porque agora foi condenada pelos comentaristas esportivos, que falam em “acréscimos”. Todo mundo entendia o que se queria dizer com prorrogação. 
           Aconteceu o mesmo com a expressão "risco de vida"; todo mundo sabia que se tratava de risco de morte, mas alguém resolveu ser realista e condenou-a, passando a falar em "risco de morrer". É a mania do certo e do errado.
           A língua é viva, fazer o quê! E eu sou teimoso...
Voltando ao jogo, os equatorianos não jogaram mal, faltou apenas um pouco de coragem para atacar a Suíça. E técnica, é claro.
            
          2. Desde os amistosos pré-Copa que a França vem jogando um futebol eficiente, com ótimo conjunto, harmonia entre defesa, meio de campo e ataque, obtendo resultados impressionantes, como o 4 a 0 contra a forte Noruega. Ontem passou fácil por Honduras: 3 a 0, com dois de Benzema, bom centroavante, o primeiro de pênalti bem marcado (enfim!). França, forte candidata ao título.
            Pela primeira vez entra em campo a tecnologia a favor da precisão no resultado das partidas. No segundo gol da França, a bola bate na trave, rola sob a linha de gol, choca-se contra o goleiro e entra. Entra? O chip instalado na bola garante que sim. As imagens não deixam dúvida. Fácil demais! Sem discussão. É isso o futebol? Não, respondo com convicção. Futebol é um jogo onde não há necessidade de tamanha precisão. Se não, depois vamos conversar sobre o quê? Qualquer dia desses vão inventar um juiz eletrônico para apitar os jogos. Assim caminha a Humanidade...
            (Numa próxima crônica, se o gol for anulado contra o Brasil por causa desse chip, defendo o ponto de vista contrário ao que acabo de expor. Paixão é paixão.)
            
            3. O jogo mais interessante do domingo foi entre Argentina e Bósnia-Herzegovina. Podia acontecer de tudo, mas deu o mais provável: 2 a 1 para os companheiros de Messi. Jogo insosso, morno, sem graça, que começou com um gol contra logo aos 2 minutos, e que esfriou demais os bósnios. Logo no início do segundo tempo, outra paulada: belo gol de Messi. Daí pra frente não houve mais nada que prestasse. Nem o golzinho dos balcânicos animou o time, pregado em campo. Mas o Maracanã estava lindo!
            Se jogar assim contra o Brasil, a Argentina leva uma surra, dirão os ingênuos. Contra o Brasil, os argentinos vão suar sangue e ranger os dentes. E morder de vez em quando.

domingo, 15 de junho de 2014

Os ingleses não aprendem...


              1. Difícil acreditar que foram os ingleses que inventaram o futebol. Se inventaram, nunca aprenderam a jogá-lo. Mas até que surpreenderam no último jogo contra a Itália, com bonitas trocas de passes, jogadas bem armadas, um belo gol de bate-pronto, e não apenas aqueles costumeiros e sofríveis centros para a área adversária, na esperança de um cabeceio de um inglês grandalhão. Mas não foi o suficiente para ganhar.
            A Itália suou, mas foi de calor, não é mole jogar na Amazônia, e ganhou com relativa facilidade. Para minha surpresa, o time não recuou depois do primeiro gol, continuou jogando um futebol franco, aberto, tranquilo, o que facilitou de certo modo o gol de empate dos ingleses.
Os italianos desempataram com facilidade, numa deixada espetacular de Andréa Pirlo (abrir as pernas tem muitos significados...). A Itália jogou o suficiente para vencer de 2 a 1, seleção que tem camisa e se apresenta como forte candidata ao título.

2. Nada de anormal na vitória de 3 a 0 da Colômbia sobre a Grécia, esta talvez forte candidata ao pior time da Copa.

3. Vamos às zebras.
Proclamado o Grupo da Morte – Inglaterra, Itália, Chile e Costa do Marfim –, ninguém contava que esta última fosse a morada da Morte. O Uruguai foi o primeiro a cair nas garras da Morte. (Mas esta é ainda a primeira rodada.)
O Uruguai, que também chegou ao Brasil cantando de galo, fazendo constantes alusões à copa de 50 (quando eles dizem que gostariam de fazer uma final contra o Brasil no Maracanã, estão fazendo alusão à copa de 50; ou isso está na minha cabeça?). Com a primeira expulsão da Copa, saíram de campo murchos os uruguaios, em que pese minha enorme simpatia por José Mujica.

4. O Japão nunca jogou futebol (eles correm atrás da bola), mas perder para a Costa do Marfim foi demais! Perdeu de virada, 2 a1, de um time cheio de vontade (por isso o jogo foi bom de assistir) mas sem técnica alguma. Dois pernas de pau.

De qualquer maneira, ótimos jogos neste sábado, terceiro dia de Copa. Para quem disse e diz “não vai ter copa”, os jogos até agora têm sido ótimos.