Dentre as várias possibilidades que temos apresentado aqui, na
relação do médico com o chamado paciente terminal, há uma que se destaca pela frequência
com que ocorre, além do apelo emocional que provoca. O paciente pergunta ao seu
médico, Doutor, o que eu tenho. Ao mesmo tempo, a família, que foi informada
antes do próprio paciente, pede ao médico, Doutor, não conte nada ao José, nós
temos medo que ele faça uma besteira.
Mas nosso paciente, o José, insiste em saber a verdade. E, agora
não resta dúvida, é um direito seu.
Mais uma vez, apelamos para a arte da conversa. Parece que, em
tais circunstâncias a angústia maior está com a família e é ela que requer a
atenção e cuidado do médico. Não é difícil explicar que é um direito do José
informar-se a respeito da natureza da doença dele, e que a família não pode
impedi-lo. Se a notícia é oferecida de maneira adequada, se a disponibilidade
do médico é evidente, se o paciente confia em seu médico, se o apoio familiar
estiver presente, o suicídio não é uma atitude frequente nesses casos, o médico
deve tranquilizar a família.
A conversa mais uma vez deverá realizar-se na presença do médico,
do paciente e de algum familiar que disponha de maior tranquilidade emocional.
Quando bem conduzida, o efeito será terapêutico para todos.
Porém, já nos deparamos com situações dramáticas em que todos
conhecem a verdade, até os vizinhos..., e o paciente segue desinformado sobre
sua doença. Nas palavras de Kübler-Ross, quando o paciente, perto da morte,
descobre que lhe mentiram durante todo o tempo, “ele morre na mais profunda
solidão”. Compartilho deste ponto de vista. Ninguém é bobo. Não há por quê
menosprezar a capacidade das pessoas perceberem que algo errado se passa em seu
corpo, quando estão doentes. Nós somos também, e antes de tudo, o nosso corpo.
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