Não rara vez, ao ser comunicado a respeito da natureza de sua
doença, o paciente pede ao médico, Doutor, não conte para a minha família. O
sentimento é compreensível, ele não deseja que os seus sofram com a notícia da
doença grave e incurável. Como que num surto de altruísmo, ele deseja guardar
apenas para si aquele momento de dor e sofrê-lo solitariamente.
Também com frequência a família pergunta ao médico sobre a
origem daquela doença, e tem o direito de ser informada. Está criado o impasse.
Os estudantes de modo geral tendem a “respeitar” o ponto de
vista do paciente, calcados na autonomia da pessoa e no direito dela em dispor
dos seus desejos. Parece justo.
Porém, o que haverá de acontecer depois da morte do paciente? A
família irá reclamar, e poderá fazê-lo judicialmente, que não foi informada da
gravidade da situação. Também parece justo.
Penso que a solução do problema passa pela arte de conversar. O
médico convida seu paciente a tratar do assunto, explica a ele que não parece
adequado que notícia de tamanha importância não possa, e não deva ser
compartilhada. Sempre sugeri ao paciente que ele escolhesse um membro da
família, alguém com equilíbrio suficiente para tratar do assunto, um filho mais
velho, por exemplo, e, juntos, o paciente, o médico e aquele familiar,
conversássemos sobre o problema. Proposta desta natureza, em minha experiência
pessoal, nunca foi recusada. Ao contrário, após a comunicação, o paciente
sente-se aliviado, efeito do próprio compartilhamento.
Desnecessário dizer que esta e outras situações que tenho
aventado nesses textos devem ser cuidadosamente registradas no prontuário
médico pelo médico responsável. Em determinadas ocasiões é aconselhável mesmo a
assinatura de uma testemunha, que poderá ser um colega envolvido no tratamento
do paciente.
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