quinta-feira, 31 de março de 2022

Ditadura nunca mais




Militares à cavalo contra o povo

em volta da Candelária, RJ

Eu estava lá. Houve golpe em 64. Em seguida implantou-se a ditadura. Tive colegas de turma torturados. Tive um colega morto. Não podemos esquecer. Muito menos dar outro nome aos fatos.

 

Foto: Divulgação

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/04/nada-comemorar.html


Hubble ainda vive!

 

A estrela mais distante já vista, em imagem do Hubble,

cuja luz viajou por 12,9 bilhões de anos até chegar à Terra

NASA, ESA, STScI, B. Welch (JHU)

 

 

“Hubble bate recorde e detecta estrela mais distante já vista”: reportagem de Salvador Nogueira para Folha (30.mar.2022). 

“O Telescópio Espacial Hubble bateu mais um recorde, ao registrar a estrela mais distante já vista. Ela pertence a uma galáxia cuja luz partiu de lá apenas 900 milhões de anos depois do Big Bang, o evento que deu origem ao Universo como o conhecemos hoje.”

“Em circunstâncias normais, é impossível observar estrelas individuais mesmo em galáxias mais próximas. O resultado só foi possível por conta de um efeito previsto pela relatividade geral de Albert Einstein, as lentes gravitacionais. O físico alemão concluiu que objetos com alta massa que se interpõem entre nós e outros mais distantes podem desviar os raios luminosos pela gravidade, agindo efetivamente como uma imensa lente no espaço, capaz de distorcer e amplificar a luz no seu caminho até nós.”

      “O novo achado identificou que no ponto mais intenso da lente, onde havia maior magnificação, estava localizada uma estrela dessa galáxia de fundo, agora designado WHL0137-LS, astro que os pesquisadores liderados por Brian Welch, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, apelidaram de Earendel, palavra do inglês arcaico que significa "estrela da manhã" ou "luz ascendente". Imagens posteriores do mesmo objeto mostraram que essa magnificação persistiu por 3,5 anos.”

“O fenômeno tornou a estrela mais de mil vezes mais brilhante do que de fato é, o que permitiu um estudo inicial a seu respeito. Também foi possível determinar que se trata da estrela mais distante, portanto mais antiga, já observada. Afinal, quanto mais longe um objeto, maior o tempo que a luz dele leva para chegar até nós. No caso em questão, a luz viajou por 12,9 bilhões de anos antes de ser detectada pelo Hubble, o que coloca a imagem como um retrato fiel de uma estrela nascida e criada apenas 900 milhões de anos após o Big Bang (estima-se que o Universo tenha 13,8 bilhões de anos).”

“Ou seja, o melhor sobre Earendel está por vir. E podemos apostar que o Webb tem tudo para bater esse recorde e encontrar estrelas ainda mais distantes e primitivas no futuro próximo.”

 

Isso é Ciência! Descobertas se sucedem interminavelmente. Não há verdades definitivas. 

 

https://www1.folha.uol.com.br/blogs/mensageiro-sideral/2022/03/hubble-bate-recorde-e-detecta-estrela-mais-distante-ja-vista.shtml

 

A janela

 Diário da demenciação


 

Findo o noticiário da tevê, tomamos banho, nos tentamos à mesa para jantar. Abrimos uma garrafa de vinho, cada um conta as novidades do dia, na maior parte das vezes o papo flui animado interessante alegre construtivo educativo mesmo. É o que sempre chamei simplesmente de conversa, coisa inventada pelos gregos há mais de 2.000 anos, sob o nome de diálogo

            Lá pelas tantas, bate o sono, vamos dormir. Hora de fechar a casa. Há um alarme que precisa ser ligado depois que todas as portas e janelas estejam fechadas, menos aquela do quarto de dormir, que desejamos permaneça aberta, e que é desarmada no quadro do alarme. Mas há uma maldita janela do quarto de televisão, que sempre me esqueço de fechar. Desligo o computador, mas não fecho a janela.

            – Toda noite é a mesma coisa, vou ligar o alarme e janela do quarto da televisão está aberta, então tenho que ir fechar a janela, não adianta falar, toda noite é a mesma ladainha, estou cansada de falar, de nada adianta.

            – Me desculpe. Esqueci.

            De que adianta pedir desculpas? Pior ainda, essa palavrinha estúpida “esqueci” faz sentido para mim, mas não faz sentido para minha mulher. 

      – Como esqueceu, se toda noite repito a falação?!

            Há uma outra teoria sobre o fato em questão e que pode explicar o fenômeno. Aquela janela não existe para mim, à hora de fechar a casa. Se não existe, se em seu lugar há uma impenetrável parede maciça, então não há esquecimento... Não se esquece daquilo que não existe. (Se não me falha a memória (!), a isso Freud denominou ‘alucinação negativa’.)

            Ontem me preparei para o funesto evento: deixei um escandaloso bilhete ao lado da tevê, uma folha de papel A4, com o recado JANELA! À hora habitual ainda olhei para aquele papel estranho e me perguntei:

            – O que isso está fazendo aí?!

      Que merda!




Foto: AVianna, 2020.

 

terça-feira, 29 de março de 2022

Mercado africano à noite

Meus quadros favoritos 

Walter Battiss



Walter Whall Battiss foi artista sul-africano, também conhecido como criador do conceito "Fook Island". 

Nascimento: jan 1906, Somerset East, África do Sul

Falecimento: ago 1982, Port Shepstone, África do Sul


Formação: Universidade da África do Sul

Londres e o Tâmisa

Cidades


 Belíssima vista do Tâmisa e Tower Bridge!

Hora de esconder o ouro

Segunda charge do dia


 Cláudio Hebdô

Um programa de governo

Charge do dia

 


Benett

América do Sul - densidade populacional

 Eu amo mapas


Distribuição da densidade populacional 
na América do Sul.
Foto de satélite.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Momento silêncio

Imagem   & Microconto

 


 

– Por que você leva seu cão para ver o pôr do sol?

– Ele aprofunda o silêncio.



Foto de autor desconhecido.


Amsterdã

Cidades

 


Uma das cidades mais charmosas de todo o mundo. O povo é alegre e gentilíssimo.  As pessoas comuns falam várias línguas, incluindo o inglês, o que facilita a comunicação. Respira-se liberdade e respeito em Amsterdã. Sem falar no Museu van Gogh...

Cabeça de uma jovem com cabelo despenteado (Leda)

Meus quadros favoritos 



Leonardo da Vinci, 1508

Uma paisagem contemporânea

Meus quadros favoritos 



Antoon de Clerck


Pintor belga, 2023-2001. Estou em busca de maiores informações. Porém gostei da pintura, desconcertante ao primeiro olhar. Lembrou-me René Magritte, mas observando bem, não se trata de surrealismo. Há um quê minimalista, penso eu. O vermelho no quadro inferior da janela lembrou-me o Quarto de van Gogh. Matisse abusou de reflexos nas janelas. De Clerck juntou todos eles numa visão contemporânea.

Vendilhões do Templo segundo Saramago

 100 anos de José Saramago

 

O trecho a seguir, de autoria de José Saramago, está em O Evangelho segundo Jesus Cristo (Companhia das Letras, 1991, p. 425-426):

 

“Chegados às portas da cidade, logo se viu que maiores diferenças de variedade e número na multidão não as havia, e que, como de costume, iam ser precisos muito tempo e muita paciência para abrir caminho e chegar ao Templo. Não foi assim, contudo. O aspecto dos treze homens, quase todos descalços, com os seus grandes cajados, as barbas soltas, os pesados e escuros mantos sobre túnicas que pareciam terem visto o princípio do mundo, fazia afastar a gente amedrontada, perguntando uns aos outros, Quem são estes, quem é o que vai à frente, e não sabiam responder, até que um que tinha descido da Galileia disse, É Jesus de Nazaré, o que diz ser filho de Deus e faz milagres, E aonde vão, perguntava-se, e como a única maneira de o saberem era seguiram-nos, foram muitos atrás deles, de modo que ao chegarem à entrada do Templo, da parte de fora, não eram treze, mas mil, mas estes ficaram-se por ali, à espera de que os outros lhes satisfizessem a curiosidade. Foi Jesus para o lado onde estavam os cambistas e disse aos discípulos, Eis o que viemos fazer, acto contínuo começou a derrubar as mesas, empurrando e batendo a eito nos que compravam e vendiam, com o que se levantou ali um tumulto tal que não teria deixado ouvir as palavras que proferia se não se desse o estranho caso de soar a sua voz natural como um estentor de bronze, assim, Desta casa que deveria ser de oração para todos os povos, fizestes vós um covil de ladrões, e continuava a deitar as mesas abaixo, fazendo espalhar e saltar as moedas, com enorme gáudio de uns quantos dos mil que correram a colher aquele maná. Andavam os discípulos no mesmo trabalho, e por fim já os bancos de vendedores de pombas eram também atirados ao chão, e as pombas livres, voavam por sobre o Templo, rodopiando doidas, além, em redor do fumo do altar, onde não iriam ser queimadas porque havia chegado o seu salvador.” 

 

            O estilo é inconfundível, a agilidade com que as falas se sucedem é impressionante, isso é o melhor de Saramago. O tema, conhecidíssimo, é apropriado ao momento político que vivemos. Que eu saiba, este é o único momento em todo o Novo Testamento em que Jesus perde as estribeiras, deita fumo pelas orelhas, solta fogo pelas ventas, destrambelha, ensandece, descarrilha e desce o sarrafo nos que vendem e nos que compram, isso é muito importante!

            Vou desenhar, expressão em voga: O Templo é o nosso vilipendiado Ministério da Educação – casa destinada ao Ensino e à Cultura. Templo, porque de lá poderiam sair regras e normas capazes de salvar o Brasil – só a Educação salva um povo. 

            Os lobistas tomaram conta do Templo; barracas onde variados produtos de compra e venda se espalham por todo o ministério; negocia-se a peso de ouro, literalmente; os “pastores” exibem a sanha dos insaciáveis intermediários; o sumo sacerdote se esquiva de qualquer responsabilidade, diz que age a mando do presidente; desmente-se a si próprio no dia seguinte, estratégia para confundir, um tal de disse-não-disse que atordoa os de ouvidos moucos; são muitos os testemunhos de velhacaria; processos são abertos...

            

Deixemos a conclusão para José Saramago. Com a chegada de grande número de guardas do Templo, sob comando do sumo sacerdote, armados de espadas e lanças, os Treze ficaram em evidente desvantagem. Jesus adverte com sabedoria:

 

“Disse André para Jesus, que a seu lado brigava, Bem é que digas que vieste trazer a espada e não a paz, agora já sabemos que cajados não são espadas, e Jesus disse, No braço que brande o cajado e maneja a espada é que se vê a diferença, Que fazemos então, perguntou André, Tornemos a Betânia, respondeu Jesus, não é a espada que ainda nos falta, mas o braço.”

 

            Ao povo, falta-nos braço para brigar com os canalhas.

domingo, 27 de março de 2022

Ofir tocava piano!

10 anos do Louco 



Qual das netas sabia que o Vô Ofir tocava piano?! A música preferida dele, e nossa, minha e do Paulo, era La cumparsita
        - Toca pai, toca pai, mais uma vez... ainda me lembro.
        A casa, em Guaratinguetá, era de nossos avós, Breno e Cici, de nome Lucila. O quarto em que está o piano não era aberto às crianças. Visitas de gente importante ou conversas reservadas ocorriam naquele cômodo, que se abria para uma linda varanda, cercada de plantas.
        Havia uma estante localizada na parede oposta ao piano, com muitos livros do avô, incluindo o Tesouro da Juventude. Esta "enciclopédia" foi a fonte de informação e prazer durante toda nossa infância. Duas cadeiras de palhinha e uma escrivaninha pesada, de madeira escura, completavam o ambiente.
       Não posso identificar a figura no medalhão acima do piano, infelizmente.
           A Galeria de Família, espero eu, sirva de memória de um tempo muito distante, mas que vale a pena conhecer.   
       Minha homenagem aos meus avós e meu querido pai.


Aniversário do Louco (#6)

10 anos do Louco
 


 

Há precisos 10 anos, no dia 27 de março de 2012, tinha início este Louco por cachorros, o blog que late, rosna, mas não morde. O blogueiro – está na capa do blog –, é um Vira-latas que apanha da vida mas não desiste. Está feita assim a sucinta apresentação.

            Deu-me enorme prazer e alegria trabalhar no Louco, como passou a ser conhecido pelos pouquíssimos seguidores. E ainda dá! Dez anos não é pouco. Posso garantir que nos últimos tempos as publicações foram diárias, ocupando boa parte de minhas manhãs.

            Aprendi muito com ele. Me diverti muito com ele. Através dele mantive contato com algumas pessoas, generosos leitores, a quem expresso aqui minha gratidão. Agradecimentos especiais ao meu irmão Paulo, além de leitor assíduo, crítico sagaz; e Mercêdes, paciente revisora.

            De início, a motivação era a escrita. Acabei por revelar quem sou, um generalista dispersivo. (Talvez isso possa explicar aquilo que incomoda a alguns: um cirurgião que se formou psicanalista.) 

            Publiquei nesse mês de março, com o marcador 10 anos de Louco, cinco postagens sobre o próprio blog, suas origens, o desenvolvimento, a expansão progressiva dos temas, minhas preferências e idiossincrasias; quase tudo a desaguar em um mote central: Educação. 

A inspiração, a paideia dos gregos. No meu modo rústico de dizer as coisas, reduzi o conceito a uma frase simplória, que não canso de repetir: Tudo é uma questão de educação!

Manterei este blog em funcionamento até quando puder. Grande abraço a todos!

 

 

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2012/03/mulher-e-mulher-cachorro-e-cachorro.html

 

Washingtônia

10 anos de Louco 

Galeria de Família



Nessa manhã ensolarada de outubro, o céu muito azul, plantamos uma washingtônia em nosso jardim, sabendo que a planta é de crescimento lento. Que importa, se o momento é de plena felicidade? 



Foto: Vanderlei, nosso jardineiro!

sábado, 26 de março de 2022

Ouremos!

 


Ilustração de Fê, para a crônica de José Simão 

na Folha de hoje


"Pastor pediu um quilo de ouro por verba do ministério, segurou na mão do prefeito e disse 'ouremos!"


                      José Simão



Mistura nefasta

 Charge do dia



Jean Galvão

O labrador de Bruges




Em outubro de 2008 foi lançado no Brasil o ótimo filme In Bruges, com a estúpida tradução para o português, Na mira do chefe, sob direção e roteiro de Martin McDonagh. Todo o mundo viu, só eu que não fiquei sabendo. 

            Vi o filme muito tempo depois e fiquei ensandecido! A história era boa, uma comédia, os dois protagonistas ótimos atores, e Bruges, a oitava maravilha do mundo! Na viagem seguinte que minha mulher e eu fizemos a Paris, pedimos ao agente de viagem, nosso amigo, reserva para quatro dias em Bruges.

            – Vocês estão loucos! Tomem o trem em Paris bem cedo, almocem em Bruges, deem uma volta pela cidade e tudo estará visto. Regressem à tardinha.

            Passamos quatro dias em Bruges, e passaríamos oito dias em Bruges. Chegamos no dia do aniversário de Mercêdes; não foi difícil, mesmo debaixo de chuva, encontrar restaurante com ótima carne e deliciosas batatas fritas, a especialidade da cidade (do país?). 

            Tudo muito lindo! A história da cidade, de origem medieval, é interessantíssima. Tudo muito bem preservado. Mas o ponto alto (expressão muito usada por minhas filhas, quando pequenas, para expressar o melhor de um lugar, de qualquer boa experiência) do passeio era uma volta pelos canais que cortam toda a cidade. Lá pelas tantas, vejo no batente de uma janela um lindo labrador bege, a apreciar a paisagem. Era uma cena do filme, e lá estava eu, ao vivo, diante do cachorro! Me recordo da minha forte emoção. 

            Recomendei com entusiasmo ao meu irmão, com viagem marcada para a Europa, que não deixasse de visitar Bruges. Ele foi, e lá estava o cachorro. Hoje, muitos anos depois desses alegres acontecimentos, encontro no Twitter a fotografia do labrador (eu o havia fotografado, mas perdi a imagem). Fidel, era seu nome, morreu em 2016. 

       Fica a doce lembrança, expressa na fotografia. Hoje ele encima esta pequena crônica.

            

sexta-feira, 25 de março de 2022

Rio de Janeiro

Cidades


 
Praias do Arpoador, Ipanema e Leblon, em manhã calorenta de janeiro! Ao fundo Pedra Dois Irmãos e Pedra da Gávea. Um dos lugares mais preciosos do mundo! Estivemos lá inúmeras vezes, um privilégio.
E o céu azul do Brasil!

Lisboa

Cidades 


Lisboa é encantadora, com sua arquitetura clássica, prédios com janelões, ladrilhos nas praças e calçadas. Na foto, o belíssimo por do sol!

Londres

Cidades



O movimentado centro de Londres, junto a Picadilly Circus. Alí estão as lojas mais chiques do mundo!



 

Nosso desejo

 


Marcelo Rubens Paiva

Paris

 Cidades



Interessantíssima fotografia, mostrando o Louvre, com sua entrada pela bela pirâmide de vidro, ao centro da praça. À direita, o Sena, com pelo menos 5 pontes visíveis. Talvez Paris seja mesmo a cidade mais linda do mundo!

Foto de autor desconhecido

 

Vila no inverno

 Meus quadros favoritos


Marc Chagall, 1930

Todos ventríloquos

Charge do dia 


Amarildo


quinta-feira, 24 de março de 2022

Vida privada

Terceira charge do dia


 André Dahmer


Mandante

Segunda charge do dia


 Amarildo

Portão e gato

Fotominimalismo






Foto: AVianna, mar 2022

iPhone 11 Pro Max

açucena-do-brejo

 


 

floresce a açucena

vida cheia de surpresas

chegada do outono




Fotos: AVianna, mar 2022, jardim




Uma conversa gostosa

Imagem & Microconto

 


 

O dia começava para ela com a visita do gato feral. 

– Oi Bichano, veio tomar o café da manhã?

Arisco, o gato comia, agradecia com o olhar e partia.



Foto (belíssima!) de autor desconhecido.


Em tempo. Concluído o microconto, o autor percebe que ele pode existir mesmo sem a imagem.



Vítimas do totalitarismo de novo

A foto do dia 

Míssil russo atinge memorial das vítimas do totalitarismo 

País saqueado

Charge do dia

 


Cláudio Hebdô para a Folha hoje

Roudinesco fala sobre designações identitárias

 

 

A pensadora Elisabeth Roudinesco, durante a programação do

Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre, no ano de 2016

Foto: Fronteiras do Pensamento

 


Entrevista interessante de Elisabeth Roudinesco a Guilherme Evelin, para O Estado de S.Paulo (19 mar 2022) traz a manchete: Elisabeth Roudinesco critica identitarismo e excesso de terminologias que pautam o debate público. Autora francesa lança 'Eu Soberano' e afirma que há uma efervescência de termos, como cisgênero, branquitude, interseccionalidade, que obscurecem a realidade.

            

“Elisabeth Roudinesco notabilizou-se como historiadora da psicanálise, autora de biografias sobre Sigmund Freud e Jacques Lacan e de um Dicionário da Psicanálise. Com O Eu Soberano - Ensaio sobre as derivas identitárias, recém-lançado no Brasil (Zahar, 304 págs., R$ 74), ela faz sua intervenção no debate incandescente sobre a questão identitária. O livro é um libelo contra as “designações identitárias” que, segundo ela, reduzem o ser humano a uma experiência específica e tentam acabar com a natureza do que é distinto. A autoafirmação de si, escreve Roudinesco no prefácio do livro, leva à hipertrofia do eu, em que “cada um tenta ser si-mesmo como um rei, e não como um outro” e consolida tendências de isolamento. Em contraponto, diz ela, é preciso reforçar a existência de uma identidade universal, que é múltipla e inclui o estrangeiro. No livro, Roudinesco fala com admiração da obra de Gilberto Freyre, da mestiçagem e da existência de um “hibridismo barroco” no Brasil.”

            Segue a entrevista: “O ensaio é uma genealogia do que Roudinesco chama de “derivas identitárias” – a metamorfose de movimentos sociais que, no começo do século 20, buscavam a emancipação, o progresso e a transformação do mundo para melhor em movimentos de afirmação de identidade, que buscam exprimir indignação ou o desejo de visibilidade e reconhecimento.”

            Prossegue Roudinesco: “Outra motivação para o ensaio é mostrar que houve passos para trás com várias dessas derivas identitárias. A questão do gênero foi revolucionária ao introduzir a noção de que ele é uma construção social e psíquica e não apenas uma diferença anatômica de sexo, mas houve uma guinada no sentido contrário quando se passou a negar o sexo em detrimento do gênero. Ambos, sexo e gênero, são necessários.”

            A senhora considera então que muitas dessas derivas identitárias estão promovendo retrocessos?

“Sim. A noção de “negritude”, por exemplo, passou a ser racializada. Quando Aimé Césaire (poeta de origem martinicana) dizia que era negro e permaneceria sempre negro, ele não afirmava isso do ponto de vista da raça, mas, sim, do sentido do pertencimento a uma história e a uma cultura. Todas essas derivas, além disso, são acompanhadas de uma linguagem obscura. Há uma efervescência de terminologias, como cisgênero, branquitude, interseccionalidade, que obscurecem a situação real. O excesso de jargões é sempre um mau sinal. Um pensador que inova, é claro, inventa conceitos, mas há um certo limite para criar neologismos. Nesse caso, nós chegamos a um ponto de exagero.”  

            “As derivas identitárias são sintomas de um mundo que está em transformação. Por isso, são derivas. Não são coisas bem instaladas. Acredito que se trata de uma crise do pós-colonialismo, do pós-comunismo. É uma crise que tem aspectos positivos, viu? As derivas identitárias colocaram o problema das minorias. Mas, no combate da história, estão condenadas porque elas se tornaram punitivas com a cultura do cancelamento, o boicote aos espetáculos e, sobretudo, com a releitura das obras de arte.”

             A senhora relaciona a eclosão das angústias identitárias à ascensão de uma cultura do narcisismo. Essa cultura foi reforçada pelas redes sociais?

“Sim. Tomei a expressão “cultura do narcisismo” de empréstimo de Christopher Lasch (historiador americano) e de Adorno, da Escola de Frankfurt. Eles – e os psicanalistas também – notaram como o narcisismo tinha se tornado um fenômeno social muito importante no final do século 20. Nós substituímos Édipo por Narciso. Quando Freud começou com a psicanálise, vivíamos em uma sociedade de frustração, onde a liberdade sexual não existia. A partir dos anos 60, com a liberação sexual nas sociedades ocidentais, com o sujeito confrontado a ele mesmo e não mais às proibições do começo do século 20, percebeu-se que as pessoas passaram a ter outras patologias: as depressões e os narcisismos.”  

            A senhora aponta também a emergência do identitarismo de extrema-direita, que brande a defesa do nacionalismo e ganhou grande força na França, com dois candidatos, Marine Le Pen e Éric Zemmour, com chances de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais em abril. Como analisa esse fenômeno – em particular, a novidade política representada por Zemmour, um judeu de origem argelina?

“Estamos numa situação em que nós, na Europa e na França, acordamos velhos demônios. O verdadeiro perigo identitário é esse: a extrema-direita, os populismos, os nacionalismos – é isso que leva às guerras, como a da Ucrânia, porque Putin é de extrema-direita e quer ressuscitar uma Rússia imperial. Éric Zemmour encarna o pior do pior na França. Zemmour é adepto da teoria racista da “grande substituição” e diz defender os valores ditos judaico-cristãos da Europa contra as “invasões islâmicas”. Por trás do seu racismo contra os árabes há também antissemitismo porque todo racista é também antissemita.”

 

Roudinesco faz a gente pensar!

 

 

https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,elisabeth-roudinesco-critica-identitarismo-e-excesso-de-terminologias-que-pautam-o-debate-publico,70004012948

quarta-feira, 23 de março de 2022

50 minutos revisitado (#5)

10 anos de Louco

 

Em 12 de março de 2014, há oito anos portanto, publiquei este pequeno conto no Louco. Além de gostar dele, recebi alguns elogios que se encontram registrados abaixo da postagem. 

http://loucoporcachorros.blogspot.com/2014/03/50-minutos.html#comment-form

            Torno a publicá-lo, após ligeira edição, e com uma certa saudade daquele tempo. São os 10 anos do Louco!

 

O velho fazia sua caminhada diária quando um carro parou junto ao meio fio e uma pessoa pediu informação – supõe-se, pois não houve testemunhas. O caminhante levou dois tiros no peito e morreu instantaneamente. 

     O advogado amigo da família e com vocação detetivesca se interessou pelo caso, já que a polícia fez pouco ou nenhum progresso nas investigações durante os seis meses subsequentes. Aparentemente o velho não tinha inimigos. Nos últimos dez anos sua convivência social se reduziu a duas ou três pessoas, incluindo a própria mulher, de um segundo casamento, com quem estava casado há vinte e poucos anos. As aventuras amorosas haviam se perdido no tempo. Ele não devia dinheiro a ninguém, aliás, não devia nada a ninguém. E não dispunha de seguro de vida.

     O advogado, residente no bairro da vítima, passou a fazer a mesma caminhada, repetindo trajeto e horário, diariamente. Observador por natureza, mantinha-se atento aos homens e mulheres com quem cruzava, quase todos acima dos cinquenta anos. Contava os carros que rodavam pela rua àquela hora da manhã, anotava marcas, modelos, as cores dos veículos, o número da placa. Fez isso durante seis meses.

     Do mesmo modo que a polícia, não pôde chegar a pista alguma. As marcas de sangue deixadas pelo morto na calçada estavam quase que completamente apagadas. Ninguém mais falava do crime. A esposa do velho, alguns anos mais nova, havia se casado em segundas núpcias. O advogado recebeu ótima proposta de emprego numa grande firma de advocacia e se mudou para São Paulo.

     Ao chegar em casa depois de 50 minutos de caminhada, esta foi a história que o velho deixou registrada em seu computador, ele que pretendia publicar um livro de contos sobre crimes insolúveis. Morreu de infarto alguns minutos depois.

          

                                FIM


     Espero que, quem não, leia; e quem já leu, releia. É bom, e curto!

 

 

Delírio

 Imagem & Microconto

 

– O que vocês dois pretendem com isso? - pergunta o segundo fotógrafo. 

– Ela deseja guardar um momento de felicidade! - responde o primeiro fotógrafo.




Foto: Carlos Corresa (?).


Tipo de Loucura

Imagem & Microconto




– Que é isso, amor?

– Paixão desenfreada, meu bem! Uma espécie de loucura.




Foto de autor desconhecido.

Esses ministros...

Política sem palavras

 



Iniciativa Extraordinária!!!

 

“Primeira instituição privada de apoio à ciência no Brasil sonha em frear 'fuga de cérebros'. Instituto Serrapilheira completa 5 anos com mais de R$ 50 milhões investidos em projetos”: reportagem extraordinária de Samuel Fernandes para a Folha hoje (23).

“Primeira instituição privada sem fins lucrativos para financiamento da ciência brasileira, o Instituto Serrapilheira completou cinco anos de existência nesta terça (22). A organização, que assina o blog Ciência Fundamental na Folha, contabiliza já ter investido mais de R$ 50 milhões em projetos de pesquisa científica e em iniciativas voltadas para divulgação da ciência.

Desde seu início, o instituto, fundado pelo documentarista João Moreira Salles e sua mulher, a linguista Branca Vianna Moreira Salles, mantém dois programas de financiamento. O primeiro, de apoio à ciência, é voltado ao suporte de pesquisas de excelência de jovens cientistas de áreas das ciências naturais, matemática e ciência da computação.

Já o segundo tipo de programa é voltado para divulgação científica e subsidia projetos de mídia e de jornalismo. "O que estamos tentando fazer é profissionalizar a divulgação científica." O diretor diz que existe uma grande demanda por financiamento de divulgação científica. Segundo ele, na primeira chamada feita pelo Serrapilheira, foram recebidos mais de mil projetos de todo o Brasil. do campo."

Mais recentemente, o Serrapilheira abriu a formação em biologia e ecologia quantitativas, um programa em ciências da vida para jovens que queiram cursar o doutorado fora do país.

"Vamos fazer investimentos mais focados na ecologia e biologia de sistemas complexos e queremos usar a força que já existe na matemática brasileira para tratar das questões da complexidade da vida", afirma o diretor, sobre essa iniciativa mais recente do Serrapilheira. 

Mesmo que a iniciativa seja importante, o próprio diretor do instituto reitera que o financiamento da ciência precisa ser operado principalmente pelo poder público. "

 

Vale a pena conferir o site Ciência Fundamentalhttps://www1.folha.uol.com.br/blogs/ciencia-fundamental/

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/03/primeira-instituicao-privada-de-apoio-a-ciencia-no-brasil-sonha-em-frear-fuga-de-cerebros.shtml

 

Volta do Messias

Terceira charge do dia 


Cláudio Hebdô para a Folha hoje

Os donos do cofre

Segunda charge do dia

 


Leandro Assis e Triscila Oliveira 
para a Folha hoje