quarta-feira, 23 de março de 2022

50 minutos revisitado (#5)

10 anos de Louco

 

Em 12 de março de 2014, há oito anos portanto, publiquei este pequeno conto no Louco. Além de gostar dele, recebi alguns elogios que se encontram registrados abaixo da postagem. 

http://loucoporcachorros.blogspot.com/2014/03/50-minutos.html#comment-form

            Torno a publicá-lo, após ligeira edição, e com uma certa saudade daquele tempo. São os 10 anos do Louco!

 

O velho fazia sua caminhada diária quando um carro parou junto ao meio fio e uma pessoa pediu informação – supõe-se, pois não houve testemunhas. O caminhante levou dois tiros no peito e morreu instantaneamente. 

     O advogado amigo da família e com vocação detetivesca se interessou pelo caso, já que a polícia fez pouco ou nenhum progresso nas investigações durante os seis meses subsequentes. Aparentemente o velho não tinha inimigos. Nos últimos dez anos sua convivência social se reduziu a duas ou três pessoas, incluindo a própria mulher, de um segundo casamento, com quem estava casado há vinte e poucos anos. As aventuras amorosas haviam se perdido no tempo. Ele não devia dinheiro a ninguém, aliás, não devia nada a ninguém. E não dispunha de seguro de vida.

     O advogado, residente no bairro da vítima, passou a fazer a mesma caminhada, repetindo trajeto e horário, diariamente. Observador por natureza, mantinha-se atento aos homens e mulheres com quem cruzava, quase todos acima dos cinquenta anos. Contava os carros que rodavam pela rua àquela hora da manhã, anotava marcas, modelos, as cores dos veículos, o número da placa. Fez isso durante seis meses.

     Do mesmo modo que a polícia, não pôde chegar a pista alguma. As marcas de sangue deixadas pelo morto na calçada estavam quase que completamente apagadas. Ninguém mais falava do crime. A esposa do velho, alguns anos mais nova, havia se casado em segundas núpcias. O advogado recebeu ótima proposta de emprego numa grande firma de advocacia e se mudou para São Paulo.

     Ao chegar em casa depois de 50 minutos de caminhada, esta foi a história que o velho deixou registrada em seu computador, ele que pretendia publicar um livro de contos sobre crimes insolúveis. Morreu de infarto alguns minutos depois.

          

                                FIM


     Espero que, quem não, leia; e quem já leu, releia. É bom, e curto!

 

 

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