terça-feira, 23 de novembro de 2021

Eu sou trezentos...





Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,

As sensações renascem de si mesmas 

[sem repouso,

Ôh espelhos, ôh Pireneus! ôh caiçaras!

Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

 

Abraço no meu leito as melhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos taxis, nas camarinhas 

[seus próprios beijos!

 

Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,

Mas um dia afinal eu toparei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo.

 

Mário de Andrade

In Remate de males (1930)

De pauliceia desvairada a lira paulistana

Martin Claret, 2016.

 

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