quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Zoom da superfície do sol

A foto do dia


Cada célula da superfície solar registrada pelo telescópio
DKIST mede quase três vezes o tamanho do 
Estado de São Paulo.
Imagem: Divulgação/NSO/NSF/AURA


“A imagem é um close do plasma turbulento da superfície do Sol e foi tirada pelo maior telescópio já construído para observar a estrela, o Daniel K. Inouye (DKIST). 
O DKIST tem um espelho de quatro metros de largura - o dobro do tamanho de qualquer outro telescópio solar existente -, e está localizado a 3 mil metros de altura, no topo do vulcão Haleakala, na ilha havaiana de Maui.”

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Stabat Mater


O  Stabat Mater, do latim “Estava a mãe”, é uma prece ou, mais precisamente, uma sequentia católica do século XIII.
Há dois hinos chamados de Stabat Mater: o primeiro é conhecido como Stabat Mater Dolorosa, e fala do sofrimento de Maria ao pé da cruz.  
O segundo é denominado Stabat Mater Speciosa, e se refere ao nascimento de Jesus, de forma alegre. 
A expressão Stabat Mater, porém, é mais conhecida como referente ao sofrimento da mãe de Jesus.
O hino chamado de Dolorosa é um dos mais pungentes poemas medievais, sobre o sofrimento de Maria durante a crucificação. Ele é cantado em honra à Nossa Senhora das Dores. 
Vários autores compuseram sobre o tema Dolorosa, como  Palestrina, Pergolesi, Scarlatti, Vivaldi, Haydn, Rossini, Dvořák, Schubert, Liszt, Verdi e Perosi.
“O Dolorosa era bem conhecido já no final do século XIV e Georgius Stella escreveu sobre a sua utilização em 1388, com outros autores corroborando a afirmação mais para o final do século. Na Provença, por volta de 1399, ele era utilizado em procissões que duravam nove dias."  
          "Como sequência litúrgica, o Dolorosa foi suprimido pelo Concílio de Trento, mas retornou ao missal por ordem do papa Bento XIII, em 1727, na festa de Nossa Senhora das Dores.” 
“O hino mais alegre, Stabat Mater Speciosa ("A mãe permaneceu, bela") apareceu pela primeira vez numa edição de 1495 dos poemas de Jacopone da Todi. Porém, o Speciosa permaneceu praticamente esquecido até reaparecer no "Poètes Franciscains en Italie au Treizième siècle", em Paris. O Speciosa desde então tem sido visto como um dos mais doces hinos em honra a Maria e um dos sete grandes hinos latinos.” 




Recomendo fortemente aos amantes da música sacra que ouçam o Stabat Mater composto em 1985 por Arvo Pärt, autor estoniano. Clique em: 










Motivo de alegria


Clique para ampliar





Costumo pensar que pardal é como cachorro vira-lata. Passarinho vira-lata: ele é feio, de uma cor indefinida, seu canto não é bonito, mas tem uma resistência de cão! Além do que é brigão, valente, barulhento.
            Desconheço a razão pela qual os pardais nunca vieram à fonte do nosso jardim para banhar ou beber água. Vêm sabiás, bem-te-vis, beija-flores, rolinhas, canários, sabiás-do-campo, sabiás-poca, saís azuis, saíras amarelas, saíras-de-papo-preto, até pombas vêm à fonte, mas nunca os pardais.
            Ontem, pela primeira vez em mais de um ano, flagrei o casal de pardais banhando e bebendo água da fonte. Motivo de alegria.


Fotos: AVianna, jan 2010.
Nikon D7200
             

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Emoghyphs



Uma das peças da exposição. Foto: Isabel Kershner


“Exposição no Museu de Israel, em Jerusalém, Emoglyphs: Picture-Writing From Hieroglyphs to Emoji (Emóglifos: a escrita pictórica, do hieróglifo ao emoji, em tradução livre), mostra a aparentemente óbvia, e ao mesmo tempo complexa, relação entre o sistema icônico de comunicação da Antiguidade e a língua franca da era cibernética.” É o que revela a reportagem de Isabel Kershner, do New York Times / Jerusalém, para O Estado de S.Paulo (27 jan 2020). (Tradução de Roberto Muniz.)

“Sempre foi difícil explicar como se leem hieróglifos”, disse Shirly Ben Dor Evian, egiptóloga e curadora da mostra. “Mas hoje ficou mais fácil porque as pessoas estão escrevendo com desenhos. Por isso comecei a prestar atenção em emojis.” 
Evian notou que alguns emojis parecem hieróglifos. “Um cartaz na entrada da exposição contrapõe uma coluna de hieróglifos a uma de emojis. As similaridades são indiscutíveis e não há necessidade de tradução.” “A representação egípcia de um cão genérico tem uma semelhança muito próxima com um cão de emoji mostrado de perfil. Um pato, imagem frequentemente usada nos hieróglifos para simbolizar uma criatura alada, reaparece milhares de anos depois como um pato de emoji. E um homem dançando num emoji faz uma pose semelhante à de um dançarino de hieróglifo de 3 mil anos.”
“Hoje é mais fácil clicar num emoji que escrever uma palavra inteira”, afirmou Ben Dor Evian, que tem um aplicativo de hieróglifo no celular. Emojis são uma taquigrafia emocional. Pense no poder de um coração mandando um beijo, ou de uma cara cínica significando sarcasmo, quando ilustram um sentimento que uma inexpressiva mensagem de texto não consegue expressar.”
Em 2015, os Dicionários Oxford elegeram o emoji de um rosto com lágrimas de alegria como sua palavra do ano, dizendo que ele expressava “o comportamento, os sentimentos e as preocupações” do período.   
Há quem discorde: “Chaim Noy, professor de comunicações da Universidade Bar Ilan, em Tel-Aviv, considera simplista e populista falar em emoji como nova linguagem. Ele vê os símbolos apenas como uma espécie de linguagem corporal que suplementa o texto.”

Este blogueiro, que nada entende do assunto, como sempre, mas é mestre na arte de palpitar, fica com o ponto de vista do Prof. Chaim! Quando acessamos o Facebook, fica evidente que a generalizada utilização dos emojis empobrece a comunicação. Perco um bom tempo da manhã para escrever um texto de interesse geral, sobre ciência, por exemplo, publico no blog, e quem o acessa via Facebook coloca apenas uma mãozinha amarela com o polegar virado para cima. (Talvez por educação o polegar não está para baixo...)
O valor da escrita tem sido enaltecido ad nauseam neste blog. Enfatizo, sempre que posso, o que denomino Escrita terapêutica, que tem o poder de organizar nossos pensamentos, abrir a mente para novas perspectivas, pensar alternativas, utilizar realidade e ficção para expandir o “aparelho de pensar” (Bion) , acalmar o espírito. Não posso imaginar os emojis cumprindo tal tarefa. (O que pensaria Machado de Assis sobre isso tudo?)
Há uma agravante: quanto mais se usa o emoji, menos se escreve, até que um dia todos serão analfabetos.
Mesmo assim, gostaria muito de visitar a exposição em Jerusalém, e continuar pensando no assunto.


Ateliê de Helena Lopes


Arte de Helena Lopes já apareceu neste blog (30 dez 2018), a enaltecer a produção da artista plástica radicada em Brasília.  (https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/12/a-arte-de-helena-lopes.html)
            Agora voltamos a nossa amiga, para magnífica visita ao seu ateliê, na sua própria residência no Lago Sul, Brasília, em companhia de meu amigo Moisés. A casa em si mesma é uma obra de arte, decorada com enorme bom gosto, naturalmente. 
            


            Helena nos recebe em amplo salão, belíssimo, as paredes cobertas por obras da autora, em diversos momentos de sua produção. Ao fundo, Helena e Moisés.



Algumas obras em detalhe.


  

            Do mezanino podemos ver o ateliê propriamente dito, com três grandes quadros na parte mais alta da parede. Abaixo, a mesa de trabalho.



Mesa de trabalho.



Materiais de pintura cuidadosamente armazenados.



Bela criação despojadamente exposta.



A artista e o feliz blogueiro.

             Atualmente Helena está envolvida com interessantíssimo projeto, após sua recente visita ao campo de Auschwitz. Não estou autorizado a prestar maiores informações.
              Obrigado, Helena, por nos receber.


            

CAPES na mão de um criacionista




Sede da CAPES em Brasília

Para quem não sabe, a sigla CAPES significa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A entidade trata da formação de professores e da pós-graduação, elementos indispensáveis para a manutenção de um bom ensino superior no país.
            Pois agora a CAPES está na berlinda, não por alguma ação de destaque na área a que se destina, mas porque o ministro da educação nomeou para dirigi-la um adepto do criacionismo.
O Sr. Benedito Aguiar é ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição confessional onde seria aceitável o ensino da doutrina religiosa segundo a qual todas as espécies são obra de Deus, não tanto da seleção natural neodarwiniana.
Mas a coisa é ainda pior. O Sr. Aguiar é adepto do design inteligente, ou “criacionismo científico”, teoria que postula que uma inteligência superior rege a existência dos seres vivos. Cada um tem o direito de acreditar no que bem entende, mas isso não faz da teoria algo que segue o método científico.
Afirma Paulo Saldaña para a Folha de S.Paulo (24 jan 2010): “A mera possibilidade de que o presidente da Capes carreie recursos da instituição para fomentar estudos de inspiração religiosa e incompatíveis com a ciência contemporânea já seria motivo para não o indicar ao cargo.”
E se a CAPES  agora começa a barrar pesquisas que de algum modo possam contrariar as convicções religiosas de seu chefe? O país vai na contra mão do avanço científico apresentado pelas nações mais desenvolvidas hoje. Caminhamos em direção ao atraso.



segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Rapidinho


Era tão bom em escrever microcontos que a conversa com ele terminava sempre rápida e subitamente.

75 anos da libertação de Auschwitz



Wojtek Radwanski / AFP



Em 27 de janeiro de 1945 soldados soviéticos entraram no campo de concentração de Auschwitz,  encontraram prisioneiros em precárias condições de saúde, à beira da morte. Caixas de documentos relatando as atividades do campo também foram encontradas. Eram os chamadas de "livros da morte", cujo conteúdo só seria revelado em 1991, após o fim da União Soviética. Nesta segunda (27) celebra-se o aniversário de 75 anos da liberação de Auschwitz, onde mais de 1 milhão de pessoas foram mortas.
Afirma Rafael Balago (27.jan.2020), para a Folha de S.Paulo, que “depois de Nuremberg, foi criado o conceito de crimes contra a humanidade, como saída para uma questão: muitos oficiais nazistas tentaram se defender dizendo que apenas seguiam ordens. A mudança na lei internacional passou a permitir a responsabilização dos executores de extermínios em massa, sem subterfúgios.”
“Nos anos 1960, houve um novo julgamento de nazistas, e novos fatos. A partir de 1970, historiadores israelenses buscam mudar a forma como se registra a memória do que ocorreu. "Passou-se a valorizar mais as histórias individuais, em vez de citar os grandes números. No lugar de mostrar uma pilha de sapatos, conta-se a história de um par e de quem foi seu dono", explica Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba.”
            “Nas últimas décadas, conforme o prazo de sigilo de documentos oficiais de vários países expirava, historiadores vão desvendando como várias nações e instituições se comportaram em relação ao Holocausto. "Por que os Aliados não bombardearam os campos ou ao menos as linhas por onde os trens levavam os prisioneiros?", questiona Fernando Lottenberg, presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil). "Falta saber mais também sobre o papel das indústrias alemãs, que forneciam gás para as câmaras, por exemplo". "Ainda há muito a entender sobre qual foi o envolvimento de outros países, como os da América Latina, que foram colaboracionistas", conta Maria Luiza Tucci Carneiro, professora da USP e coordenadora do projeto Arqshoah, que reúne documentos e depoimentos relacionados ao Holocausto.”
            O problema holocausto ainda não foi completamente resolvido. A bem da História, as investigações precisam continuar, por vários motivos, entre eles para que aquele horror não se repita.



Moisés volta ao blog!




Depois de longo interregno, voltamos a publicar microcontos de Moisés Tito Lobo Furtado, praticamente um especialista. Muita honra para este blog! Aqui vão eles.


Cura

Tudo na realidade o agredia. Aos poucos, foi se tornando imune aos fatos. Morreu atropelado.


Completamente inútil

Na natureza, são tantos os exemplos do gasto de energia em busca de beleza e alegria, que só um tolo poderia duvidar da importância desse desperdício para a sobrevivência.


Estrangeiro

Como foi bom ouvir aquela gargalhada em português!


Aberrações ópticas

As lentes que escolheu, para ver a sua realidade preferida, distorceram seu julgamento para longe e para perto.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

José Renato, mestre em estilingues

Galeria de Família


Durante nossa infância – penso que posso falar também em nome de meu irmão – ninguém nos tratou com tanta cordialidade, amizade desinteressada, respeito, quanto nosso primo José Renato Gilli. 
            Ele um pouco mais velho, morava em Floriano, RJ, cidade onde nasceu Ondina. Extremamente habilidoso, nos impressionava com a arte de fazer estilingues!
            Era filho de Tia Juquinha, irmã de Ondina, e Tio Leão, que para provar a inteligência do filho, pediam sempre que ele recitasse, em ordem cronológica, os nomes dos Presidentes da República!
            Leão era um homem complicado, desses que a gente chama de esquisitão. Quase sempre calado, enfermiço, ciumento, seus olhos brilhavam apenas quando falava da paixão de sua vida, as motocicletas.
Já mais velho, comprou uma moto potente, talvez 450 cilindradas, mas já não conseguia manobrar aquela linda máquina. De vez em quando Leão ligava a moto em plena sala da casa, acelerava, o barulho era ensurdecedor, e seus olhos voltavam a brilhar!
Há muitos anos não tenho notícias do inesquecível José Renato e sua gentileza exemplar. 



José Renato




Tia Juquinha

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Ofir, filho, nora e netas em Cabo Frio

Galeria de Família


A foto não é de boa qualidade mas não tem importância, lá está, bem no centro, o vô Ofir. Foi batida na sala do apartamento de Cabo Frio, hoje de propriedade do Paulo.
            Presentes, da direita para a esquerda, Márcio (namorado da Ciça à época), Ciça, Paula, Mercêdes e eu, torto porque disparei a máquina e corri para a foto. Na mão direita do patriarca uma taça de vinho tinto! 
            A luz intensa que ilumina a parede do fundo da sala vem da claridade da Praia das Dunas; bastava atravessar a rua e estávamos no mar frio de Cabo Frio.
            Bons tempos de paraíso! Ofir nos tratava com muito carinho, é o que ficou marcado em minha memória.




Tia Glaura e descendentes

Galeria de Família


Chegam as férias e com elas a expectativa da vinda dos tios e primos de Niterói, que se hospedam em casa do Breno e Ceci, colada a nossa. Tio Tói, tia Glaura, Lucila, José Augusto e Glaucinha são as estrelas, cada um com suas peculiaridades. 
A vida passa a girar em torno da companhia deles, para nós, ainda crianças. É só brincadeiras e alegria.
        Agora recebo de Lucila as fotos de alguns membros da família. Os filhos da Lucila, nem os conheço pessoalmente, uma pena.
        Mas fazem parte dessa nossa Galeria, com destaque que merecem. (Espero mais fotos.)



Glaura e a filha Lucila





Glaura e netos

Arqueia de Asgard



Uma arqueia de Asgard vista no microscópio. 
/ Nature.

Encontrado o organismo que explica a origem de toda a vida complexa da Terra: título espetacular da reportagem de Nuño Domínguez (18 jan 2020) com o subtítulo Cientistas japoneses observam pela primeira vez arqueias de Asgard, micróbios cujos ancestrais deram o passo inicial para a aparição de animais e plantas há dois bilhões de anos, para El País. 
“Após quase 15 anos de trabalho, cientistas japoneses conseguiram pela primeira vez tirar do fundo do mar e criar em laboratório arqueias de Asgard, o misterioso organismo que pode explicar a origem de todas as formas de vida complexa da Terra, incluindo os humanos.”
            Domínguez explica: “Todos os seres vivos que podemos ver a olho nu são feitos com os mesmos tijolos: células complexas, com organelas internas, chamadas eucariotas. Uma pessoa é um conjunto de 30 bilhões de células eucariotas que cooperam entre si com um objetivo comum. Todas as plantas, animais e fungos são eucariotas.”
“Na Terra há outros dois grandes domínios da vida: o das bactérias e o das arqueias, mais primitivas, sem organelas internas. Pois acredita-se que, há cerca de dois bilhões de anos, uma arqueia engoliu e assimilou outro micróbio, transformando-se na primeira célula complexa. Foi o primeiro passo até nós, e ainda não se sabe como aconteceu.”
A partir de 2015 cientistas escandinavos descobriram várias espécies de arqueias: Loki (em homenagem ao deus nórdico), Thor, Odin, Heimdall, Hel, que foram agrupadas na família Asgard, o lar dos deuses vikings.
“As arqueias de Asgard medem um décimo de milésimo de um centímetro e se reproduzem muito devagar para os padrões de um micróbio: mais ou menos uma vez por mês. O mais curioso são seus longos tentáculos entrelaçados. Os cientistas ainda não sabem por que os usam.”
“Segundo a teoria, exposta na revista Nature, o ancestral dos eucariotas era uma arqueia similar à de Asgard. A vida complexa surgiu seguindo o que eles chamam de os três “E”. Primeiro, a arqueia enredou uma bactéria com seus tentáculos, depois a engoliu e, por último, a endogenizou, o seja, estabeleceu com ela uma relação de cooperação para trocar nutrientes conhecida como sintrofia. A bactéria, que até então era um organismo independente, transformou-se numa mitocôndria – uma organela que fornece energia ao seu hóspede.”
“Imachi, chefe do Instituto de Ciência e Tecnologia do Mar e da Terra, no Japão,  deu um novo nome aos organismos retirados da fossa de Nankai: arqueia Prometeu (Prometheoarchaeum syntrophicum), em alusão ao ser mitológico que roubou o fogo dos deuses para dar aos humanos. Dois bilhões de anos depois, as mitocôndrias continuam presentes em todas as células eucariotas com idêntica função. A origem da vida complexa foi a cooperação.”
São descobertas espetaculares, a Ciência a avançar lenta e inexoravelmente.




Vinhos na Mantiqueira



Vale do Paraíba visto da Mantiqueira


Minha infância transcorreu com relativa felicidade ao pé da Serra da Mantiqueira, em Guaratinguetá, ou apenas Guará, e da Mantiqueira guardo as melhores recordações, orgulho mesmo por ter crescido em região tão linda como o Vale do Paraíba. 
            Agora, já velho, me deparo com a notícia que a região – mais precisamente Espírito Santo do Pinhal – tornou-se produtora de vinhos premiados, graças a uma engenhosa técnica de cultivo. A reportagem é de Marcelo Toledo (18 jan 2020) para a Folha de S.Paulo, com a manchete Vinícolas adotam colheita no inverno e colecionam prêmios.
Há 10 anos a família de Eduardo Junqueira Nogueira Junior iniciou a produção de vinho em Boa Esperança, de Minas Gerais, seguida por outras vinícolas em São Paulo; todos adotaram a “dupla poda dos vinhedos, transferindo a colheita do verão, como tradicionalmente ocorre, para o inverno. A alteração, aliada à amplitude térmica (diferença entre temperatura mínima e máxima do dia), tipo de solo e manejo, fez com que jovens vinícolas que entraram no mercado há menos de uma década passassem a colecionar prêmios e ampliassem suas produções de olho num mercado de vinhos de boa qualidade.”
“Colhendo no inverno, o período de maturação da uva ocorre em dias ensolarados, com noites frescas e solo relativamente seco, cenário apontado por pesquisadores como fundamental para o perfeito amadurecimento das uvas e qualidade dos vinhos.”
“O ciclo invertido da videira existe desde 2001, a partir do trabalho de pesquisadores da Epamig (empresa de pesquisa mineira) de Caldas, mas comercialmente passou a ser adotado só nos anos seguintes.  
          As condições climáticas do sul de Minas e de regiões de São Paulo permitem dois ciclos anuais para a cultura e o cenário do outono/inverno era semelhante ao das melhores regiões vinícolas do mundo. Seguindo a fórmula, a Guaspari passou a produzir uvas em 2006 no solo granítico da fazenda em Espírito Santo do Pinhal (SP), que remete à região do Vale do Rhône (França), na altitude (850 m a 1.300 m) e na amplitude térmica, que chega a 20ºC.”
Eis a essência do sucesso: “No cultivo tradicional, a videira é podada em agosto, para brotar em setembro, florescer em outubro, formar cacho em novembro e iniciar a maturação em dezembro, para ser colhida em janeiro e fevereiro.
Na dupla poda, o ciclo começa com a poda em janeiro, florada em fevereiro, formação do cacho em março e início de maturação em abril. A colheita ocorre entre o fim de maio e início de agosto. Assim a maturação ocorre com tempo seco, e “reduz os riscos de podridões dos cachos provocados por fungos”. 
Santificada seja a Serra da Mantiqueira!





Foto: AVianna, jul 2016
Nikon D7200



o tronco e a flor






a flor precisa do tronco
que é suporte – ampara protege
o tronco não precisa da flor
sempre viveu sem ela
quando a flor fenece
posto que tanta beleza
não pode durar para sempre
o tronco – agora só tronco
é desalento solidão



Foto: AVianna, fev 2010, jardim.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Leonardo desenha






Estudos de figuras para a Batalha de Angliari (1504).




Fotografia também é arte




Serena Ho


Clique para ampliar.

Basquiat!

Ao meu amigo Moisés




A sessão de hidroterapia é coisa séria, mas Tonico é um velho debochado.
Enquanto todos entram na água pela escada de alumínio, com todo cuidado – um tombo pode ser fatal –, Tonico, para se mostrar, grita o nome de seu time de futebol e mergulha de cabeça. De início aquilo causava extrema irritação em Laura, a fisioterapeuta chefe, mulher seríssima, nos seus 50 anos bem vividos, corpinho de 25, bonita, elegante no andar, vestindo sempre caça jeans e camiseta polo brancas, e acima de tudo, muito brava, capaz de impor respeito assim que entra na academia. Nem é respeito, é medo mesmo, gritante o silêncio que se faz à chegada da chefe. 
Isso mudou. Mudou graças ao velho Tonico, manco de uma perna, a coluna esbodegada, com sua tendinite crônica do glúteo médio direito, que ele chama de dor-na-bunda, catarata em ambos os olhos de modo a não reconhecer qualquer pessoa a mais de cinco metros de distância, baixinho, careca e barrigudo, além de desbocado. Ah, e surdo. No começo mergulhava escondido de Laura, depois na presença dela, para espanto dos fisioterapeutas que trabalham dentro d’água (Laura anda silenciosamente em torno da grande piscina, a observar atentamente o desempenho de todos, mas não se molha). 
Ao terminar a sessão, certa feita Tonico foi chamado ao consultório de Laura, que lhe pediu educadamente que ele não mergulhasse, a piscina não era funda o suficiente, havia o risco de trauma raquimedular, era um mau exemplo para os demais pacientes, e tome sermão sermão sermão. Não adiantou nada! (Sermão nunca adianta, é perda de tempo.) Dia seguinte Tonico mergulhou de cabeça e foi aplaudido pelos colegas de trabalho.
– Por isso que eu digo, todo psiquiatra é maluco!, exclamou Laura em alto e bom som, para todo mundo ouvir, porém sem qualquer irritação, a rir mesmo da situação, conformada.
Pronto, Tonico é maluco. Ele agora está liberado, pode fazer ou falar o que lhe der na telha, sem restrições porque ele é um velho maluco. Um maluco feliz.
Ao sair do mergulho Tonico passa a mão no rosto, ajeita a touca, cumprimenta a todos, um por um, Bom dia, Bom dia, Como passou desde a última sessão?, Estou melhor, Que bom!, quando encontra Lurdes, que não fala, sussurra, aos 86 anos, é aquele abraço e dois beijinhos, alegria pura; são curtos diálogos de rápido contato pessoal, que Tonico está sim interessado naquelas pessoas que vivem as mesmas dores que ele vive.
Dessa vez, antes de mergulhar, Tonico grita BASQUIAT! Segue-se o silêncio. Passam alguns minutos e aproxima-se lentamente uma mulher que fazia seus exercícios no lado oposto da piscina. Fala com voz mansa e doce, Estou aqui há três  anos e nunca ouvi alguém pronunciar o nome de um artista, você conhece o Basquiat?, Conheço, gosto muito, Eu sou artista plástica, Muito prazer, Dulce Ramos, Tonico, Seu nome todo mundo conhece, por causa dos mergulhos, Ah!. Assim começa preciosa  amizade. É que Tonico é maluco.
Há dois meses Tonico faz seus exercícios ao lado de um rapaz alto, louro, olhos verdes, bonito rapaz, outro de fala mansa e doce, embora calado, compenetrado na fisioterapia. Tonico gostou dele antes mesmo de conhecê-lo, e sem-mais-nem-porque lhe diz, Queria conversar com você, Então te espero depois da minha sessão, Combinado. Tornaram-se grandes amigos, bebem vinho juntos, veem filmes, conversam sobre filosofia, portanto sobre a morte, falam de futebol, contam piadas, às vezes choram, a emoção sempre à flor da pele. 
– Por que você disse naquele dia que queria conversar comigo?
– Sei não. Laura diz que sou maluco. Diz que todo psiquiatra é maluco. Engraçado, nunca fui psiquiatra! Só gosto de gente.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

envelhecimento





há beleza no envelhecimento
da primeira folha da palmeira
desaparece o verde
surge o castanho avermelhado
quase dourado
para melhor refletir o sol
há sabedoria no envelhecimento
da primeira folha da palmeira 




Foto: AVianna, jan 2020
iPhone 11 Pro Max

Cena sobre a neve

Meus quadros favoritos



Adrianus Eversen (1818-1897)
Pintor holandês

Trabalhando no Adolescentro




Tendo em vista a polêmica instituída com o programa de prevenção da gravidez em adolescentes, baseado na abstinência sexual, vamos dar voz a quem sabe das coisas. Cecília Vianna é médica, formada pela Universidade de Brasília, com qualificação em Ginecologia da Infância e Adolescência, e trabalha no Adolescentro de Brasília. 
          Dra. Cecília afirma:

“O Adolescentro é uma unidade de saúde referência do Distrito Federal especializado no acolhimento e tratamento de adolescentes e suas famílias. Os mais de quatro mil atendimentos mensais refletem o impacto do serviço prestado aos usuários da rede pública de saúde.
Em 21 anos de existência, o órgão atendeu adolescentes com depressão, ansiedade, transtornos alimentares e de aprendizagem, vítimas de automutilação ou tentativa de suicídio. Uma das grandes vantagens da unidade é utilizar a abordagem biopsicossocial, incluindo os responsáveis pelos jovens na compreensão e na solução das questões trazidas. 
Destaca-se entre os serviços oferecidos o Grupo de Diversidade, que  cuida de jovens nas questões relacionadas às diversidades sexual e de gênero. Ou seja, cuida das especialidades da sexualidade LGBTI, serviço agraciado com as Boas Práticas em Atenção Psicossocial, trabalho apresentado em Montevidéu para países do Mercosul.
        Desde a sua criação, em setembro de 1998, o Adolescentro vem colhendo prêmios de reconhecimento por seu trabalho. O mais recente foi o Selo de Qualidade, distinção para serviços diferenciados a adolescentes em várias frentes de atuação. Em 2017, foi agraciado com o prêmio Boas Práticas em Atenção Psicossocial, na categoria de Infância e Juventude.
O Adolescentro presta atendimento individual e em grupo para adolescentes de 10 a 18 anos de idade, nas modalidades listadas a seguir:
1. Programa Biopsicossocial (BPS) – acompanha o crescimento e desenvolvimento de jovens, com ênfase em transtornos mentais.
2. Programa de Atenção a Adolescentes com Vivência de Violência Sexual (PAV) – integra a rede de assistência a pessoas em situação de violência no DF.
3. Assistência e tratamento em psiquiatria e neurologia a adolescentes com demandas específicas.
Oferece aos adolescentes já acompanhados no serviço (bem como aos seus familiares e/ou responsáveis) atendimento ambulatorial nas seguintes áreas: Pediatria com atuação em Adolescência; Psiquiatria; Neurologia; Ginecologia; Psicologia; Terapia Ocupacional; Fisioterapia; Fonoaudiologia; Enfermagem; Nutrição; Serviço Social; Odontologia; Práticas Integrativas em Saúde (Hatha Yoga e Reiki).
        Realiza testagens (detecção rápida de gravidez, HIV, sífilis e hepatites virais) em adolescentes em situações indicadas, in loco. Oferece atendimento às vítimas de violência sexual: atendimento individual realizada por equipe multidisciplinar, atendimento a pais e/ou responsáveis com dificuldade no limite e autoridade.
        A área da Ginecologia da Adolescência possui papel necessário e crucial para a evolução do bem estar das adolescentes. Essa especialidade atua no Adolescentro para dar suporte nas áreas da sexualidade, proteção para gravidez na adolescência e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).  
O Adolescentro lida com uma população de adolescentes com risco aumentado para comportamento sexual, o que inclui, início precoce de relação sexual, relacionamento com parceiros mais velhos, múltiplos parceiros, dificuldade de adesão ao preservativo e aos métodos contraceptivos. Outro fator que aumenta o risco de gravidez nesse grupo é o desejo fantasioso de uma gravidez. O trabalho do ginecologista consiste em assegurar a proteção imediata, com inicio de método contraceptivo eficaz, associado a orientações constantes com incentivo ao uso do preservativo.  Aí sim, gradativamente, construir junto à adolescente objetivos de vida e perspectivas para o futuro, que são os melhores elementos de prevenção da gravidez precoce. 
Dessa forma, em concordância com a literatura mundial, o Adolescentro preconiza cada vez mais o uso dos Contraceptivos Reversíveis de Longa Ação (LARCs) para adolescentes.”

                                                           Cecília Vianna 


quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Centenário de João Cabral



Poeta em seu apartamento no Rio de Janeiro, em 1992
Foto: Carlos Chicarino/Estadão


          O MAR E O CANAVIAL

O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.

                               *

O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.


João Cabral de Melo Neto
A educação pela pedra (1962-1965)



João Cabral, o escritor pernambucano que acreditava no extenuante trabalho com a palavra para compor sua poesia, em vez de utilizar-se da inspiração, será festejado ao longo de todo o ano de 2020, a partir desta quinta-feira, quando é lembrado o centenário de seu nascimento (ele morreu em 1999, aos 79 anos).