Uma das peças da exposição. Foto: Isabel Kershner
“Exposição no Museu de Israel, em Jerusalém, Emoglyphs: Picture-Writing From Hieroglyphs to Emoji (Emóglifos: a escrita pictórica, do hieróglifo ao emoji, em tradução livre), mostra a aparentemente óbvia, e ao mesmo tempo complexa, relação entre o sistema icônico de comunicação da Antiguidade e a língua franca da era cibernética.” É o que revela a reportagem de Isabel Kershner, do New York Times / Jerusalém, para O Estado de S.Paulo (27 jan 2020). (Tradução de Roberto Muniz.)
“Sempre foi difícil explicar como se leem hieróglifos”, disse Shirly Ben Dor Evian, egiptóloga e curadora da mostra. “Mas hoje ficou mais fácil porque as pessoas estão escrevendo com desenhos. Por isso comecei a prestar atenção em emojis.”
Evian notou que alguns emojis parecem hieróglifos. “Um cartaz na entrada da exposição contrapõe uma coluna de hieróglifos a uma de emojis. As similaridades são indiscutíveis e não há necessidade de tradução.” “A representação egípcia de um cão genérico tem uma semelhança muito próxima com um cão de emoji mostrado de perfil. Um pato, imagem frequentemente usada nos hieróglifos para simbolizar uma criatura alada, reaparece milhares de anos depois como um pato de emoji. E um homem dançando num emoji faz uma pose semelhante à de um dançarino de hieróglifo de 3 mil anos.”
“Hoje é mais fácil clicar num emoji que escrever uma palavra inteira”, afirmou Ben Dor Evian, que tem um aplicativo de hieróglifo no celular. Emojis são uma taquigrafia emocional. Pense no poder de um coração mandando um beijo, ou de uma cara cínica significando sarcasmo, quando ilustram um sentimento que uma inexpressiva mensagem de texto não consegue expressar.”
Em 2015, os Dicionários Oxford elegeram o emoji de um rosto com lágrimas de alegria como sua palavra do ano, dizendo que ele expressava “o comportamento, os sentimentos e as preocupações” do período.
Há quem discorde: “Chaim Noy, professor de comunicações da Universidade Bar Ilan, em Tel-Aviv, considera simplista e populista falar em emoji como nova linguagem. Ele vê os símbolos apenas como uma espécie de linguagem corporal que suplementa o texto.”
Este blogueiro, que nada entende do assunto, como sempre, mas é mestre na arte de palpitar, fica com o ponto de vista do Prof. Chaim! Quando acessamos o Facebook, fica evidente que a generalizada utilização dos emojis empobrece a comunicação. Perco um bom tempo da manhã para escrever um texto de interesse geral, sobre ciência, por exemplo, publico no blog, e quem o acessa via Facebook coloca apenas uma mãozinha amarela com o polegar virado para cima. (Talvez por educação o polegar não está para baixo...)
O valor da escrita tem sido enaltecido ad nauseam neste blog. Enfatizo, sempre que posso, o que denomino Escrita terapêutica, que tem o poder de organizar nossos pensamentos, abrir a mente para novas perspectivas, pensar alternativas, utilizar realidade e ficção para expandir o “aparelho de pensar” (Bion) , acalmar o espírito. Não posso imaginar os emojis cumprindo tal tarefa. (O que pensaria Machado de Assis sobre isso tudo?)
Há uma agravante: quanto mais se usa o emoji, menos se escreve, até que um dia todos serão analfabetos.
Mesmo assim, gostaria muito de visitar a exposição em Jerusalém, e continuar pensando no assunto.
Dizer que emojis são uma linguagem parece mesmo um exagero. No máximo, interjeições. Só que, daqui a pouco, a moçada não vai mais saber o que é uma interjeição...
ResponderExcluirInterjeição, nem pensar!
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