Há quem
afirme que quando morre um poeta uma estrela se apaga no céu. Penso que as
estrelas se apagam independentemente do que ocorre nesse pequeno planeta que
habitamos, mas é sempre triste a morte de um poeta, pois o mundo torna-se mais
concreto.
Ontem morreu Ivan Junqueira, poeta,
ensaísta, crítico literário, tradutor de primeiríssima qualidade.
Vou a minha estante de poesia e
retiro um pequeno livro com o delicioso título de A sagração dos ossos
(Civilização Brasileira, 1994). O prefácio é de Antônio Carlos Secchin e tem
uma bela abertura: “Entre mortos e feridos, salva-se ninguém. Com efeito, é de
perdas e dissipações que se ocupa este livro de Ivan Junqueira, e não será
exagero afirmar que, na muito intensa e pouco extensa poesia do autor, A
sagração dos ossos representa a culminância de temas e formas obsessivamente
trabalhados ao longo de mais de trinta anos de exercício criador”.
Pois é deste livro que retiro certo
poema, que transcrevo como singela homenagem ao poeta Ivan Junqueira.
E se eu disser
E
se eu disser que te amo – assim, de cara,
sem
mais delonga ou tímidos rodeios,
sem
nem saber se a confissão te enfara
ou
se te apraz o emprego de tais meios?
E
se eu disser que sonho com teus seios,
teu
ventre, tuas coxas, tua clara
maneira
de sorrir, os lábios cheios
da
luz que escorre de uma estrela rara?
E
se eu disser que à noite não consigo
sequer
adormecer porque te agarro
à
imagem que de ti em vão persigo?
Pois
eis que o digo, amor. E logo esbarro
em
tua ausência – essa lâmina exata
que
me penetra e fere e sangra e mata.
Morre o poeta, fica a poesia.
Hmmm!!!....
ResponderExcluirIsto é o que se chama um soneto perfeito!