terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Porquinho-da-índia

 


 

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

 

– O meu porquinho-da-índia foi a minha 

                                       [primeira namorada.



           

           Manuel Bandeira

           Libertinagem

           Poesia e prosa completa

           Ed. Nova Aguilar, 1990




Aprendi pouca coisa, quase nada, nessa vida tão curta. Pois foi no domingo passado, aos 75 anos, que ouvi pela primeira vez, na voz de minha mulher, este poema de Manuel Bandeira. Logo eu, que passei toda minha vida lendo Bandeira, interessado na relação dele com a morte, de como enfrentou a terrível tuberculose, e venceu com a ajuda da Poesia.

 

Hoje prefiro o humor e a ironia de Bandeira, tão bem expressos nesse poema. Mercêdes foi apresentada ao porquinho-da-índia ainda menina, estudante de escola pública no interior de Minas Gerais. Conheci Bandeira na escola pública no interior de São Paulo.

 

Como eram excelentes as escolas públicas de antigamente!  

           

2 comentários:

  1. Primor de poeminha! Como não gostar? Por que tirar das escolas?

    ResponderExcluir
  2. Poetas têm essa propriedade de serem ressuscitados. Não há tuberculose que dê jeito nisso.

    ResponderExcluir