terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Satélite

 



Fim de tarde.

No céu plúmbeo

A Lua baça

Paira

Muito cosmograficamente

Satélite.

 

Desmetaforizada,

Desmistificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,

Não é agora o golfão de cismas,

O astro dos loucos e dos enamorados.

Mas tão-somente

Satélite.

 

Ah Lua deste fim de tarde,

Demissionária de atribuições românticas,

Sem show para as disponibilidades sentimentais!

 

Fatigado de mais-valia,

Gosto de ti assim:

Coisa em si,

– Satélite.

 

 

                        Manuel Bandeira

                        Estrela da tarde

                        Poesia completa e prosa

                        Ed. Nova Aguilar, 1990

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