Com a chegada das chuvas, numa manhã de céu azul e sol de primavera, plantei em meu jardim muda de ipê, alheio à sua natureza, se roxo, amarelo ou branco. Certeza mesmo, apenas que não o verei florir.
Isso fez brotar em mim sentimento de quase felicidade, leveza amena, meigo desprendimento, desapego enfim de saber o meu lugar na vida, no mundo.
Produziu em mim a calma de antecipar que a árvore há de florir na minha ausência e será grandiosa, admirada por todos que a virem, porque será bela e
porque é árvore.
A súbita percepção tornou a vida um rio fluido e fácil, a remover em seu caudaloso leito todo o peso da pedra, dos nós, das farpas e quinas, a lavar qualquer culpa ou responsabilidade por me saber passageiro, mais efêmero que o próprio ipê.
Alguém há de cuidar que cresça forte e sadio a pequenina muda de ipê que plantei em meu jardim. Isso me basta, fiz o que pude.
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