Em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967, João Guimarães Rosa começou descrevendo, com a maestria própria, sua terra natal:
“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entre gentis morros ou sob o demais de estrelas.”
Três dias depois de ser empossado na Academia Brasileira de Letras, João Guimarães Rosa teve um ataque cardíaco e morreu. Ele havia sido indicado para o prêmio Nobel de Literatura.
Amanhã, dia 27 de junho, são comemorados 110 anos de seu nascimento.
Capela São José, patrimônio da cidade
Foto: Atílio Avancini
O artigo de Leila Kiyomura (22 jun 2018) para o Jornal da USP, trata do acervo de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que foi adquirido em 1972, cinco anos depois de sua morte. É a principal fonte para quem pesquisa o autor.”
Afirma Kiyomura: “É a essência do mundo mágico e do sertão de João Guimarães Rosa que os estudantes, professores e pesquisadores encontram no acervo do escritor no IEB. “Esse acervo é composto da biblioteca, com cerca de 3.500 volumes, com uma variedade ampla de assuntos, e há também o arquivo documental, com os seus cadernos de anotações, livros inacabados, fotos e uma infinidade de documentos”, conta a professora Sandra Guardini Vasconcelos, professora do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.”
A professora fala sobre o escritor, sua obra e o acervo adquirido pela USP: “Guimarães Rosa começa sua carreira literária em 1946, com o livro de contos Sagarana, que foi muito elogiado pela crítica. Dez anos depois, lança duas obras monumentais: Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. E se torna um escritor reconhecido, definitivamente incorporado na grande galeria dos escritores brasileiros.”
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Escreve Kiyomura: “Emociona ver as primeiras páginas do diário da viagem que Rosa fez em 1952 (muitas dessas anotações serviriam posteriormente para a redação de Corpo de Baile), originais que revelam o escritor lapidando cada palavra, lendo e relendo. Um apuro de um escritor artesão e que tornou sua obra uma arte universal, como bem lembrava Antonio Cândido. O crítico e professor da USP afirmou: “A gente sentia que o regionalismo dele tinha universalidade dos temas, uma vibração espiritual sobre os grandes problemas que atormentam o homem. A linguagem dele não era documentária, na verdade ele estava criando, inventando uma linguagem plantada em Cordisburgo, mas estava ligada às raízes da língua portuguesa.”
Cadernos contêm também desenhos de Guimarães Rosa
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Ler-reler-ler-outra-vez-ler-sempre Grande Sertão – Veredas, eis o maior prazer que um livro pode nos proporcionar.
O homem foi fenomenal. Até Esperanto ele falava.
ResponderExcluirSó não imagino como deve ser traduzir o Rosa para outras línguas.