terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Não foi castigo dos deuses



Margem norte da Praça Grande de Teposcolula. Sob sua base foi encontrado um cemitério com corpos de vítimas do ‘cocoliztli’
Christina Warinner.
Projeto Arqueológico Teposcolula-Yucundaa


“Quando Hernán Cortés pisou em solo mexicano em 1519, havia na região mesoamericana entre 15 e 30 milhões de índios. Ao final do século XVI, mal restavam dois milhões. Embora as guerras e a exploração tenham liquidado muitos indígenas, foram as epidemias que dizimaram a população. Em especial uma série de surtos de uma enfermidade desconhecida, que não tinha nome nem em espanhol nem em náhuatl, e que os mexicas chamaram de cocoliztli (o mal ou pestilência), matou entre 50% e 90% dos indígenas. Agora, um estudo com o DNA antigo pode ter identificado esse agente patogênico: a salmonela.”
Assim tem início a impressionante reportagem de Miguel Ángel Criado para El País (15 JAN 2018).
Os sintomas eram febre alta, dores estomacais, diarreia, sangramento por todos os orifícios do corpo e icterícia. A morte ocorria num prazo de três ou quatro dias. Houve quem a visse como um castigo divino, já que afetava só os indígenas, enquanto os espanhóis pareciam imunes.
Segundo Criado, houve seis grandes surtos de cocoliztli no século XVI, sendo que as duas grandes epidemias foram as de 1545 e a de 1576. Na primeira, estima-se que 80% da população morreu. Na segunda, já com dados de dois censos de famílias espanholas e indígenas, morreram 45% dos nativos, que àquela altura eram apenas quatro milhões.
Eis o aspecto mais interessante da reportagem: “Agora, um grupo de arqueólogos mexicanos e especialistas alemães em DNA antigo acreditam ter identificado no sítio arqueológico de Yucundaa-Teposcolula o agente patogênico que causou tamanha mortandade. Localizado na Mixteca Alta (Oaxaca, México), sob a praça central da cidade, esse sítio arqueológico guarda os restos de dezenas de pessoas enterradas naquela época, segundo a datação por radiação de carbono. Com as precauções exigidas pela dificuldade inerente à análise de um material genético estranho em restos com quase 500 anos de idade, os autores do estudo acharam a presença de uma bactéria, a Salmonella enterica, nos dentes de indígenas que morreram durante a epidemia.”





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