Janelas quebradas de uma gráfica judia depredada, em Berlim.
(Library of
Congress Courtesy Everett Collection / Cordon Press)
Um certo bibliófilo, intrigado pela
capa sóbria e pelo título enigmático do livro intitulado Rien Où Poser La
Tête (Nenhum Lugar para Encostar A Cabeça), acabou por descobrir o
testemunho de uma judia polonesa, fundadora da primeira livraria francesa de
Berlim em 1921. Trata-se da obra de Françoise Frenkel, que passou 70 anos
extraviada e reapareceu em um sebo de Nice em 2010.
Ela cruzou a Europa fugindo dos nazistas: da capital alemã
a Paris, e dali até Nice, onde cruzou a fronteira suíça. A autora terminou o
manuscrito em 1944 à margem do Lago dos Quatro Cantões, na Suíça, onde seria
publicado um ano mais tarde pela extinta editora Jeheber.
Segundo Álex
Vicente, de Paris para El País (7 fev 2017), “sentindo-se, enfim, a salvo, Frenkel
pôs-se a escrever para registrar sua experiência. Mas o fez com rara contenção.
Mais que uma denúncia da perseguição e da vida na clandestinidade ao longo de
seu périplo, a obra foi concebida como uma homenagem “aos homens de boa vontade
e valentia inesgotável” que conseguiram “resistir até o final”. A escritora
deixou as passagens mais traumáticas de sua existência fora de suas páginas.
Frenkel se esforça para ressaltar a generosidade dos estranhos. Insinua os
comportamentos mesquinhos com um irônico desdém. O nome de seu marido, Simon
Rachenstein, deportado para Auschwitz em 1942, nem sequer é mencionado.”
Frenkel morreu em janeiro de 1975,
deixando apenas alguns documentos, algumas roupas e duas máquinas de escrever.
Até hoje não foi encontrada nenhuma foto da autora.
Ainda não há previsão para a publicação
da obra em português. Esperemos.
Esperemos sempre que uma gota de humanidade supere o mar de horror.
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