O Estado da
Arte publica a segunda parte do ensaio do psicanalista e doutor em
filosofia Alberto Rocha
Barros sobre a exposição “Ocidente”, do artista plástico Felipe Cohen. “A Questão do
Belo” dá título ao artigo.
Depois de discutir a concepção do que é a Beleza,
Rocha Barros analisa uma obra de Cohen:
“A referência
renascentista permanece. Ele empresta das paisagens renascentistas três
elementos: um gosto por ambientes geometrizados, de atmosfera quase surreal ou
fantástica; um interesse pelo contraste entre montanhas, céu e mar; uma
combinação de tons rosáceos, azulados e amarronzados. Poderíamos utilizar como
referência o seguinte quadro de Andrea Mantegna:
Vejamos agora a criação de Cohen sobre o tema:
Série “Luz Partida”, Felipe Cohen, 2016.
Afirma
Rocha Barros:
“A
violência da tradução de uma linguagem para a outra é evidente. Dificilmente
identificaríamos a fonte de inspiração. Mas talvez isso seja próprio da
tradução artística. É bem conhecida as dificuldades de verter um poema de sua
língua original para qualquer outra. As transformações e transposições
necessárias são altamente agressivas. Mas, quando bem sucedidas, um substrato e
um conjunto de temas e ideias permanece. Em sua releitura das paisagens
italianas dos séculos XV e XVI, Cohen preserva um conjunto mínimo de pontes de
apoio.”
Em
seguida Barros nos oferece uma análise interessante sobre a percepção que o
expectador pode obter da tela, vendo-a de distâncias diferentes,
aproximando-se, distanciando-se, caminhando ao redor da tela.
“A tela
acima perde um pouco de sua vivacidade na reprodução fotográfica. Ela depende
da e demanda a incidência de luz e o movimento do expectador. Caminhando ao
redor dela, aproximando-nos ou distanciando, a luz ativa a tela: a geometria dura dos triângulos amolece,
movimentos sutis tornam-se perceptíveis. Um feixe de sol, representado pelo
triângulo “amarelado” no alto à esquerda incide sobre as montanhas e a água.
Uma das faces de uma das montanhas banha-se em rosa. Uma ilusão de profundidade
começa a transparecer. Notamos a sombra na qual a face do monte mais próximo de
nós ainda está envolvido. As águas fluem e tremulam. Essa tentativa de vencer o
próprio pendor pelo imperativo do sistema geométrico e presentear o espectador
leigo com uma paisagem apaziguante nada mais é do que uma humilde tentativa de
satisfazer nossos anseios pelo belo.”
Porém, nossos "anseios pelo belo" permanecem.
A comparação ficou menos clara que a anterior, talvez pela insuficiência da reprodução fotográfica. Mas o exercício continua estimulante!
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