segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Felipe Cohen, parte 2

O Estado da Arte publica a segunda parte do ensaio do psicanalista e doutor em filosofia Alberto Rocha Barros sobre a exposição “Ocidente”, do artista plástico Felipe Cohen. “A Questão do Belo” dá título ao artigo.
Depois de discutir a concepção do que é a Beleza, Rocha Barros analisa uma obra de Cohen:

“A referência renascentista permanece. Ele empresta das paisagens renascentistas três elementos: um gosto por ambientes geometrizados, de atmosfera quase surreal ou fantástica; um interesse pelo contraste entre montanhas, céu e mar; uma combinação de tons rosáceos, azulados e amarronzados. Poderíamos utilizar como referência o seguinte quadro de Andrea Mantegna:



Vejamos agora a criação de Cohen sobre o tema:
  
  
Série “Luz Partida”, Felipe Cohen, 2016.

            Afirma Rocha Barros:

“A violência da tradução de uma linguagem para a outra é evidente. Dificilmente identificaríamos a fonte de inspiração. Mas talvez isso seja próprio da tradução artística. É bem conhecida as dificuldades de verter um poema de sua língua original para qualquer outra. As transformações e transposições necessárias são altamente agressivas. Mas, quando bem sucedidas, um substrato e um conjunto de temas e ideias permanece. Em sua releitura das paisagens italianas dos séculos XV e XVI, Cohen preserva um conjunto mínimo de pontes de apoio.”

            Em seguida Barros nos oferece uma análise interessante sobre a percepção que o expectador pode obter da tela, vendo-a de distâncias diferentes, aproximando-se, distanciando-se, caminhando ao redor da tela.

“A tela acima perde um pouco de sua vivacidade na reprodução fotográfica. Ela depende da e demanda a incidência de luz e o movimento do expectador. Caminhando ao redor dela, aproximando-nos ou distanciando, a luz ativa a tela: a geometria dura dos triângulos amolece, movimentos sutis tornam-se perceptíveis. Um feixe de sol, representado pelo triângulo “amarelado” no alto à esquerda incide sobre as montanhas e a água. Uma das faces de uma das montanhas banha-se em rosa. Uma ilusão de profundidade começa a transparecer. Notamos a sombra na qual a face do monte mais próximo de nós ainda está envolvido. As águas fluem e tremulam. Essa tentativa de vencer o próprio pendor pelo imperativo do sistema geométrico e presentear o espectador leigo com uma paisagem apaziguante nada mais é do que uma humilde tentativa de satisfazer nossos anseios pelo belo.”

      Porém, nossos "anseios pelo belo" permanecem.




Um comentário:

  1. A comparação ficou menos clara que a anterior, talvez pela insuficiência da reprodução fotográfica. Mas o exercício continua estimulante!

    ResponderExcluir