segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A arte de Felipe Cohen

Alberto Rocha Barros, psicanalista e doutor em filosofia, publica no Estadão a primeira das três partes de seu ensaio sobre a exposição Ocidente, de Felipe Cohen (reportagem de Eduardo Wolf, 14/12/2016). O título é Felipe Cohen: do modernismo brasileiro à pintura italiana – Parte 1.
            Interessantíssimo o ensaio, uma aula para se compreender melhor a arte contemporânea, que tem início com a seguinte pergunta:

“A arte contemporânea vive um momento singular de sua trajetória? Duas tendências sugerem que sim. Primeiro, o rompimento com o passado, sobretudo com os mestres canônicos da tradição, fez com que a arte clássica, medieval ou renascentista, deixasse de ser referência ou inspiração aos artistas. Além disso, a busca pelo “belo” não é mais o elemento norteador para muitos artistas visuais: mais urgentes são batalhas conceituais, pautas sócio-políticas ou o estímulo de efeitos específicos no espectador. Nelas mesmas, essas tendências não merecem aplauso ou repúdio, pois assim como nunca teríamos aprendido apreciar formas artísticas variadas sem as vanguardas, é inegável que o coro “abaixo o cânone!”, quando em uníssono, é empobrecedor.”

       A primeira peça da exposição de Felipe Cohen (todas pinturas são em madeira) é a seguinte:


“Sem Título”, 2016.


“E é sobre a morte que trata esse quadro, tendo por inspiração a sepultura aberta que aparece em várias pinturas a respeito da ressureição de Cristo durante o período medieval e renascentista, como nesta de Fra Angélico, utilizada por Cohen como modelo:


“A Ressurreição de Cristo e as Mulheres na Tumba” (1440-41)

            Vejamos a análise de Alberto Rocha Barros:

“Cohen preserva e até aprofunda a ilusão de “vazio” do túmulo, mas drena o quadro de suas cores e personagens, criando uma atmosfera modernizante que remete àquelas paisagens ermas e severamente geométricas de outro pintor italiano, Giorgio de Chirico. Ou às composições estilizadas de Giorgio Morandi. É um quadro extremamente minimalista, o que convida o expectador à reflexão.
Tendo a morte por tema, a opção não é descabida e, ao reduzir o Fra Angélico ao essencial – o túmulo vazio do Cristo renascido –, Cohen alude também a uma de suas obsessões visuais: o interesse recorrente pelos “fundos de quadro”, algo muito presente em toda a exposição, e que acaba por dominar essa tela. Afinal, não sobra nela outra coisa a não ser túmulo e fundo.”
  
A escultura também está presente na exposição de Cohen:

  
Ocaso #3, 2016.


“O que vemos é um sol se pondo no mar. Há um reflexo na água, criado por um jogo natural de luz e sombra. Novamente, as cores e tonalidades são brandas e contidas, e o espaço narrativo é límpido e abstrato. Não é um sol fulgurante e reluzente, mas uma criação geométrica.”

            É preciso educar-se para apreciar melhor a arte contemporânea.


Vale a pena ler o artigo integral:



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