Alberto Rocha Barros, psicanalista e doutor em filosofia, publica no
Estadão a primeira das três partes de seu ensaio sobre a exposição Ocidente, de Felipe Cohen (reportagem de Eduardo
Wolf, 14/12/2016). O título é Felipe Cohen: do modernismo brasileiro à
pintura italiana – Parte 1.
Interessantíssimo
o ensaio, uma aula para se compreender melhor a arte contemporânea, que tem
início com a seguinte pergunta:
“A arte
contemporânea vive um momento singular de sua trajetória? Duas tendências
sugerem que sim. Primeiro, o rompimento com o passado, sobretudo com os mestres
canônicos da tradição, fez com que a arte clássica, medieval ou renascentista,
deixasse de ser referência ou inspiração aos artistas. Além disso, a busca pelo
“belo” não é mais o elemento norteador para muitos artistas visuais: mais
urgentes são batalhas conceituais, pautas sócio-políticas ou o estímulo de
efeitos específicos no espectador. Nelas mesmas, essas tendências não merecem
aplauso ou repúdio, pois assim como nunca teríamos aprendido apreciar formas
artísticas variadas sem as vanguardas, é inegável que o coro “abaixo o
cânone!”, quando em uníssono, é empobrecedor.”
A primeira peça da exposição de Felipe Cohen (todas
pinturas são em madeira) é a seguinte:
“Sem Título”, 2016.
“E é
sobre a morte que trata esse quadro, tendo por inspiração a sepultura aberta
que aparece em várias pinturas a respeito da ressureição de Cristo durante o
período medieval e renascentista, como nesta de Fra Angélico, utilizada por
Cohen como modelo:
“A Ressurreição de Cristo e
as Mulheres na Tumba” (1440-41)
Vejamos a
análise de Alberto Rocha Barros:
“Cohen
preserva e até aprofunda a ilusão de “vazio” do túmulo, mas drena o quadro de
suas cores e personagens, criando uma atmosfera modernizante que remete àquelas
paisagens ermas e severamente geométricas de outro pintor italiano, Giorgio de
Chirico. Ou às composições estilizadas de Giorgio Morandi. É um quadro
extremamente minimalista, o que convida o expectador à reflexão.
Tendo a
morte por tema, a opção não é descabida e, ao reduzir o Fra Angélico ao
essencial – o túmulo vazio do Cristo renascido –, Cohen alude também a uma de
suas obsessões visuais: o interesse recorrente pelos “fundos de quadro”, algo
muito presente em toda a exposição, e que acaba por dominar essa tela. Afinal,
não sobra nela outra coisa a não ser túmulo e fundo.”
A escultura também está
presente na exposição de Cohen:
Ocaso #3, 2016.
“O que
vemos é um sol se pondo no mar. Há um reflexo na água, criado por um jogo
natural de luz e sombra. Novamente, as cores e tonalidades são brandas e
contidas, e o espaço narrativo é límpido e abstrato. Não é um sol fulgurante e
reluzente, mas uma criação geométrica.”
É
preciso educar-se para apreciar melhor a arte contemporânea.
Vale a pena ler o artigo integral:
Muito interessante. Antes de negar, procurar entender...
ResponderExcluir