Uma
jornalista, recentemente, resolveu denunciar certos fatos decorrentes de antiga
relação com um certo ex-presidente da república sob a alegação de que não
poderia levá-los para o túmulo. Ora, não me interessam nomes, datas, detalhes
mais ou menos escabrosos, nem mesmo os fatos em si me interessam. O que me
chamou a atenção e tornou-se razão desta crônica é isso de não se poder levar
para o túmulo.
Então existe isso, coisas que
podemos levar e coisas que não podemos levar para a sepultura! Todos nós, os
humanos, sem exceção, erramos muito ao longo de nossas vidas, desde a mais
tenra infância, onde as mentiras são frequentes – já se disse até que, quem nunca errou que
atire a primeira pedra! E como são raríssimos os casos de pessoas que tornam
públicos os seus malfeitos, deslizes, ilícitos, então devo concluir que todo
esse lixo por nós produzido ao longo da vida só pode mesmo ir para o túmulo.
Que
bom, o mundo fica mais limpo e perfumado com todas essas excrecências bem
enterradas. Ou cremadas, se assim o freguês assim o preferir.
Agora vem esta senhora alegando o
contrário, que não poderia deixar de tornar públicos certos fatos. Fico
imaginando o que poderia ser tão grave, tão relevante para humanidade,
indispensável para o correto estabelecimento do rumo da História, que devesse
obrigatoriamente ser revelado em vida por uma pessoa, sob pena de acarretar
dano irreparável ao registro da evolução do Homo sapiens neste planeta.
É possível que haja situações em que
todos tenhamos o direito de conhecer os fatos, e o delator, obrigação de
delatar. Por exemplo: Eu estive mesmo com o ET de Varginha, ele existe, transei
com ele, depois jantamos juntos, tomamos um vinho razoável, ele prometeu
levar-me para conhecer o mundo dele, localizado em outra galáxia.
Ou, foi Deus mesmo quem autorizou que
Maradona fizesse aquele gol de mão em cima dos filhos-da-puta dos ingleses.
Ainda, alguém que pudesse esclarecer
definitivamente se o Maluf tem ou nunca teve mesmo contas no exterior.
Porém, se não houvesse quem pudesse
esclarecer as três questões acima, o mundo perderia muito pouca coisa. Melhor
nem esclarecer, para alimentar conversas de botequim ao longo dos séculos.
Portanto, caro leitor, guarde bem
guardado tudo aquilo de que você não se orgulha; contamos que vá em paz para o
túmulo.
Espetacular esta crônica, André! Você devia encaminhá-la ao Correio Brasiliense para que alcance mais leitores ainda que os deste conhecidíssimo blog. Essa história de não poder levar coisas para o túmulo é de doer...
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