domingo, 3 de janeiro de 2016

Quem tem medo de Quentin Tarantino?


Há quem não goste de western – desde já aviso que prefiro a palavra faroeste, bem brasileira. Será aquele tipo de preconceito que leva certas pessoas a eliminarem determinadas escolhas, por simples capricho? Por exemplo, Não gosto de literatura policial, Não gosto do Zeca Pagodinho, vai por aí afora. Mas como é possível não gostar de Era uma vez no Oeste, dirigido por Sergio Leone (1968)?
            Há dois dias assisti em sessão de pré-estreia Os oito odiados, o segundo faroeste de Tarantino, de quem sou fã de carteirinha; o primeiro foi Django livre. Só posso dizer que se trata de um filme de arte!
            O filme tem início com a deslumbrante paisagem dos caminhos tomados pela neve espessa, grandes montanhas geladas, e a carruagem – forte elemento desse gênero de filme – deslizando pela nevasca que mais parece o fim do mundo, tudo filmado com lente 70 mm. Após alguns incidentes e muita conversa – o niger Samuel L. Jackson rouba a cena –, a violência já se faz presente, quando uma mulher é seguidamente espancada. Enfim, chegam à estalagem. E a filmagem prossegue com a mesma lente de 70 mm, o que confere às cenas um belíssimo efeito de grande angular.
            Haverá violência? Claro que sim.
            Sugiro aos que têm medo de Tarantino que não levem a sério esta mesma violência; ela faz parte do gênero; as pessoas são rudes; são caipiras de pouca ou nenhuma sensibilidade; e respeitam acima de tudo a lei do mais forte, o império da bala. Não há outra coisa a esperar deles. Chega a existir mesmo uma certa ingenuidade na crença cega no revólver, nome antigo da pistola. E Tarantino esbanja senso de humor, mesmo nas cenas mais “violentas”; é a força da caricatura, presente em todos os seus filmes, a partir de Cães de Aluguel (há forte semelhança entre este e o atual, embora de gêneros bem distintos).
            Em tempo: no dia seguinte fui ver Macbeth, dirigido por Justin Kurzel e estrelado pelo grande Fassbender. Aquilo sim, é violência! Não há lugar para  ingenuidade, senão ambição desmedida pelo poder e violência insana. É o culto da guerra. Horror horror horror, sem piedade.
            Não é o que acontece no faroeste.

Nota: *****

6 comentários:

  1. Vi o anúncio do filme e imediatamente pensei em você no primeiro dia que passaria o filme você já estaria lá. Tarantino tem uma nova fã Sarah que já assistiu Django seis vezes! Quando der verei.

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  2. Fã de carteirinha, adorei! (o filme e o artigo)

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  3. Não gosto de violência - seja ela estilizada, disfarçada, glamourizada, ironizada, sarcástica ou artística. O mundo está saturado de violência. Tarantino poderia usar seu (inegável) talento para outras das grandes indagações da humanidade. Prefiro Woody Allen.

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    1. Cinema é arte democrática por excelência: tem pra todos os gostos!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Têm umas cenas visualmente belíssimas, como bem no início, que a câmara vai distanciando de uma estátua de Jesus escavada em madeira no meio do nada com o mundo coberto de neve. Uma música que começa baixa e vai intensificando à medida que vamos identificando a figura de Cristo.

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