“O
livro mais misterioso do mundo”, este o provocante título da reportagem de Borja Hermoso (12/12), Burgos, Espanha, sobre o maior enigma editorial da Idade Média, o chamado Código Voynich.
Trata-se de livro desordenado de 234 páginas, de 22,5 por 16 centímetros,
que há 50 anos permanece na Biblioteca Beinecke, Universidade Yale, à espera de
que alguém desvende seu mistério. Interroga-se: “Caderno botânico de plantas
inexistentes? Tratado cosmológico? Obra de iniciação esotérica? Código élfico?
Livro cabalístico? Relato bélico? Catálogo de poções para magia? Solução
anticoncepcional para mulheres medievais pecadoras? O diário de um
extraterrestre? Estudo sobre a transmutação da pedra filosofal?”
Ou se trata de uma fraude? Diz a reportagem:
“Há quem ainda acredite nisso, mas faz tempo que esta hipótese perdeu força.
Exatamente desde que, nos anos 40, o linguista norte-americano George Zipf
formulou a Lei de Zipf sobre a frequência das palavras utilizadas em um texto.
Segundo esse princípio, o vocábulo mais utilizado aparece o dobro de vezes que
o segundo mais utilizado, o triplo de vezes que o terceiro, o quádruplo que o
quarto, e assim sucessivamente. Os estudiosos confirmaram há tempos que o texto
de Voynich segue essa
matemática da palavra... e evidentemente ninguém no século XV (data
cientificamente comprovada da origem do texto) podia conhecer essa teoria.”
O código foi descoberto há mais de um
século, de forma casual, pelo livreiro lituano Wilfrid Wojnicz em Villa Mondragone — uma mansão perto de Roma
que pertenceu à família Borghese. E o mistério permanece: “Não se sabe quem o
escreveu, quem o ilustrou, e com que intenção. Não se sabe em que idioma está
escrito. Há quem o identifique com o sânscrito, outros preferem aparentá-lo com
uma possível língua oriental, talvez indiana, há quem fale do tâmil e até de um
experimento de língua universal comparável ao esperanto. Não se sabe se no
final das contas é uma linguagem criptografada (nem os maiores especialistas
norte-americanos em decodificação de códigos militares foram capazes de
solucionar a questão com um mínimo de confiabilidade).”
Em 2011, o teste de Carbono 14
realizado no manuscrito por uma equipe da Universidade do Arizona apontou a
data aproximada da criação do Voynich:
um dia entre 1404 e 1438.
No mês passado, Stephen Bax, professor
da Universidade de Berdfordshire, no Reino Unido, afirmou que “havia decifrado
14 símbolos dos milhares que povoam o livro”.
A editora espanhola Siloé, em Burgos, foi
escolhida pela Universidade Yale entre aspirantes de todo o mundo para clonar o
manuscrito. E vejam com que cuidado é feito o trabalho: “Cada folha é
trabalhada de modo independente, não utilizamos peças e máquinas. Tudo é feito
à mão, página por página, para que o livro tenha o mesmo contorno envelhecido
que o original. E depois é preciso levar em conta que estamos diante de uma
matéria viva que permaneceu praticamente inerte durante 600 anos, e passando
por diferentes fases climatológicas e de conservação, que deve ter estado em
lugares com umidade, em lugares secos, que lhe lançaram mais luz ou menos luz.
Livros como esse costumam ter uma desidratação em maior ou menor grau, e tudo
isso lhe deu em algumas partes um aspecto de queimado... e quando você vira as
páginas há como um crepitar, uma espécie de semiestalido, e tudo isso tem de
ser conseguido, e é tecnicamente muito complicado”.
Tem mais: “É um livro feito em vitela,
ou seja, em pele de animal não nascido, a pele do feto de um cordeiro ou de um bezerro,
o material mais suave e delicado que você pode obter. E o livro, além disso,
tem folhas que se abrem, se desdobram, se multiplicam... e isso torna tudo mais
complicado tecnicamente”.
Paradoxalmente, o Código Voynich, um livro de 600 anos
de idade, por não poder ser lido, pode apenas ser meramente contemplado, “do
mesmo modo que uma criança contempla um gibi ou um livro quando ainda não
aprendeu a ler.”
Não é espetacular tudo isso?!
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