A minha filha Cecília.
No zoológico de Belo
Horizonte, com quatro dias de vida, o bebê gorila ainda não saiu do colo da mãe,
e por isso os cuidadores não puderam esclarecer nem mesmo o sexo dele. A mãe
não o deixa por um minuto sequer. O pai fica por perto, naturalmente protetor.
Este
comportamento, tão semelhante ao dos humanos, oferece bem a dimensão de quão
próximas estão estas duas espécies, ao longo da evolução animal. Ao me referir
aos humanos, quando nasce um bebê, gosto de pensar que “a mãe enlouquece”. O
fenômeno ocorre alguns dias antes do parto e prolonga-se por uns dez dias
pós-parto. A mulher está completamente voltada para sua cria, ela e o bebê são
um só, o que é possível apenas numa espécie de enlouquecimento, pois de fato
são duas pessoas que se interagem. Aos poucos a relação normaliza-se. (Quando
isso não acontece, podem surgir as patologias puerperais, como a psicose
pós-parto.)
Trata-se de um modo muito
sofisticado de preservação da espécie, através do cuidado total para com o
nascituro. Portanto, o que observamos nessas situações é um “enlouquecimento
sadio”, adquirido através de milhões de anos de evolução.
Quando
comparo criacionismo e evolucionismo, confesso que este último provoca em mim grande
emoção, é para mim de uma beleza sem par, e de uma complexidade espantosa,
muito maior do que a ideia de uma criação divina instantânea, completa e quiçá
perfeita.
Entretanto,
a “criação divina” merece todo o meu respeito e admiração, por se tratar de uma
bela e espantosa criação humana. E dela o homem tem se valido em momentos
difíceis, diante da necessidade urgente de consolo moral; mas que também tem
servido para a deflagração das guerras santas, presentes até os nossos dias.
Charles
Robert Darwin (1809-1882) é o mais importante cientista ligado ao evolucionismo.
Este inglês publicou em 1859 a obra Sobre a origem das espécies por meio da
seleção natural ou a conservação das raças favorecidas na luta pela vida,
mais conhecida como A Origem das Espécies.
A teoria
elaborada por Charles Darwin causou grande polêmica no meio científico,
especialmente no que se refere à origem do homem. Razões de ordem religiosa
impediram-no de publicar suas ideias por longos anos. Darwin foi vítima do
escárnio e do ridículo, com as charges que apareciam na imprensa da época (tal
qual ocorreu com Sigmund Freud, acusado de atribuir à sexualidade infantil todo
o desenvolvimento do psiquismo humano).
O
evolucionismo indica que, de fato, nós temos um ancestral comum com algumas
espécies de primatas, como o chimpanzé. Pesquisas recentes de decodificação do
genoma indicam uma semelhança de 98% entre os genes de seres humanos e
chimpanzés, o que sugere que somos parentes, mas não que o homem descende do
macaco.
Os estudos mais
atuais comprovaram que animais ditos superiores, como é o caso dos gorilas (e,
entre outros, dos cães, naturalmente...), têm consciência. Então podemos
perguntar o que estará pensando o casal mostrado na foto, ao cuidar de seu bebê
em ambiente tão antinatural?
A linguagem. A grande diferença está na linguagem. Façamos dela bom uso, como nesta bonita crônica.
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