quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A mãe, o pai e o bebê gorila

A minha filha Cecília.




No zoológico de Belo Horizonte, com quatro dias de vida, o bebê gorila ainda não saiu do colo da mãe, e por isso os cuidadores não puderam esclarecer nem mesmo o sexo dele. A mãe não o deixa por um minuto sequer. O pai fica por perto, naturalmente protetor.
            Este comportamento, tão semelhante ao dos humanos, oferece bem a dimensão de quão próximas estão estas duas espécies, ao longo da evolução animal. Ao me referir aos humanos, quando nasce um bebê, gosto de pensar que “a mãe enlouquece”. O fenômeno ocorre alguns dias antes do parto e prolonga-se por uns dez dias pós-parto. A mulher está completamente voltada para sua cria, ela e o bebê são um só, o que é possível apenas numa espécie de enlouquecimento, pois de fato são duas pessoas que se interagem. Aos poucos a relação normaliza-se. (Quando isso não acontece, podem surgir as patologias puerperais, como a psicose pós-parto.)
Trata-se de um modo muito sofisticado de preservação da espécie, através do cuidado total para com o nascituro. Portanto, o que observamos nessas situações é um “enlouquecimento sadio”, adquirido através de milhões de anos de evolução.
            Quando comparo criacionismo e evolucionismo, confesso que este último provoca em mim grande emoção, é para mim de uma beleza sem par, e de uma complexidade espantosa, muito maior do que a ideia de uma criação divina instantânea, completa e quiçá perfeita.
            Entretanto, a “criação divina” merece todo o meu respeito e admiração, por se tratar de uma bela e espantosa criação humana. E dela o homem tem se valido em momentos difíceis, diante da necessidade urgente de consolo moral; mas que também tem servido para a deflagração das guerras santas, presentes até os nossos dias.
Charles Robert Darwin (1809-1882) é o mais importante cientista ligado ao evolucionismo. Este inglês publicou em 1859 a obra Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a conservação das raças favorecidas na luta pela vida, mais conhecida como A Origem das Espécies.
A teoria elaborada por Charles Darwin causou grande polêmica no meio científico, especialmente no que se refere à origem do homem. Razões de ordem religiosa impediram-no de publicar suas ideias por longos anos. Darwin foi vítima do escárnio e do ridículo, com as charges que apareciam na imprensa da época (tal qual ocorreu com Sigmund Freud, acusado de atribuir à sexualidade infantil todo o desenvolvimento do psiquismo humano).
O evolucionismo indica que, de fato, nós temos um ancestral comum com algumas espécies de primatas, como o chimpanzé. Pesquisas recentes de decodificação do genoma indicam uma semelhança de 98% entre os genes de seres humanos e chimpanzés, o que sugere que somos parentes, mas não que o homem descende do macaco.
Os estudos mais atuais comprovaram que animais ditos superiores, como é o caso dos gorilas (e, entre outros, dos cães, naturalmente...), têm consciência. Então podemos perguntar o que estará pensando o casal mostrado na foto, ao cuidar de seu bebê em ambiente tão antinatural?


Um comentário:

  1. A linguagem. A grande diferença está na linguagem. Façamos dela bom uso, como nesta bonita crônica.

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