segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O livro ameaçado


O Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa afirmou no 5º Congresso Internacional da Língua Espanhola, no Panamá, que “o espírito crítico se empobrecerá se as novas tecnologias fizerem o livro desaparecer”. (1)
E acrescenta: “O espírito crítico, que sempre foi algo que resultou das ideias contidas nos livros de papel, poderá se empobrecer extraordinariamente se as telas acabarem por enterrar os livros. ...Estou convencido de que a literatura que se escreverá exclusivamente para as telas será uma literatura muito mais superficial, de puro entretenimento e conformista".
Não se trata, portanto, de discutir apenas o valor da mídia, o veículo, se eletrônico ou papel. (O homem se acostuma a tudo, até a ler Machado de Assis em um tablet. Para ser mais franco e amargo, nesse mundo há gosto pra tudo...) A questão que Vargas Llosa levanta é a de que o uso da mídia eletrônica altera, afeta, muda o conteúdo e/ou a forma do que é escrito, e consequentemente a qualidade do texto. Não sei se foi assim que ele disse, mas é assim que estou dizendo.
A multiplicação dos blogs na Internet é algo indiscutível nos dias de hoje. Não são poucos os autores mais jovens que antes de publicarem em papel, fazem-no em seus blogs. E alguns são muito bons! Aquilo que escreve um Hélio Schwartsman, por exemplo, quase sempre é muito bom, independentemente se no blog de um jornal ou em qualquer outro lugar, porque o homem sabe pensar. Porém, é possível que esta seja desde já uma exceção.
E o escritor peruano toca num ponto crítico, a superficialidade do texto na Internet. Parece que o leitor também não quer se aprofundar diante da tela, ele deseja uma leitura rápida, ágil, informativa acima de tudo. Isso, mais informação e menos literatura! No menor tempo possível.
Costumo dizer que o melhor antídoto para quem está viciado em Internet é ler um bom livro de 700 páginas. (Posso até sugerir As benevolentes, de Jonathan Littell, Objetiva/Alfaguara, 2007.) Mas reconheço que não há como obrigar um viciado a uma “tortura” dessas.
O tema é controverso, mas a afirmação de Vargas, que merece nossa consideração, é categórica: "É preciso fazer todo o possível para que o livro de papel não desapareça; ... há uma problemática nova com a grande transformação que significa para o livro e para a cultura em geral o desenvolvimento de novas tecnologias e, sobre isso, há muita incerteza".
            Enquanto perduram as incertezas, sugiro que continuemos comprando livros de papel.
            E “livro de papel” não seria um pleonasmo?

2 comentários:

  1. Esse assunto é interessante, Dr! Antes de mais anda, convém informar que há uma extensa lista de livros eletrônicos do eminente autor peruano disponível para o dispositivo Kindle, da Amazon. Essa discussão que se levanta sobre mídias exterminando outras não é nova e ela aconteceu quando surgiu o VHS: à época, alguns mais desesperados prenunciavam, como Vargas Llosa em relação aos livros de papel, o fim das salas de cinema. O VHS morreu e as salas continuam aí, firmes e fortes (não tanto quanto antes, é claro), sobrevivendo em meio a mídias muito mais poderosas que aquela antiga fita pesada. Quem poderia dizer que os discos de vinil subsistiriam após o CD? Também eles estão aí, hoje mais cobiçados que os CD's. Tenho para mim que se há espaço para as sempre lotadas salas de cinema e os ruidosos discos de vinil, também haverá espaço para os nobre livros de papel.

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    1. Concordo inteiramente com você, Roberto! Grato pelo extenso comentário.

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