Parece que as crianças não perguntam o que têm, por uma razão bem simples, segundo Kübler-Ross: elas já sabem! “Todas sabem que têm uma doença terminal, basta saibamos decifrar a linguagem simbólica das crianças”, foi o que ouvi de Kübler-Ross naquela inesquecível conferência, em 1979, aspecto que aqui resumo, lembrando-me do impacto que me causou.
Assim que eram internadas em um hospital geral para
tratamento de câncer, as crianças eram atendidas pela equipe de psicólogos de Kübler-Ross, recebiam papel e lápis de cor, comunicavam-se, enfim, através de seus desenhos. Uma delas desenhou a imagem aqui mostrada (de forma grosseira e incompleta, pois é apenas a lembrança que guardei de uma fotografia revelada por Ross em sua conferência), que foi imediatamente analisada pela equipe. O médico da criança foi procurado e informado de que o menino de aproximadamente 6 anos de idade estava dizendo que tinha um tumor no hemisfério cerebral direito (?) e que tinha dois anos de vida. Evidentemente o médico não deu crédito a tais informações, com a alegação de que aquilo não era “científico”. Com a investigação clínica, o diagnóstico foi confirmado, a criança foi operada e sobreviveu por dois anos.
Nessa “conversa”, vamos chamar assim, entre pacientes, médicos,
psicólogos e familiares reside o fundamento do apoio a ser prestado à criança
doente. Fundamental mesmo, é saber “ouvir” a criança, que muitas vezes pouco se
expressa por palavras.
A atenção a ser dispensada à família deve ser redobrada, pois é
ela que manifesta de maneira mais veemente todo o sofrimento com a dificílima
situação de conviver com um filho doente, e que vai morrer. Uma situação que se
vive no limite, penso eu.
Minha experiência pessoal com crianças é muito pequena, e posso
apenas registrar aqui minha dificuldade em lidar com elas, quando o assunto é a
morte, pelo tanto que me afeta emocionalmente. Posso concluir que a experiência
é tudo, em todos os sentidos.
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