domingo, 30 de junho de 2013
Aprender
O
aprendizado de identificar os bons vinhos inclui a prova dos ruins, passados,
derrancados e até dos mortos. Como na vida.
Dario Barbosa na Pinacoteca
Dario Villares Barbosa
(Campinas SP 1880 - Paris, França 1952) teve um
irmão gêmeo, também pintor, e inicia sua formação no Brasil; em seguida vai a
Paris, como bolsista do Governo do Estado de São Paulo. Em companhia do irmão,
viaja para Portugal, Espanha, França e Itália, onde pinta cenas campestres,
tipos regionais, vilarejos, marinhas, paisagens. Em 1917 morre seu irmão Mário.
Dario permanece em Paris, viajando
sempre pela Europa. No Brasil, pinta o centro de São Paulo e marinhas em
Santos.
O emprego das cores é típico do
artista.
Ao morrer deixa para a Pinacoteca do
Estado mais de 200 obras. Os dois quadros aqui mostrados são da preferencia
deste viajante.
Boa parte deste acervo pode ser
visto no site: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?mn=545&c=acervo&letra=D&cd=2380
Ref.:
Pinacoteca 100 anos. Destaques do acervo. São Paulo: Prêmio Editorial Ltda.,
s/ data, pag. 154.
Fotos:
A.Vianna, São Paulo, 2013.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
tempopara
falta muito tempo para
gozar por pouco tempo
o menos-do que-menos tempo:
tempo, te peço: para!
para não ser sempre: para!
pois se não há mais tempo
há de haver como inventar um tempo
temperar um momento onde para
se esquentar, se para
para se morrer, se para
para não-ser, se para:
não torça o tempo
não envergue o tempo
não envergonhe o tempo
para tempo, tempo para
Aldo P. Neto
Mais uma vez o Louco por cachorros tem a honra de publicar poema de Aldo P. Neto. Poesia de alto nível.
Grato, Aldo.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
Ver, rever, ver novamente...
Certa vez ouvi de uma
pessoa que ela não estava interessada na exposição sobre os Impressionistas que
ocorria em São Paulo porque já os tinha visto no Museu D`Orsay, em Paris. Que
pena, pensei.
Em se tratando de arte, penso que é preciso ver, rever,
ver novamente, ver sempre. E por inúmeros e variados motivos. Primeiro, porque
a visão do belo sempre nos emociona, nos é prazerosa, mobiliza em nós o que
temos de mais sensível, e esta sensibilidade requer permanente afinação, como
um violino. Às vezes, após um primeiro movimento muito estridente de uma
sinfonia ou concerto, no entreato para o movimento seguinte, o maestro aguarda
que os violinistas reajustem a afinação de seus instrumentos.
Penso que a analogia é útil em se tratando de uma
escultura, uma pintura, uma obra de arte qualquer, que possibilitem a afinação
de nosso “aparelho de pensar” (a expressão é de W. R. Bion) e sentir.
Acrescente-se a isso o fato de que já não somos os mesmos
quando voltamos a um determinado museu, são outros olhos que agora veem. Para
ser mais preciso, os olhos podem ser os mesmos ou até terem piorado, efeito
inexorável da idade do viajante, porém quem de fato vê é o cérebro. Ou a alma,
dirão os poetas.
Fenômeno
semelhante ocorre com a música e a literatura. Há certas músicas que necessitam
mesmo de múltiplas audições para que sejam mais bem compreendidas e apreciadas,
e quanto mais as ouvimos, mais gostamos delas. Atrevo-me a incluir nesse grupo
os últimos quartetos para cordas e sonatas para piano de Beethoven.
A
segunda ou terceira leitura de um mesmo livro têm sabor bem diferente da
primeira. Alguns livros parece que foram escritos para serem lidos e relidos durante
nossa vida inteira. Admito as preferências individuais, mas não posso deixar de
citar o Hamlet, de Shakespeare, ao qual Harold Bloom chamou de “poema
ilimitado”. À cada leitura corresponde um novo livro e um novo leitor.
O
viajante que visita São Paulo com frequência pode desfrutar do privilégio de
ver, rever, ver novamente, ver sempre o acervo da Pinacoteca do Estado. O Louco
por cachorros já fez referência a este grande museu em diversas situações, aqui
listadas:
Em
nossa última estada na Pionacoteca revisitamos o magnífico quadro de Paul
Michel Dupuy (1869-1949), pintor francês impressionista, a Praia de Biarritz,
aqui mostrada em detalhes.
Além
disso, rever Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Antonio
Parreiras, Eliseu Visconti, Almeida Júnior, e tantos outros, é sempre uma
grande alegria.
Fotos: Mercêdes e A.Vianna, São Paulo, 2013.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
A grande aula
Lá pelos
idos de 60, ia eu pela metade do curso de Medicina e, embora um menino, já
cultivava meus sonhos e ambições. Um deles era tornar-me um bom cirurgião. E o
fascínio pela Cirurgia começou com o fascínio pela Anatomia (entretido com um
colega no estudo das veias da pelve, não nos demos conta de que o anatômico já
havia sido fechado, e passamos a noite entre os cadáveres, respirando o
fortíssimo cheiro do formol, com enorme entusiasmo).
De modo que,
quando foi anunciada a aula do Prof. Portugal, minha excitação chegou ao auge!
É preciso esclarecer antes de mais nada que o Prof. José Ribe Portugal já era
uma lenda na Faculdade de Medicina. Neurocirurgião de renome internacional,
havia desenvolvido certa via de acesso a determinada região do cérebro, uma
técnica cirúrgica a revolucionar o tratamento de patologia específica. À época,
eu sabia muito pouco além disso, mas já era o bastante para provocar no tal
menino a mais profunda admiração pelo homem. (A isso, hoje, dou o nome de
idealização. E daí?)
Acrescido a
tudo isso, Prof. Portugal dava apenas uma aula durante todo o ano! Era o
bastante, em se tratando de quem ele representava para a ciência do país,
talvez do mundo. Talvez fosse mais que o bastante, era mesmo um privilégio que
ele se dignasse a proferir uma aula para estudantes do quarto ano de Medicina.
Percebi que
poucos, pouquíssimos colegas meus compartilhavam deste ponto de vista, alheios
àquele acontecimento, o que fazia que me sentisse muito só, pensando e sentindo
aquela experiência que me parecia transcendental, na expectativa de que ela
fosse determinante para meu futuro dentro da profissão. Uma aula com o Prof.
Portugal! Porém, jamais considerei que aquilo pudesse ser um delírio meu;
pensava que os outros é que não percebiam a importância daquele momento...
Até que
chegou o dia da grande aula. Era uma tarde quente de uma quarta-feira, a sala
estava abafada, as cadeiras desarrumadas, um projetor de slides em meio às
cadeiras, nada que se parecesse com o ambiente propício para uma Aula Magna, o
que em mim causou certo constrangimento. A presença do projetor, no entanto, provocou
alguma excitação, Que imagens ele vai nos mostrar?
Com meia
hora de atraso entra na sala o grande homem. De baixa estatura, em torno de 60
anos, cabelos tingidos de preto e fixados provavelmente pelo que se usava à
época, Gumex, bigode bem aparado igualmente tinto, usando um paletó preto,
justo, de corte moderno, o que chamava mesmo a atenção era a gravata, tipo
mexicana, dois cordões negros pendentes do colarinho, terminando numa ponta de
prata. (Não tenho qualquer convicção de que o estilo da gravata seja mexicano.
Apenas assim me parecia, influência de algum filme de faroeste da época.)
Apresentou-se,
modestamente. Desejo apresentar a vocês uma ótima experiência que vivi
recentemente, numa viagem que fiz a Veneza. A cidade é lindíssima!
Iniciou-se
então a projeção de uma série interminável de slides com fotografias de Veneza,
nada profissionais, isso era fácil de se perceber, portanto tiradas por ele
mesmo, o Prof. José Ribe Portugal. E a aula terminou com a frase Espero que
vocês algum dia possam visitar Veneza!
Foi a melhor
aula que assisti em toda a minha vida.
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