Certa vez ouvi de uma
pessoa que ela não estava interessada na exposição sobre os Impressionistas que
ocorria em São Paulo porque já os tinha visto no Museu D`Orsay, em Paris. Que
pena, pensei.
Em se tratando de arte, penso que é preciso ver, rever,
ver novamente, ver sempre. E por inúmeros e variados motivos. Primeiro, porque
a visão do belo sempre nos emociona, nos é prazerosa, mobiliza em nós o que
temos de mais sensível, e esta sensibilidade requer permanente afinação, como
um violino. Às vezes, após um primeiro movimento muito estridente de uma
sinfonia ou concerto, no entreato para o movimento seguinte, o maestro aguarda
que os violinistas reajustem a afinação de seus instrumentos.
Penso que a analogia é útil em se tratando de uma
escultura, uma pintura, uma obra de arte qualquer, que possibilitem a afinação
de nosso “aparelho de pensar” (a expressão é de W. R. Bion) e sentir.
Acrescente-se a isso o fato de que já não somos os mesmos
quando voltamos a um determinado museu, são outros olhos que agora veem. Para
ser mais preciso, os olhos podem ser os mesmos ou até terem piorado, efeito
inexorável da idade do viajante, porém quem de fato vê é o cérebro. Ou a alma,
dirão os poetas.
Fenômeno
semelhante ocorre com a música e a literatura. Há certas músicas que necessitam
mesmo de múltiplas audições para que sejam mais bem compreendidas e apreciadas,
e quanto mais as ouvimos, mais gostamos delas. Atrevo-me a incluir nesse grupo
os últimos quartetos para cordas e sonatas para piano de Beethoven.
A
segunda ou terceira leitura de um mesmo livro têm sabor bem diferente da
primeira. Alguns livros parece que foram escritos para serem lidos e relidos durante
nossa vida inteira. Admito as preferências individuais, mas não posso deixar de
citar o Hamlet, de Shakespeare, ao qual Harold Bloom chamou de “poema
ilimitado”. À cada leitura corresponde um novo livro e um novo leitor.
O
viajante que visita São Paulo com frequência pode desfrutar do privilégio de
ver, rever, ver novamente, ver sempre o acervo da Pinacoteca do Estado. O Louco
por cachorros já fez referência a este grande museu em diversas situações, aqui
listadas:
Em
nossa última estada na Pionacoteca revisitamos o magnífico quadro de Paul
Michel Dupuy (1869-1949), pintor francês impressionista, a Praia de Biarritz,
aqui mostrada em detalhes.
Além
disso, rever Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Antonio
Parreiras, Eliseu Visconti, Almeida Júnior, e tantos outros, é sempre uma
grande alegria.
Fotos: Mercêdes e A.Vianna, São Paulo, 2013.
O que vem a ser um "clássico": é o que nunca termina de dizer o que tem a dizer. É o caso. Ótimo alerta, André!
ResponderExcluirÓtimo seu comentário, Paulo! É preciso voltar sempre aos clássicos! Ouvir Beethoven, ouvir, ouvir...
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