O processo de demenciação avança em ritmo acelerado. O progresso – ou se trata de retrocesso? – do distúrbio ganhou novo ímpeto, talvez seja sua evolução natural, ou ando abusando da costelinha-de-porco criado em Coromandel.
Filme que vi ontem.
Livro que estou lendo.
Notícias mais recentes.
Tudo se escoa por um ralo invisível, as imagens desaparecem na escuridão da memória, as palavras voam céleres para o mundo do nada.
Os nomes próprios, para onde foram? Eu não sabia que era tão difícil conversar quando não lembramos dos nomes próprios. Aquele cara que fez aquele filme em que trabalha aquela atriz famosa lindíssima... como é meeeesmo o nome dele? Que filme?, pergunta minha mulher com cara de espanto.
Outro dia aconteceu numa livraria:
– Moça, eu queria muito um livro, mas esqueci o nome.
– Lembra o autor?
– Não.
– A editora?
– Também não.
– Qual o assunto?
– Perda de memória.
Ainda bem que me lembrei do assunto, não era nome próprio.
Há vantagens! Estou revendo filmes ótimos no streaming (como é que consigo lembrar com facilidade dessa palavra que nem é do português?). Revendo pela primeira vez! Explico melhor: estou revendo com absoluta certeza que assisto pela primeira vez. Filmes ótimos! Outro dia assisti Um homem de sorte, com 2 h 47 min de duração!; à noite, com minha mulher, Vi um filme excelente hoje, a história se passa na Escandinávia (tenho me utilizado desse expediente com frequência: não me lembrava se era na Finlândia, Dinamarca ou Noruega, então mandei Escandinávia). Ao reproduzir o título (escrito num pedacinho de papel), ela sapecou, Mas já vimos esse filme antes, é bom mesmo! E eu, Como assim?
Estou pensando em pendurar no pescoço uma pequena lousa, um punhado de giz num bolso, um apagador no outro. Só para voltar a conversar.
Enquanto isso, o terapêutico Diário da Demenciação prossegue firme.
Assistir o desenrolar? Chorar ? Medo? Autoestima ladeira abaixo? Ou vamos nos divertir e rir do trágico?
ResponderExcluir