Segunda charge do dia
segunda-feira, 31 de janeiro de 2022
Monte Roraima
Indaiá Pau Brasil
@LuaAzul87481852 (30 de jan 2022)
“Monte Roraima é um enorme platô de 34 km2, uma colossal montanha-mesa cravada na floresta amazônica, no Maciço Guianense, a 346 quilômetros de Boa Vista. Fica na fronteira tríplice entre Brasil, Venezuela e Guiana. Com 1,8 bilhão de anos, está entre as formações + antigas da Terra.”
Fonte: Twitter.com de ontem.
Por fim as nuvens...
100 anos de José Saramago
“Por fim as nuvens desapareceram. A noite vinha devagar entre as oliveiras. Os animais faziam aqueles ruídos que parecem uma interminável conversa. Meu tio, à frente, assobiava devagarinho. Por causa de tudo isto me veio uma grande vontade de chorar. Ninguém me via, e eu via o mundo todo. Foi então que jurei a mim mesmo não morrer nunca.”
José Saramago
sábado, 29 de janeiro de 2022
Imagens de infância
À memória de meu pai
Criança pequena, talvez aos quatro ou cinco anos, ouvia meu pai dizer:
– Céu pedrento, chuva ou vento!
Durante toda minha infância matutei sobre esta frase. O pai a pronunciava olhando para o céu, naturalmente, e eu também olhava para o céu, na ânsia de compreender.
Primeiro, me intrigava a palavra pedrento, que me soava feia, e ainda por cima colocada junto ao céu, um lugar tão bonito. Afinal, não era para lá que a gente ia quando morresse? Soava feia, mas penso que ainda não conhecia a palavra nojento, pior que feia, não sei, mas soava igual; de rima, isso eu não sabia. (Eu sabia do que sabia? E tudo aquilo que eu já nasci sabendo! Fora o que aprendia a cada dia – tudo na vida era novidade!)
Não demorou para que me ocorresse o significado de pedrento, embora ainda parecesse estranho. Pedras no céu? Nuvens de pedra? Como foram parar ali? Poderiam cair sobre minha cabeça?
De repente compreendi que se tratava de prenúncio – palavra que, sem dúvida, eu desconhecia. A chuva ou o vento chegariam com certeza se o céu fosse pedrento. Foi então que firmei convicção (infantil) que era a chuva ou o vento que já vinham se aproximando, quando o céu ficava pedrento. Uma descoberta e tanto!
Hoje, ao ver as fotografias desse tipo de céu, me ocorre que foi na tenra infância que comecei a prestar atenção nas palavras, gostar delas, procurar decifrá-las, mas ainda sem saber o que fazer com elas. (Até hoje não sei!) Desconfiei que elas tinham vida própria, mesmo ignorando como pedras foram parar no céu.
Foi assim que céu pedrento nunca mais saiu de minha memória e de minha vida. Meu pai também não.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Autobiografia 5
100 anos de José Saramago
“Sem emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar, tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976 instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão, em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca. Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.”
José Saramago
Cristo, o Homem das dores
Detalhes de "Cristo, o Homem das Dores", de Sandro Botticelli
Foto: Reprodução/Sotheby's
Cristo, o Homem da Dores, de Botticelli, é vendido por US$ 45 milhões em leilão em Nova York.
Estima-se que a obra foi concluída por volta do ano 1500. "Acreditamos que existam apenas cerca de cinco pinturas de Botticelli em mãos particulares", disse Apóstolo, que sublinhou o caráter retrospectivo e emocional da pintura, resultado do fato de ter sido pintada nos últimos anos da vida do pintor.
"É uma pintura metafísica de uma pessoa madura enfrentando sua própria mortalidade, e é isso que a torna tão comovente", acrescentou o especialista da Sotheby's.
“Representando Cristo com uma coroa de espinhos, cercado de laços, com as mãos cruzadas sobre o peito e com uma auréola de anjos voando sobre a cabeça, tem um estilo sóbrio e austero, longe da inocência de suas primeiras obras, como o famoso Nascimento de Vênus.”
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
Preguiça
Imagem & microconto
Em tempo: inauguro aqui (é muita falta do que fazer!) novo marcador: “Imagem seguida de microconto”. É que tenho forte atração pela fotografia (e outros tipos de imagens) e há muito cultivo microcontos. Pensei colocá-los juntos. Valerá a pena?
Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto
Nesta quinta-feira, 27 de janeiro, revivemos o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto. Preservar esta memória é uma forma de evitar que aquela grande tragédia se repita.
Em seu magnífico livro É isso um homem?, Primo Levi registrou:
“Fechem-se entre cercas de arame farpado milhares de indivíduos, diferentes quanto a idade, condição, origem, língua, cultura e hábitos, e ali submetam-nos a uma rotina constante, controlada, idêntica para todos e aquém de todas as necessidades; nenhum pesquisador poderia estabelecer um sistema mais rígido para verificar o que é congênito e o que é adquirido no comportamento do animal-homem frente à luta pela vida.
... Aqui a luta pela sobrevivência é sem remissão, porque cada qual está só, desesperadamente, cruelmente só. Se um Null Achtzehn vacila, não encontrará quem lhe dê ajuda, e sim quem o derrube de uma vez, porque ninguém tem interesse em que um “muçulmano” [com esta palavra, “Muselmann”, os veteranos do Campo designavam os fracos, os ineptos, os destinados à “seleção”] a mais se arraste a cada dia até o trabalho; e se alguém, por um milagre de sobre-humana paciência e astúcia, encontrar um novo jeito para escapar ao trabalho mais pesado, uma nova arte que lhe propicie uns gramas de pão a mais, procurará guardar seu segredo, e por isso será apreciado e respeitado, e disso tirará uma própria, exclusiva, pessoal vantagem; ficará mais forte, e portanto será temido, e quem é temido é, só por isso, candidato à sobrevivência.
Na história e na vida parece-nos, às vezes, vislumbrar uma lei feroz que soa assim: “a quem já tem, será dado; de quem não tem, será tirado”. No Campo, onde o homem está sozinho e onde a luta pela vida se reduz ao seu mecanismo primordial, essa lei iníqua vigora abertamente, observada por todos.”
Capítulo Os submersos e os salvos
In É isso um homem?
Ed. Rocco, 1988, p. 88 a 90.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Sobrou Palmeiras na final da Copinha
Palmeiras levanta a taça da Copa São Paulo 2022
Foto: Rodrigo Corsi/Copinha
Já virou tradição: no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo (que ontem completou 468 anos), acontece a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha. Quem deseja conhecer um pouco da história da Copinha, acesse
https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/01/copinha-2018.html
Os palmeirenses trazíamos engasgado na garganta o fato do nosso time nunca ter ganho a Copinha, após décadas de chacota por parte de adversários. Ontem fomos à forra, atropelamos o Santos com a brilhante goleada de 4 a 0 no Allianz Parque!
Aos 5 min, 1 a 0. Aos 10 min, 2 a 0. Aos 15 min, 3 a 0. Este é o resumo do jogo. Como reagir diante do massacre, ainda mais se pensarmos na pouca idade dos jogadores? Mais parecia um pesadelo, para quem perdia.
O Palmeiras foi o melhor time durante todo o torneio, revelando vários jogadores de alto nível. O já famoso (precipitadamente) Endrick, aos 15 anos de idade, ganhou o título de craque do torneio, autor do gol mais bonito (uma incrível meia-bicicleta da entrada da área no jogo contra o Oeste) e foi campeão pelo Palmeiras.
Além de Endrick, Giovani e Gabriel Silva foram destaques no jogo e marcaram no primeiro tempo.
A mesma rivalidade existente entre profissionais de Palmeiras e Santos estava presente nessa final. Diferentemente dos jogos anteriores, quando nenhum jogador ousava discutir com o árbitro ou rolar no gramado fazendo fita, ontem o clima era de guerra. Ed Carlos, do Santos, recebeu cartão amarelo com menos de cinco minutos. Irritados com o pesadelo, os santistas perderam a cabeça. Ao final do primeiro tempo, Derick foi expulso: com dez jogadores, impossível reverter o resultado. Já os palmeirenses mantiveram tranquilidade profissional!
No segundo tempo, Gabriel Silva voltou a marcar aos 8 min, e o Palmeiras poderia ter feito mais. Preferiu tirar o pé do acelerador (o clichê não pode faltar).
Vanderlan, na lateral esquerda, promete; Mateus, goleiro de 1,98m, mais ainda; Vitinho, ótimo jogador, foi titular em quase todo o torneio; o ponta esquerda Jhonatan já é craque. O técnico Paulo Victor logo estará à frente de time profissional.
Uma última palavra para destacar o trabalho do jovem árbitro Gustavo Holanda Souza no jogo de ontem: apitou como gente grande. (A função da Copa São Paulo de Futebol Júnior é mesmo revelar os melhores.)
Agora que já temos Copinha, é esperar pelo Mundial, em fevereiro. Quero ver o porco torcer o rabo...
Endrick fez o primeiro gol da vitória
Foto: Alexandre Battibugli/Copinha
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Solidariedade
1.
– Ontem passei o dia muito ansioso. À noite fiz respiração e melhorei.
– Espero que você continue respirando...
2.
– Meu bem, vamos pegar um cineminha hoje, e depois jantar fora?
– Não.
3.
– Perdi a vontade de viver...
– Então lhe desejo uma boa morte.
4.
– Não leio poesia, não serve para nada!
– Mas não perca a nova temporada do BBB.
5.
– Cuidar do jardim dá trabalho! Precisa regar, cortar grama, matar pragas, podar as plantas...
– Manda ladrilhar.
Aqui e além em Lisboa
Tweet de Cristina Feliciano @cristinafelici6
(24 jan 2022)
“Aqui e além em Lisboa – quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada”
Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Os pais da arte
“Essa magia encontrada na própria raiz da existência humana, criando simultaneamente um senso de fraqueza e uma consciência de força, um medo da natureza e uma habilidade para controlá-la, essa magia é a verdadeira essência de toda a arte.
O primeiro a fazer um instrumento, dando nova forma a uma pedra para fazê-la servir ao homem, foi o primeiro artista.
O primeiro a dar um nome a um objeto, a individualizá-lo em meio à vastidão indiferenciada da natureza, a marcá-lo com um signo e, pela criação linguística, a inventar um novo instrumento de poder para os outros homens, foi também um grande artista.
O primeiro a organizar uma sincronização para um processo de trabalho por meio de um canto rítmico e a aumentar, assim, a força coletiva do homem, foi um profeta na arte.
O primeiro caçador a se disfarçar, assumindo a aparência de um animal para aumentar a eficácia da técnica da caça, o primeiro homem da idade da pedra que assinalou um instrumento ou uma arma com uma marca ou um ornamento, o primeiro a cobrir um tronco de árvore ou uma pedra grande com uma pele de animal para atrair outros animais da mesma espécie – todos esses foram os pioneiros, os pais da arte.”
Ernest Fischer, A necessidade da arte
Zahar Editores, 1983 (p. 42)
Livro excepcional este, fundamental para quem deseja compreender a origem, o sentido e a necessidade mesma da arte.
Autobiografia 4
“Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante , duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.”
José Saramago
https://www.josesaramago.org/biografia/
Razão e emoção a partir do teatro grego
Das funções mais nobres da leitura, uma é a de provocar o leitor. Ela depende de dois fatores fundamentais: um bom texto, inteligente, de conteúdo instigador e boa forma literária, capaz de atrair aquele que o lê pela força da arte; em segundo lugar, o próprio leitor, se ele se deixa provocar, se preserva a curiosidade infantil e está aberto a novas ideias e especulações, se não se encontra cristalizado e imobilizado pelos ‘pré-conceitos’.
Das formas mais eficientes de aceitar e elaborar a provocação contida numa boa leitura, uma é a de escrever sobre o que se leu e agora pode analisar, questionar, interrogar, aceitar, rejeitar ou duvidar do que se acaba de ler. Tal exercício, no mínimo, traz em si a capacidade de expandir entendimento, sentimentos e emoções, sobre o tema em questão.
Adriane da Silva Duarte, professora de língua e literatura gregas na USP, faz a apresentação do livro O melhor do teatro grego (tradução de Mário da Gama Kury, Zahar editores, 2013), que contém as peças Prometeu acorrentado, Édipo rei, Medeia e As nuvens. Reproduzo aqui um parágrafo do belíssimo texto de Duarte:
“A emoção está no cerne da experiência dramática dos gregos. Platão e Aristóteles discorreram sobre o papel das emoções no teatro, especialmente no que toca à tragédia. Para Platão, buscar deliberadamente comover os expectadores, como fizeram, os tragediógrafos, é nocivo, pois enfraquece a parte racional da alma, debilitando o cidadão. Daí, entre outras razões, os poetas trágicos estarem excluídos da cidade ideal juntamente com os épicos. Já Aristóteles, embora tenha sido discípulo de Platão, compreende diversamente a questão. Para ele, o prazer da tragédia está em suscitar e purgar certas emoções, processo que ele denomina catarse. No caso da tragédia, essas emoções seriam o terror e a piedade, o que exigiria uma identificação entre o expectador e o herói trágico, de modo que aquele pudesse se colocar no lugar do último e temesse passar pelo que ele passa, apiedando-se dele, que sofre sem merecer. Desse processo, que Aristóteles não se digna a explicar na Poética, derivaria o prazer que sentimos ao contemplar obras de natureza artística.”
“Buscar deliberadamente comover os expectadores” é o que chamei de provocação. A literatura faz isso magistralmente, mas não apenas a literatura; se dermos um salto para os tempos atuais, poderemos enfrentar o mesmo problema diante do cinema, tipo de arte de penetração extraordinária em todas as camadas sociais, e que por isso serve ao propósito deste texto quase ingênuo.
Há o filme e há o expectador. Por que existe o aficionado pelos filmes de terror? O que pretende ele ao desafiar o medo que as imagens lhe causam? (Porque se não causam, não faz sentido ver filme de terror...) Deseja apenas provar que é corajoso e valente? Ou se trata de desafiar as próprias emoções, na tentativa de dominá-las?
Há quem prefira ‘filme de amor’. Tipo sessão da tarde, daquele romantismo derramado que provoca suspiros e derrama lágrimas. Por que chorar diante da fantasia? Isso causa prazer ou dor? A emoção, represada, precisa transbordar? Para outros, serão lágrimas de enfado.
Cinema de violência explícita e incontida faz sucesso mundo afora: são murros, tiros, rajadas de metralhadora, golpes de espada a transfixar o inimigo, jugulares esguichando suco de tomate, cenas horripilantes de tortura, tudo é apreciado a ponto da saliva escorrer pelo canto da boca de certo tipo de expectador. Para que? O que está a extravasar agora? Agressividade? Ódio? Ou é simplesmente a catarse aristotélica! Enquanto isso, “Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer”, afirma Drummond em Os ombros suportam o mundo.
Filmes de suspense costumam ser apreciados, exceto pelos que não toleram sustos, seja porque prefiram a calma contemplativa, ou porque talvez vivam permanentemente assustados. As razões de tais preferências e aversões quase sempre nem o expectador conhece, bem guardadas no inconsciente de cada um.
O que todos ‘pré-sentem’ é a necessidade de aprender a lidar melhor com os próprios sentimentos e emoções. Para tal, há quem prescreva os clássicos da literatura; outros, a rodriguiana “vida como ela é”; ouvir Mozart ou Beethoven pode vir a ser um santo remédio; o cinema também serve, e muito – terminado o filme, é bom conversar sobre ele. Para os adeptos do bungee jumping, talvez seja necessária mesmo uma terapia.
Estas são apenas algumas associações que me ocorreram diante das magníficas provocações de Adriane da Silva Duarte. Meu eventual leitor, pensa o quê?
sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Semana de Arte Moderna faz 100 anos
Memorial da América Latina recebe reprodução da
obra "Retrato de Mário de Andrade", em São Paulo
Foto Divulgação
O Memorial da América Latina, em São Paulo ganhará reprodução da obra "Retrato de Mário de Andrade", de Lasar Segall, em 1927. A instalação integra as comemorações do centenário da Semana da Arte Moderna de 1922.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
domingo, 16 de janeiro de 2022
Estávamos nós nisto...
100 anos de Saramago
“Estávamos nós nisto, atrasando o momento da revelação, duvidando ainda se não haveria modo de encontrar uma solução mais dramática ou, o que seria ouro sobre azul, com mais potência simbólica, quando se ouviu o fatal grito, Há aqui uma aldeia. Absortos nas nossas lucubrações, não tínhamos dado por que um homem se havia levantado e subido a pendente, mas agora, sim, víamo-lo aparecer entre as árvores, ouvíamo-lo repetir o triunfal anúncio, embora sem pedir alvíssaras, como havíamos imaginado, Há aqui uma aldeia. Era o comandante. O destino, quando lhe dá para aí, é capaz de escrever por linhas tortas e torcidas tão bem como deus, ou melhor ainda.”
Autobiografia 3
100 anos de José Saramago
“Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.
Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu… A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.”
José Saramago
Fato mais importante da História para os brasileiros
Levantamento do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) traduz a percepção de entrevistados sobre fatos históricos no Brasil. A pesquisa revelou que a abolição da escravidão é fato mais importante da História do país para os brasileiros. Reportagem de Marlen Couto (9 jan 2022) para O Globo.
Enfim, penso que isso seja um bom sinal.
Época dos fatos mais lembrados:
1º - Aboliação da Escravidão, 1888
2º - Independência do Brasil, 1822
3º - Proclamação da República, 1889
4º - Redemocratização pós-Ditadura, 1985
5º - Impeachment Dilma Rousseff, 2016
6º - Operação Lava-jato, 2014-2021
7º - Implantação do Real, 1994
8º - Criação do Bolsa-Família, 2003
9º - Impeachment Fernando Collor, 1992
10º - Golpe de 1964 e o regime militar
“A pesquisa ouviu 3 mil entrevistados, de 19 a 27 de novembro de 2021, nas cinco regiões do país. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.
O levantamento do Ipespe também mediu a percepção dos brasileiros sobre símbolos nacionais que melhor definem ou representam o país e sua população. A fé é apontada como a principal característica positiva dos brasileiros — para 30% dos entrevistados, é o primeiro traço citado em uma pergunta com múltiplas respostas. Já a natureza é citada como o aspecto que melhor define o Brasil.”
sexta-feira, 14 de janeiro de 2022
Morre um poeta
Morreu nesta sexta-feira (14 jan 2022), em casa, o poeta amazonense Thiago de Mello, aos 95 anos. Suas obras foram traduzidas para mais de 30 idiomas. No ano passado ele foi homenageado pela Bienal de São Paulo.
Guardo dele em minha fraca memória, fragmento do poema O livro, que reproduzo aqui em sua homenagem.
“Como nunca morri, não sei da morte.
Da vida sei, e tanto sei, que faço
com este verso uma declaração
de amor, talvez de queixa: ela é que vem
de mim se despedindo devagar,
fatigada de mim, enquanto agarro,
com as garras de todos os sentidos,
o que ela ainda me dá, sempre encantada.”
Thiago de Mello
De uma vez por todas
Civilização brasileira, 1996, p. 32.
Cavaleiro com elmo coríntio
“E se, observando as origens da arte, chegarmos a conhecer a sua função inicial, não verificaremos também que essa função inicial se modificou e que novas funções passaram a existir?”
Ernest Fischer, A necessidade da arte
Zahar Editores, 1983 (p.12)
JAMES WEBB hoje!