terça-feira, 3 de março de 2020

Gilka Machado, um poema



O julgamento de Frinéia, de Jean-Léon Gérôme (1861), mostra a hetera diante do Areópago





Possa eu, da frase nos agrestes sons,
em versos minuciosos ou sucintos,
expressar-me, dizer dos meus instintos,
sejam eles, embora, maus ou bons.

Quero me ver no verso, intimamente,
em sensações de gozo ou de pesar,
pois, ocultar aquilo que se sente,
é o próprio sentimento condenar.

Que do meu sonho branco véu se esgarce
e mostre nua, totalmente nua,
na plena graça da simpleza sua,
minha Emoção, sem peias, sem disfarce.

Quero a arte livre em sua contextura,
que na arte, embora pecadora, a Ideia,
deve julgada ser como Frinéia: 
– na pureza triunfal da formosura.


                               Gilka Machado (1893-1980)
                               Estados de Alma
   In: Poesias completas,
   Léo Christiano Editorial Ltda
   (1992)

Um comentário:

  1. Beleza! Gilka Machado foi uma pioneira da escrita feminina, no começo do século 20.

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