EL PAÍS publica o quarto poema da corrente lírica Hilda Hilst, poeta homenageada no evento literário. Indicada pela curadora da Flip, Joselia Aguiar, Josely Vianna Baptista começou a corrente que passou para Antonio Risério, Ricardo Aleixo e agora chega na poeta gaúcha Eliane Marques. Sem título, o texto faz parte do livro e se alguém o pano.
resta na medula das coisas
ali onde sobram em conluio
os sapatos
se pudesse fraturá-las
deitá-las sobre a cama
se o crime alguém o intentasse somente com o pranto
mas tem lá o seu cavalo mouro um lenço para as louças
e outro (mais curto) às canecas de estanho
a negrinha dada aos serviços da casa
corpo que se aquieta no tropel dos infantes
corpo a quem se indefere
o bilhete de passagem
um corpo pequeno um corpo estranho
ao seu braço não basta a cabeça de piolhos
esmagá-los como castanha
esse braço dado aos serviços dos outros
tem lá o seu cavalo mouro seu ruído entre os zimbros
tem lá o seu cavalo mouro seu cheiro de crina
contra a força que se impõe às insistências do morto
a negrinha braço da casa
louça partida entre tantos
a negrinha dada aos serviços da casa
tem lá o seu cavalo mouro
eu disse: tem lá o seu cavalo mouro
“Eliane Marques, nascida em 1971, é gaúcha de Sant'Anna do Livramento, e tem formação em Pedagogia e Direito; atua como auditora pública do tribunal de contas do Rio Grande do Sul. De formação ampla, a poeta ainda estuda psicanálise e coordena a Escola de Poesia, vinculada à instituição de psicanálise Après Coup Porto Alegre Psicanálise e Poesia. Hoje em Porto Alegre, Marques ainda edita a revista Ovo da Ema. Seu primeiro livro de poesia, Relicário, foi publicado em 2009. Já e se alguém o pano, de 2015, ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura (categoria poesia -2016), organizado pela prefeitura da capital gaúcha.”
Que bela iniciativa do jornal!
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