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À primeira vista, o título não atrai o leitor, muito menos a capa do livro. Porém, quem conhece o autor tem certeza de que vai encontrar ótimo texto. Falo do lançamento recente de O elogio do vira-lata e outros ensaios (Companhia da Letras, 2018), de Eduardo Giannetti.
O primeiro ensaio – que empresta o título ao livro – é magistral! Eis sua conclusão:
“Ao vira-lata repugna o culto da pureza em suas múltiplas manifestações: a raça pura; a lógica pura; a razão pura; a vontade pura (no sentido de um senso de dever categórico desligado de qualquer inclinação ou motivação pessoal de quem age, como no “lenho reto” da ética kantiana). Ao vira-lata repugna a noção de que o índice de valor de uma pessoa se define pela competência para ganhar dinheiro, pela astúcia em galgar postos de poder ou pela intransigente adesão a um credo de qualquer natureza.
O vira-la celebra os valores da amizade, do convívio e da amabilidade sem cálculos; a disponibilidade para desfrutar intensamente o memento; o prazer de sorrir e saudar a todos que com ela ou ele casualmente cruzam nas ruas; a eterna disposição de festejar e brincar, por mais tênue que seja (ou não) o pretexto; o doce sentimento da existência nos climas e ecopsicologias onde o mero existir é um prazer; a experimentação inovadora na arte da vida. Amor sem coleira, trabalho sem patrão. Para o vira-lata, “a alegria é a prova dos nove”.”
Penso que estes dois parágrafos são suficientes para que o leitor possa apreciar o estilo e a elegância do texto de Giannetti. Talvez a maior de suas virtudes seja a de escrever com absoluta clareza, certamente porque ele sabe pensar claro.
O livro é composto por 25 textos escritos entre 1989 e 2018, com temas os mais variados: O paradoxo do brasileiro, Por que ler Aristóteles hoje?, Um prefácio para Dom Casmurro, Leite derramado, A genialidade de Mozart, J. S. Bach: Partita II para violino solo, A riqueza e a pobreza das nações, entre outros.
Leitura obrigatória!
O ensaio é um gênero fascinante. E este é um mestre.
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