As quatro portas na entrada
As casas mais antigas, mais tradicionais de Pirenópolis, além dos belos janelões, apresentam na fachada um aspecto peculiar, a porta de entrada - ou as portas de entrada! Aberta a porta principal, o visitante depara-se com um corredor de 2 a 3 metros de comprimento, pouco mais de 1 metro de largura, estreito portanto. O piso é quase sempre forrado com quartzito, a chamada pedra de Pirenópolis; nos que já sofreram reformas, o visitante pode ver belos ladrilhos; nas antigas, o assoalho era de madeira de lei, bem como o forro do teto.
Ao fundo vê-se uma porta que ocupa toda a largura do corredor. Porém, o que é mesmo de intrigar são as duas portas laterais, à esquerda e à direita de quem entra, uma frente à outra. Assim, o conjunto compõe-se de quatro portas, geralmente pintadas da mesma cor, às vezes bicolor, com um crucifixo pregado na porta da frente ou na do fundo do corredor.
Os de casa vão direto à porta do fundo, e por lá têm acesso ao interior da moradia. Se alguém da família, ou mesmo um viajante, hospeda-se por alguns dias, haverá de ocupar o quarto de hóspedes, cuja entrada é a porta da esquerda. Se é visita de gente importante e de cerimônia, ela é recebida pela porta da direita, que se abre para uma sala pequena – todos os cômodos são pequenos – mas bem decorada, com jogo de sofás, enfeites de toda natureza, retratos antigos da família nas paredes, alguma pinturinha tosca de paisagem local. (Na mesinha de centro, imagino, é servido ao visitante ilustre o licor de pequi ou jabuticaba, ambos a exibir os dotes culinários da dona da casa.) Por esta sala o visitante também pode ter acesso a todo o interior da casa, aos quartos de dormir, à outra saleta menor que se abre para o jardim interno, e se a curiosidade faz com que ele continue explorando a interessante arquitetura, sempre em direção ao fundo, a casa agora estreita e ladeada pelo jardim, o visitante chega à cozinha mais nova, recente, com fogão a gás, e se continua caminhando, chega à cozinha primitiva, com seu belo fogão a lenha, e que também se abre para o jardim. O último cômodo é o banheiro.
O pé direito sempre altíssimo areja perfeitamente o interior da residência.
Fica assim explicado o mistério das quatro portas nas casas mais antigas, mais tradicionais de Pirenópolis.
Tosca planta baixa
a ilustrar o texto acima
A descrição é minuciosa, sequenciada e muito bem posta. Um primor descritivo que revela o olhar apurado do visitante. E o desenho, um toque de delicadeza e sensibilidade para com o leitor. Como se o louco dissesse: "Se não fui bem claro, que o desenho acabe de clarear..."
ResponderExcluirVerdadeiro poema em prosa.