sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Os contos completos de Mussa



             Poucas vezes este blogueiro surpreendeu-se tanto com certo autor quanto com Alberto Mussa. Os elogios ao Senhor do lado esquerdo (Record, 2011) foram rasgados. http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2017/11/o-senhor-do-lado-esquerdo.html
            Os outros volumes da série policial, também com histórias que se passam no Rio de Janeiro desde o início do século XX, são bons, nem todos à altura do citado Senhor do lado esquerdo, em minha opinião de não-crítico literário.
            Até que me cai nas mãos Os contos completos! (Ed. Record, 2016, com uma belíssima capa, de autoria de Regina Ferraz.)
            Mussa utilizou-se de textos anteriores, quase todos romances, aplicou-lhes profundas revisões, alguns chegaram a ser reescritos, outros foram fundidos, criando assim fantástica coletânea de histórias curtas.
            Explica-se o autor:

“Só não saberei avaliar se as novas versões estão melhores que as originais. Suponho sejam apenas variantes de uma mesma narrativa, como cada mito é a recriação de um mito anterior. Não compartilho dessa obsessão ocidental pelo texto crítico, pela lição autêntica ou definitiva. Não acredito, na verdade, no conceito de autoria.
Toda história é, no fundo, uma versão de outra. A literatura inteira pode caber num livro. Em todo livro estão os contos completos.”

            Agora o leitor por compreender melhor o título “contos completos”, obra de autor ainda jovem, no auge de uma carreira brilhante. É possível que venha no futuro um Novos contos completos...
            Esta “revisão” empreendida por Mussa certamente aprimorou o que mais aprecio em seus livros: o estilo, sempre elegante, culto, esmerado, erudito, a valorizar tremendamente as histórias que ele narra.
            Não resisto em reproduzir pequeno parágrafo, tirado do conto Encruzilhada na ladeira do Timbau:

“Os leigos se impressionam muito com objetos esotéricos, fetiches, ritos e símbolos místicos, imagens demoníacas, animais sacrificados. Ignoram que a verdadeira magia é a fala, a linguagem humana.”

            Este é o Alberto Mussa que tanto aprecio!

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