quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Empatia


Marilia Neustein, em sua crônica de ontem (17/1) no Estadão, “Cadê a empatia?”, chama a atenção para um fato frequente em nosso cotidiano:

“Se você é uma pessoa que trabalha muito – e é feliz fazendo isso – acredite: em algum momento, lugar ou rede social, uma criatura vai lhe dizer que você tem que diminuir o ritmo, prestar atenção mais em você, focar na sua vida afetiva (como se fosse impossível conciliar uma vida laboral com relações pessoais).
O contrário também existe. Caso você seja uma pessoa que optou por fazer seu próprio horário, viver com menos e se dedicar a projetos menores… espere até ouvir que você precisa tomar rumo, ter ambições, ralar na vida. Se você vai casar tem sempre alguém que diz – com todo tom de autoridade – se você deve fazer festa ou não, o que é adequado ou brega, qual é o segredo para fazer um relacionamento durar. Se engravidar então, aí é o ápice: as pessoas te dizem até que parto você deve fazer.”

            E Marilia conclui:

“Todos esses exemplos para dizer o seguinte: quando perdemos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro?”

Colocarmo-nos no lugar do outro significa criar empatia. Dizer para o outro como ele deve pensar ou o que ele deve fazer cria antipatia. Afasta, confunde, provoca aversão, não ajuda o outro, por mais bem intencionados que estejamos.
Em algumas situações, com determinadas pessoas, estabelecemos a empatia de forma natural, ela flui independente de nossa vontade, surge espontânea, brota como uma fonte de água cristalina, e nos sacia. Esta relação independe do nível sociocultural do outro ou de quaisquer outras diferenças. Acontece, e pronto!
(Há poucos dias esteve aqui em casa uma moça para ajudar no trabalho doméstico e que nos cativou a todos. Pobre, de origem humilde, cinco filhos para criar, realizou seu trabalho com alegria, perguntando sempre, querendo aprender tudo, falando da vida sem maiores reclamações. De nossa parte, fizemos o possível para ajudá-la. Ao despedir-se, chorou. Essa relação interferiu claramente no ambiente familiar, para melhor, exemplo de consequência da empatia natural.)
E quando isso não ocorre de forma espontânea? Então temos duas opções: ou agimos como exemplifica Neustein, ou calçamos o sapato do outro. A primeira alternativa é “mais fácil”, para alguns ela parece  até natural, não é preciso pensar para dar conselhos ou dizer o que o outro deve fazer, basta repetir a própria experiência, sem perguntar se esta vale para o outro.
Se não ocorre de maneira espontânea, para vestir o calçado alheio, além de sentir, é preciso pensar. E pensar dá muito trabalho.





Um comentário:

  1. Verdade. Dar palpite na vida alheia é mais fácil. Dar ordens, então, nem se fala.

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