terça-feira, 22 de novembro de 2016

Música de câmara

              Haruki Murakami, escritor, e Seiji Ozawa, maestro, ambos japoneses, tiveram suas longas conversas sobre música publicadas no recém lançado livro Absolutely on Music.
            Murakami pergunta a Ozawa por que exige que jovens músicos toquem num quarteto de cordas, se o objetivo final é a formação orquestral, projeto que desenvolve na Suíça. E a resposta de Ozawa é interessantíssima: “Sem música de câmara, um músico não faz música. É na música de câmara que ele aprende a ouvir a si mesmo e aos outros.”
João Luiz Sampaio, no artigo para O Estado de S. Paulo de hoje, afirma:
“A declaração serve de bom exemplo para a defesa da música de câmara como base da vida musical de qualquer país. Ainda assim, no Brasil ela ainda é, na melhor das hipóteses, periférica.”
            E para mudar essa realidade nasceu o Festival Sesc de Música de Câmara, agora em sua segunda edição, com cerca de 50 concertos em todo o Estado de São Paulo. A iniciativa é mesmo espetacular!

            É possível que já tenha registrado neste blog uma história que trago comigo há muitos anos, e que ouvi de minha mãe. Não canso de repeti-la.
            Ela não tinha qualquer formação musical, a não ser os rudimentos de teoria do curso secundário. Mas adorava música. Até que em certa altura, ela saiu-se com esta pérola:
“Primeiro a gente aprende a gostar de sinfonias, de grandes orquestras tocando uma música ruidosa, emocionante, que toca a alma pela força dos sons. As sinfonias de Beethoven são inigualáveis! A Sexta é minha preferida.
Depois passamos a apreciar os concertos, onde se apresentam um instrumento solista e a orquestra, numa conversa musical mais sofisticada. Os cinco concertos para piano e orquestra de Beethoven são incomparáveis! O Concerto Tríplice de Beethoven é maravilhoso.
Por último, chegamos à musica de câmera. Ela é mais difícil, exige mais do ouvinte. Eu, por exemplo, não gosto dos quartetos de Beethoven e detesto os quartetos de Villa-Lobos. Gosto muito da música de câmara de Schubert, de seu famoso quinteto para piano e cordas, A Truta.
Isso é o que penso sobre como deve ser a nossa educação musical.”
           
            A história impressionou-me muitíssimo quando a ouvi pela primeira vez, e tomei-a por verdade. Passei a repeti-la vida afora. Agora, penso que a resposta de Ozawa a Murakami – “É na música de câmara que ele aprende a ouvir a si mesmo e aos outros” – confirma a teoria toscamente apresentada por minha mãe, a quem sou grato por tudo que me ensinou.
           
            Para os que tiverem curiosidade, se é que ainda não conhecem, eis uma boa gravação de A Truta, o quinteto em lá maior para piano e cordas, com músicos brasileiros:




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