quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Faixa de pedestre


Afirma Leandro Karnal em sua crônica de hoje, Regras e felicidade (Folha, 21/12): “Quando eu vejo os motoristas de Brasília pararem de forma automática quando o pedestre entra na faixa de segurança, entendo que ali houve uma campanha e uma punição na base do processo.”
            Karnal não morava em Brasília à época da implantação das faixas de pedestre, é evidente. Eu morava. O raciocínio do articulista está correto, obedece à lógica, campanha e punição constituem os únicos meios efetivos para se obter resultado tão surpreendente. Certo? Errado.
            O que vou contar pode ser confirmado pelos que aqui residiam naquela época. Não houve campanha educativa. Não houve necessidade de punição através de pesadas multas. Pintadas as faixas, correu célere a notícia de que os carros deviam parar para a passagem de pedestres, e que só poderiam avançar quando a pessoa alcançasse o outro lado da rua. Pronto, só isso. E os motoristas obedeceram imediatamente. Se houve, foi uma campanha popular.
            Não tenho qualquer explicação para o fenômeno. Não acredito que o povo daqui seja mais bem educado. Porém, há um precedente. Aqueles que chegam de carro à cidade pela primeira vez leem os seguintes dizeres numa placa bem grande: “Senhor visitante, aqui não usamos buzina.” É o que basta, pois não usamos buzina mesmo!
            Anos depois da implantação das ditas faixas alguns motoristas relaxaram, passaram a desobedecer o que estava instituído. Aí sim, houve campanha educativa, chamando a atenção de todos, inclusive dos pedestres, que devem dar sinal com o braço e esperar que o automóvel pare.
            Portanto, senhor Karnal, a lógica nem sempre prevalece.


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