Afirma Leandro Karnal em
sua crônica de hoje, Regras e felicidade
(Folha, 21/12): “Quando eu vejo os motoristas de Brasília pararem de forma
automática quando o pedestre entra na faixa de segurança, entendo que ali houve
uma campanha e uma punição na base do processo.”
Karnal
não morava em Brasília à época da implantação das faixas de pedestre, é
evidente. Eu morava. O raciocínio do articulista está correto, obedece à
lógica, campanha e punição constituem os únicos meios efetivos para se obter
resultado tão surpreendente. Certo? Errado.
O
que vou contar pode ser confirmado pelos que aqui residiam naquela época. Não
houve campanha educativa. Não houve necessidade de punição através de pesadas
multas. Pintadas as faixas, correu célere a notícia de que os carros deviam parar
para a passagem de pedestres, e que só poderiam avançar quando a pessoa alcançasse
o outro lado da rua. Pronto, só isso. E os motoristas obedeceram imediatamente.
Se houve, foi uma campanha popular.
Não
tenho qualquer explicação para o fenômeno. Não acredito que o povo daqui seja
mais bem educado. Porém, há um precedente. Aqueles que chegam de carro à cidade
pela primeira vez leem os seguintes dizeres numa placa bem grande: “Senhor
visitante, aqui não usamos buzina.” É o que basta, pois não usamos buzina
mesmo!
Anos
depois da implantação das ditas faixas alguns motoristas relaxaram, passaram a
desobedecer o que estava instituído. Aí sim, houve campanha educativa, chamando
a atenção de todos, inclusive dos pedestres, que devem dar sinal com o braço e
esperar que o automóvel pare.
Portanto,
senhor Karnal, a lógica nem sempre prevalece.
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