Extraído do
livro Trópicos utópicos, de Eduardo Giannetti (Companhia das Letras,
2016, pág. 60):
“Quando Mahatma Gandhi desembarcou no porto de
Southampton, no sul da Inglaterra, em 1931, a fim de participar de uma
conferência sobre o futuro da Índia, um jornalista teria perguntado a ele: “O
que o senhor acha da civilização ocidental?”. E o líder indiano respondeu:
“Acho que seria uma boa ideia.”
O noticiário atual, principalmente da televisão, está
repleto dessas perguntas irreverentes (para dizer o mínimo), e os jornalistas
estão convencidos de que esta é a função deles: espicaçar, cutucar a onça com
vara curta, provocar o interrogado em busca de uma resposta violenta,
escandalosa, e isso vira imediatamente um furo jornalístico. Viraliza!
Se o inquirido é macaco velho, ele não cai na armadilha.
Mesmo um macaco velho pode cair na armadilha. Outro dia, perguntado sobre o que
achava de um certo assunto, um senador da república respondeu:
– O que interessa o que penso sobre isso?
Virou
notícia, pois o ódio estava implícito na resposta malcriada e estampado na face
do senador.
O diálogo entre a senadora e uma transeunte é outro bom
exemplo de pergunta complicada e resposta difícil:
– A senhora está preparada para ser presa?
– Quem vai ser presa é você.
– Eu?! Eu não roubei!
– Polícia, tira ela daqui...
Viralizou!
A resposta oferecida por Gandhi ao jornalista arrogante e
preconceituoso – embora a pergunta tenha sido elaborada num nível bem mais
elevado do que os questionamentos atuais – exprime bem a consciência plena que
ele possuía de seu lugar no mundo e o lugar de seu país. A consciência do
próprio valor. Ninguém poderia rebaixá-lo, nem a seu país, porque Gandhi
conhecia o significado e a extensão da palavra civilização. Trata-se do bom
emprego da fina ironia como resposta.
Ter consciência que cometeu atos ilícitos dificulta a
resposta adequada à pergunta impertinente. Ou se faz silêncio – o que muitas
vezes soa como uma confissão –, ou a resposta sai mascada, torta,
autoincriminatória, um desastre. E viraliza!
Nada como a consciência limpa.
Boa crônica. Só há uma coisa mais difícil que a resposta certa: a pergunta certa.
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