Com o título Seis coisas que você não deve dizer a uma
pessoa com câncer, a reportagem de Silvia C. Carpallo para El
País (10 NOV 2016) merece elogios, pelo seu
caráter educativo e alcance social. Em parte é reproduzido aqui, com alguns
comentários deste blogueiro, que já tratou do tema exaustivamente no Loucoporcachorros.
A
palavra câncer continua
assustando, a despeito de um grande esforço para que o assunto possa ser
tratado com mais naturalidade. Campanhas específicas e depoimentos de pessoas
conhecidas, falando abertamente sobre a doença e divulgados pela mídia, têm
ajudado.
O apoio psicológico é sempre bem-vindo,
especialmente quando parte do ambiente familiar e social. Todos estão dispostos
a ajudar, porém nem sempre da maneira mais adequada.
Eis algumas das frases que devem ser
evitadas diante da pessoa com câncer, segundo o artigo de Carpallo, e com as
quais concordo plenamente:
1.
“Não se preocupe, não vai acontecer
nada”.
A incerteza sobre a evolução da doença,
os efeitos colaterais dos tratamentos, tudo isso impede uma afirmação definitivamente
otimista. O paciente não vai acreditar em tais palavras e possivelmente ficará
irritado com elas. E frustrado, quando a evolução for desfavorável.
2. “Você tem que aceitar receber ajuda”.
“Frases do tipo: “Você tem que falar
com alguém”; “tem que desabafar”; “você tem que parar de trabalhar; “você tem
que pedir ajuda”; ou qualquer outra que comece com “você tem que...”, só geram
insegurança no paciente. A ajuda deve ser oferecida, não imposta.”
“Quando uma pessoa é diagnosticada com
câncer, não se transforma em outra pessoa, continua sendo ela, com sua
capacidade de pensar, de tomar decisões e saber o que quer e o que não quer
fazer”.
A expressão “tem que” nunca funciona. O
sermão nunca funciona.
3. "Se você for positivo, vai se
curar".
“Existe uma tendência muito enraizada de
pensar que a atitude que o paciente tenha durante a doença irá determinar o
progresso da mesma. Portanto, é muito normal que os pacientes ouçam frases
como: “Você tem que ser forte e lutar”; “você tem que ser positivo”; sua
atitude faz parte da cura”; “você vai ver como tudo vai correr bem, mas depende
de você”; “se estiver desanimado, a doença perceberá isso” etc. Tais
comentários geram uma enorme pressão sobre o paciente, que não consegue estar
sempre feliz e positivo, já que o “normal é ter medo, tristeza, raiva e
desesperança, de modo que a imposição do positivismo só gera um sentimento
adicional de culpa”.
Eu acrescento: com frequência o
“conselho” é acompanhado da palavra “energia”: você precisa ter energia
positiva! Não se sabe que energia é esta. Mais um desconhecimento, outra
incerteza, que apenas aumentam a angústia do paciente.
4. “É a pior coisa que poderia
acontecer com você”.
“Há pessoas que confundem drama com
empatia e pensam que o paciente se sente acompanhado e compreendido diante de
expressões como: “Que horror passar por isso”’; “é a pior coisa que poderia
acontecer com você”; “o câncer, já se sabe...”; “sua família deve estar
arrasada”.
Se o otimismo exagerado não ajuda, o
pessimismo alardeado também não.
5. “Não diga isso”.
Não se deve tentar impor ao outro o que
ele deve dizer, pensar ou sentir.
Expressões como “não chore, você tem
que ver a parte boa”; '”não diga isso, porque sua família tem de vê-lo bem; “você
tem que estar feliz, porque foi diagnosticado a tempo”, além de inúteis,
agravam a angústia do paciente, impedido de manifestar suas próprias emoções.
Respeite o outro.
6. “Aconteceu o mesmo com minha tia”.
“Comparar a situação do paciente com a
de outras pode ser muito contraproducente, uma vez que cada caso é
completamente diferente. O paciente sabe disso e não é capaz de se identificar
com outros casos.”
Cada um sente sua própria experiência
como um acontecimento único.
Uma boa orientação nesses casos é falar
menos e ouvir mais. A pessoa com câncer e angustiada precisa falar, muito mais
que ouvir. Além disso, ela é quem sabe de sua própria condição, e não aquele
que chega bem intencionado, porém despreparado para lidar com a situação.
Imagino que a sensação de solidão deve ser um fator significativo para a pessoa que passa por isso. Só ela sabe pelo que passa. Estar junto, sem querer dirigir, já é uma ajuda.
ResponderExcluirRealmente cada um vive sua experiência de maneira única e própria, talvez o melhor seja só emprestar um ouvido , por vezes é tudo que o outro necessita.
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