segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Certas imagens



            Certas cenas, melhor que não tivessem acontecido. Já que ocorreram, resta-nos encarar os fatos e lamentar.
            Estou a falar do recente encaminhamento do ex-governador do Rio de Janeiro à prisão, da resistência espalhafatosa que ele ofereceu ao ser posto numa ambulância, dos gritos histéricos da família, da força empregada por policiais e bombeiros na dramática operação. Constrangimento maior não poderia haver.
            “Teve o que mereceu”, dirão alguns. “Aqui se faz, aqui se paga”, dirão outros.
            Quanto ao mérito da prisão nem preciso comentar; não pertenço a nenhuma instituição julgadora. O que desejo analisar é apenas a cena em si e a exploração que dela se fez e ainda se faz, pelas mais diferentes mídias.
            Por que razão a população e as mesmas mídias pedem prisões mais dignas, mesmo em se tratando de criminosos terríveis? Por que há um forte movimento pregando a extinção dos zoológicos, onde frequentemente os animais são maltratados? O que todos desejamos é tratamento digno e humano em tais condições.
            A dignidade e o senso humanitário se perderam completamente na captação e repetida divulgação das referidas imagens envolvendo o ex-governador e sua família. Sem dúvida, há quem se delicie com elas. (O que também é humano: “antes ele do que eu”.) Mas isso é cruel e desumano, independentemente dos crimes cometidos.
            Além do que há uma boa dose de sadismo na repetição das grotescas imagens pelas mídias sociais.
            Mas é mesmo lenta a evolução do processo civilizatório.



            

Um comentário:

  1. Há quem diga que sadismo foi o que ele fez (faz?) no governo. Mas concordo: sadismo não justifica sadismo.

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